Esta era a segunda de quatro noites esgotadas de Capitão Fausto na Culturgest, em Lisboa, mas não era igual às outras, como fez questão de frisar Tomás Wallenstein. Era a noite original.
21h12 configura uma capicua e não sabemos se foi algo premeditado, mas podemos dizer que, a esta hora, arrancou a nau de Capitão Fausto, em direção à Subida Infinita, o mais recente registo da banda, editado no dia 15 de março e o último disco a contar com a participação do teclista Francisco Ferreira.
As primeiras milhas foram percorridas ao sabor do novo trabalho da formação lisboeta. “Subida Infinita”, o tema que lhe dá nome e uma bonita peça, ao estilo clássico, na verdadeira aceção musical da palavra, é a faixa que encerra a obra, mas foi a primeira que se fez ouvir. Daí a capicua, talvez. Seja como for, foi ao ritmo de ondas tranquilas que a banda entrou em palco, naquele seu estilo 80´s, indumentárias incluídas.
“Outra vez nesta sala”… É assim que começa “Muitas Mais Virão”, uma das canções recentemente forjadas pela mente criativa de Capitão Fausto. Foram estas as primeiras palavras a dançar na Culturgest, na noite de ontem. Seguir-se-iam “Andar à Solta” e “Há Sempre um Fardo”, não sem que, antes, Tomás Wallenstein nos oferecesse o desejo de uma “muito boa noite”. Depois, agradecimentos “às pessoas que compraram primeiro, (…) o escudo desta banda!”, já que este foi o primeiro dos quatro concertos agendados para Lisboa a ser anunciado, e a promessa de que, para além do novo registo, este espetáculo serviria para recordar músicas “semi-[an]tigas”.
Embarcámos n’A Invenção do Dia Claro, álbum de 2019, e escutámos “Faço as Vontades” e “Sempre Bem”, seguindo, a todo o vapor, para “Corazón”, não a ilha do Caribe, mas uma das músicas que integra o disco Capitão Fausto têm os Dias Contados, de 2016.
Entretanto, regresso a Subida Infinita: “Fantasia”, em jeito de interlúdio, e “Nada de Mal”, dedicada “ao querido Gastão [Reis]” e que fala da dificuldade em lidar com a ausência ou inexistência de alguém.
A viagem era um loop constante, entre passado e presente. Afinal, são já 15 os anos de carreira da banda.
Rumámos, novamente, a A Invenção do Dia Claro, com “Amor, a Nossa Vida” e com “Certeza”. Pelo meio, regresso ao presente, sob a “Nuvem Negra” e a “Cantiga Infinita”, e um agradecimento especial a Francisco Ferreira (ou Ferrari, como é conhecido) e ao “senhor Rigor e ao senhor Boémio”, respetivamente Miguel Marôco e Fernão Biu, que tiveram que aprender 20 músicas em apenas 3 semanas, de modo a poder integrar esta digressão de Capitão Fausto, juntamente com Tomás Wallenstein, Domingos Coimbra, Manuel Palha e Salvador Seabra.
“O concerto continua, mas a música está a chegar ao fim”, ouviu-se na reta final de “Na Na Nada”. O tema, curto de nascença, mas que se agigantou, através de solos consecutivos, serviu, precisamente, para que voltassem a surgir agradecimentos ao público presente, “os primeiros a acorrer [aos bilhetes], e para apresentar os músicos que nos conduziam nesta jornada musical.
Voltámos a 2016, ao sabor de “Morro na Praia” e “Amanhã tou Melhor”, sequência que terminou com uma grande ovação e todos de pé, do palco à plateia, como se o Capitão Fausto e os seus grumetes fossem, agora, um só corpo. E assim seguiram, juntos, numa pequena incursão pelo álbum Gazela, de 2011, e uma espécie de procissão, em honra de “Santa Ana”.
Poderíamos ter terminado a viagem com “Boa Memória”, mas ainda haveria espaço para o epílogo…
No regresso ao palco, um divertido apelo a que todos os presentes passassem pela zona do merchandising, um profundo agradecimento a quem esgotou o Auditório Emílio Rui Vilar, na Culturgest, e uma reflexão: “A nossa existência é dependente de gente que está a olhar para nós!”.
Depois, sim, o final. “Lentamente”. “Nunca Nada Muda” encerrou a noite, com Francisco Ferreira no palco. “Longa é a subida e não vai dar, com cada um para seu lado”, canta-se. Arriscamos dizer que dará.
A âncora caiu ao mar. Terminou a viagem.
Com o Capitão Fausto, podemos navegar à vista. Não nos iremos perder.



















