Alice Phoebe Lou subiu ao palco do Coliseu de Lisboa pouco depois das 22h00. Trazia um vestido preto, justo ao corpo, salpicado de brilhos que dançavam discretamente com a luz. O cabelo louro solto, caído nas costas, e a descontração das sapatilhas nos pés diziam tudo: vinha de gala, mas sem artifícios. Vinha pronta para dar, não para impressionar.
Disse que adorava tocar em Portugal. Cantou, tocou e falou como quem diz a verdade, e não porque está no guião. Agradeceu o calor da casa, a receção em Lisboa, a energia de uma plateia muito composta — não cheia até à porta, mas preenchida onde interessa. Na escuta. No silêncio que se fez quando se quis ouvir tudo.
Abriu com “Angel”, do mais recente álbum Shelter, editado em 2023, como quem abre uma janela para dentro de si. Depois vieram “Touch”, “Dusk” e “Shelter”. Em “Only When I”, largou a guitarra e entregou-se ao movimento. O corpo a dizer o que já tinha cantado. Os seus temas que são uma espécie de diários íntimos com melodia. A sua voz traz uma doçura que embala, mas também uma tristeza bonita, como a de quem já amou até doer e ainda assim voltou a tentar. Cada tema era um retrato: a calma da aceitação, a raiva que ainda dança, o amor que se perdeu mas deixou um cheiro.
“Open My Door” é um dos seus temas mais populares, também do álbum Shelter e proporcionou um dos primeiros momentos de dança da noite.
A dada altura ficou sozinha, sentou-se nas teclas e brindou-nos com dois temas seus. E ali ficámos todos, sem nos mexer, como se o simples gesto de escutá-la fosse já uma forma de amparo.
Mais à frente, soltou-nos com uma versão de “Harvest Moon”, de Neil Young, que cantámos como se fosse nossa desde sempre. E foi. Naquela noite foi.
A banda — guitarra, teclas, baixo e bateria — deu-lhe o chão firme, mas foi ela quem desenhou o caminho. “Glow”, “Velvet Mood”, “Silly”, “Child’s Play”, “Lose My Head”, “Witches”, “Dirty Mouth”… trouxeram um desfile de emoções, durante cerca de hora e meia, que se tornou cada vez mais dançável.
O palco era simples, quase despido. Nada de cenários exuberantes, projeções ou efeitos. Só a luz a iluminá-la, a pontuar os silêncios e a envolver os sons.
Antes de sair, prometeu voltar. Disse-o com aquele tom de quem cumpre. E nós acreditámos. Porque há concertos que não se veem. Sentem-se. E este foi um deles.
Cordelia: A Voz Que Abriu o Concerto
Antes de Alice Phoebe Lou subir ao palco, foi Cordelia quem deu início ao espetáculo, numa primeira parte que rapidamente conquistou o público lisboeta. Com uma presença serena mas segura, a artista britânica apresentou um conjunto de canções que, pela sua honestidade e subtileza, criaram uma ligação imediata com a plateia.
Sozinha em palco, Cordelia trouxe ao Coliseu o seu universo íntimo, feito de letras confessionais e melodias que flutuam entre o folk etéreo e o indie melancólico. Abriu o alinhamento com “Not So Sure”, tema que estabeleceu desde logo o tom delicado da atuação. Seguiram-se “Shades of Blue” e “Always a Boy”, músicas que, embora recentes, demonstram uma maturidade rara na escrita e na interpretação.
O momento alto da sua atuação chegou com “Little Life”, o seu mais conhecido tema. A canção, que fala sobre a alegria tranquila de aceitar as pequenas coisas da vida, foi recebida com um silêncio reverente e aplausos prolongados.
“Everything Hurts (I Love You)” e “I’m Sorry”, extraídas do seu recente álbum de estreia, trouxeram ao Coliseu uma intensidade emocional que surpreendeu pela crueza e vulnerabilidade. Apesar da juventude, Cordelia apresenta-se em palco como uma contadora de histórias experiente, que sabe medir cada palavra e cada silêncio. Entre músicas, falou com o público com humildade e genuína gratidão. Confessou a emoção de atuar em Lisboa e a satisfação de integrar a digressão europeia de Alice Phoebe Lou.
A atuação terminou com “Punch, Kick and Bite”, uma canção que resume bem o universo de Cordelia: uma luta interior cantada com doçura, dor transformada em beleza. Quando deixou o palco, fê-lo entre aplausos, deixando claro que esta jovem artista britânica ganhou novos admiradores em Portugal.




















