António Zambujo – D’Além Tejo E À Vara Larga, No Campo Pequeno

Por João Barroso (Texto) e Diana Silva (Fotos)

Depois de ter encantado a Super Bock Arena, no Porto, António Zambujo subiu ao palco do Campo Pequeno, em Lisboa, para a primeira de duas noites que prometiam a oportunidade única de percorrer o vasto repertório de um dos mais prolíficos cantautores portugueses da atualidade, sendo que a presença de convidados especiais serviria para apimentar, ainda mais, o serão lisboeta.

Quase uma dezena de minutos depois da hora marcada, António Zambujo e os seus compadres sobem ao palco. “Boa noite! Chegou quase tudo a horas…!”, graceja o cantor. Sem demora, a nossa viagem musical começa com “Guia”, canção que dá nome ao álbum lançado por Zambujo em 2010, uma espécie de mapa para os trilhos que iremos percorrer, ao longo das próximas duas horas.

“Obrigado!”, agradece Zambujo. “Bem-vindos!”. Seguimos em frente com “Sagitário”, música que convoca um silêncio ensurdecedor, e ficamos a ver uma suave brisa beijar o “Catavento da Sé”. Quando este pára de girar, o artista apresenta os músicos que o acompanham: José Miguel Conde, no clarinete, João Moreira, no trompete, Francisco Brito, no contrabaixo, André Santos, na guitarra, João Salcedo, no piano, e Bernardo Couto, na guitarra portuguesa.

“Muito obrigado a todos! Espero que gostem do concerto!”

“Leva-me de Mim” é o tema que se segue. Aos primeiros acordes, o público responde com palmas, cumprindo com as orientações do maestro Zambujo. Pelo meio, este ri-se e engasga-se, no início de um verso. “Cantar e bater palmas não é possível, para o meu nível de intelecto…”, confessa o cantor.

Escutamos a “Canção de Brazzaville”. Sonoridades mais quentes, que nos obrigam a procurar a fresca melancolia da “Casa Fechada”, canção que nos oferece um belo solo de guitarra portuguesa. “Nesta música, há um verso que fala de uma janela. Foi escrito pelo João Monge, para um disco chamado Quinto. Houve um jornalista que disse que o Monge escrevia à janela. É o que parece!”, medita António Zambujo.

Ouvimos o “Apelo”, em silêncio, assinamos a “Readers Digest” e somos apanhados em “Flagrante”, “de calças na mão”, tema cujos versos arrancam várias gargalhadas à audiência.

Entretanto, “Algo Estranho Acontece”. “O primeiro beijo e a luz da lua”… E, por falar no astro de Ártemis, a próxima música é-lhe dedicada: “Chama-se Lua e é do último disco, Cidade.”, anuncia o cantor. A voz de Zambujo e o piano de Salcedo envolvem-se, numa erótica alquimia, proporcionando um dos momentos mais belos da noite. “Não há nada mais bonito que isto!”, diz, referindo-se à forma como o público abraça cada melodia.

Entra em cena o “Zorro”, “de espada e capote”. “Cantem comigo!”, escutamos. E obedecemos ao apelo. Depois da “Visita de Estudo”, chega a hora dos primeiros convidados. “Conheci-os por acaso, numa noite, no Fado ao Carmo.”, conta-nos António Zambujo. “Ficámos numa mesa, a cantar e a tocar…” Quero apresentar-vos o Afonso Albuquerque, a Malena e o João Kopke!”

Ouvimos “Recuerdos de Ypacaraí”, ainda com o nosso anfitrião. Na sequência, apenas os três convidados ficam em palco.

“Somos três, mas somos dois duos”, explica-nos Afonso Albuquerque. “Faço música com a Malena, mas também com o João. É mais económico usar o mesmo guitarrista!”, brinca. Malena chega-se à frente e apresenta-nos o tema com que iremos ficar: “Escrevi esta música para a minha avó e dedico-a a todas as avós! Chama-se “Calma”.”.

A seguir, é João Kopke quem toma a palavra. “Moramos todos no mesmo prédio, tal como o João Pires, que escreveu esta, que vou cantar com o Afonso.”. E somos atingidos pelo “Vento Norte”.

António Zambujo regressa ao palco e pergunta se foi bonito. “Quem traz convidados espetaculares?”, questiona, sorrindo. Na sequência, embarca na “Madera de Deriva”, “a la merced de la resaca del rio”, canção à qual se junta o auditório, incentivado pelos músicos, com o instrumento que tem mais à mão. Palmas.

Chega o “Pica do 7”, mas todos temos bilhete. Provocando gargalhada geral, os primeiros versos, quiçá inéditos, são cantados (e bem!) por João Salcedo, numa mistura de inglês e espanhol. No final da música, uma das mais populares, o aplauso é esmagador. Quando regressa a calma, Zambujo reflecte: “É a segunda vez que toco aqui… Fico sempre a pensar que vai sair uma vaca dos curros!”

Segue-se mais uma convidada. Teresinha Landeiro. Mas não vem só. Traz “Aurora”, tema composto em colaboração com António Zambujo. “Cantar com o António é giro! Estamos sempre a rir e, claro, enganamo-nos na letra…”, diz a fadista. “Agora, vamos tocar-vos um fado-tango.”, anuncia. E ficamos com “O Tempo”, mesmo que este corresse depressa. “Ah, fadista!”, grita-se, no final, nas entrelinhas de uma enorme ovação.

É hora do “Sinal da Cruz”, mesmo que não estivéssemos numa “pequena capelinha”, e escutamos Zambujo dizer “Nem às Paredes Confesso”, clássico de Artur Ribeiro, celebrizado por Amália Rodrigues, que, obviamente, é cantado a uma só voz. Depois, ficamos “Sem Palavras” e com os agradecimentos do nosso cicerone, referindo-se à performance vocal da plateia: “Obrigado! Estiveram muito bem!”.

Perto do final, encontramo-nos “No Rancho Fundo”, clássico do cancioneiro brasileiro, e recebemos um convite, enquanto António Zambujo exalta a bola de espelhos que sobrevoa o sala: “Dancemos um Slow”. Finda a dança, os artistas abandonam o palco, mas o estrondoso aplauso que se faz ouvir, com o Campo Pequeno de pé, obriga a um encore, mesmo que este não estivesse previsto.

Zambujo e os seus companheiros de jornada regressam ao seu lugar, sob as luzes da ribalta, e abrem-nos a porta do “Lote B”. O público acompanha a canção, com as lanternas dos telefones ligadas e cantando, mesmo que timidamente.

“Vocês são muito queridos. Sinto-me sempre mimado!”, agradece o cantautor. “Vamos mimar os nossos convidados, também!”, desafia, chamando, de seguida, Malena, Afonso Albuquerque, João Kopke e Teresinha Landeiro. Juntos, cantam “Se Algum Dia Me Pedires”, uma ode ao amor e ao Alentejo, e “Menina Estás à Janela”, obra de Vitorino Salomé, também ele, tal como António Zambujo, embaixador das terras que estão para além do Tejo.

O epílogo surge com a “Menina à Janela” e com o Campo Pequeno transformado num enorme coro, afinado e apaixonado. A capella. Quando cai o pano, o perfume do Alentejo e o timbre da guitarra portuguesa ainda pairam no ar, assim como a voz de António Zambujo ecoa nos nossos corações.

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