Aula Magna Cede À Doce Melancolia Dos Tindersticks

Reportagem de João Barroso (Texto) e Diana Silva (Fotografia)

Tindersticks

Os Tindersticks surgiram em 1991, na célebre cidade de Nottingham, sita no coração da Velha Albion, e, ao longo das mais de três décadas que nos conduziram até esta noite, tornaram-se numa banda de culto. Daquelas que não caem no esquecimento de todos aqueles a quem a sua música tocou, um dia.

Mestres do Chamber Pop, um dos mais desconhecidos subgéneros do Rock, os britânicos construíram uma carreira sólida, contando com uma vasta discografia, incluindo o mais recente registo, o décimo-quarto, editado em setembro: chama-se Soft Tissue e foi o pretexto para esta tour que percorre a Europa e cujo ponto de partida foi a bela cidade de Praga, à beira-Vltava plantada. Daí, ao conjunto trilhou o caminho que o trouxe a Lisboa, a uma sala que tanto lhe diz, passando por Covilhã, Leiria, Aveiro e Porto, sendo que a jornada terminará no final de novembro, em Brest.

Curiosamente, os anos 90 e a primeira década deste século, que representam a juventude e a adolescência dos Tindersticks, foram deixados de fora do alinhamento.

“This is How He Entered”. São estas as primeiras palavras de Stuart Staples, não cantadas, mas faladas, de forma subtil e sobre a melodia que paira no ar, que esta música, retirada do álbum The Waiting Room, de 2016, não é mais do que a declamação de um poema.

Entretanto, recuamos no tempo, até 2012, e escutamos “A Night so Still”. No fundo, é aquilo que sentimos. Uma noite tranquila, na sequência de um dia caótico, imerso no bulício do quotidiano. Depois, Staples pega na guitarra e junta-se à banda, para cantar sobre árvores que caem. “Trees Fall”, tema retirado do disco No Treasures for Hope, de 2019.

É hora da primeira incursão pelo mais recente trabalho dos Tindersticks, o Soft Tissue. Juntos, vemos a luz cair sobre nós. “Falling, the Light”. E, enternecidos, ouvimos Stuart Staples implorar pela atenção da sua “Nancy”.

Seguem-se “Second Chance Man” e “Lady with the Braid”, um original da cantora e compositora norte-americana Dory Previn, que inclui belos solos de cada um dos instrumentos em palco. Como se disso precisássemos, para notar a sua presença…

O silêncio impera e é apenas rasgado pela doce melancolia das notas que se evaporam na atmosfera, pela voz do frontman e pelos aplausos pontuais do público, no final de cada tema.

De repente, embarcamos numa viagem espacial, ao som de “Willow”, música composta por Staples, para a banda sonora do filme High Life, que conta a história de um grupo de prisioneiros, condenados à morte, enviado para o espaço, de modo a extrair uma espécie de energia alternativa, de um buraco negro. E é no espaço que nos sentimos, de mão dada com o pequeno Willow. Depois, descemos à Terra e ficamos com “The Bough Bends” e “Medicine”, uma das mais aclamadas pelo público, e regressamos ao presente, para escutar mais uma sequência de canções que compõem o Soft Tissue: a muito aplaudida “Always a Stranger”, “The Secret of Breathing”, “Turning Back” e “Don’t Walk, Run”, sendo que as duas últimas vêm acompanhadas de um belo tempero funky.

A noite avança. Talvez por isso os Tindersticks nos ofereçam “Slippin’ Shoes”, mas sono é algo que não há, no auditório da Aula Magna.

“Thank you!”, agradece Stuart Staples, quando se dirige, pela primeira vez, à plateia. “It’s great to be back in this room!”, continua, referindo-se à ligação especial que tem com a sala lisboeta, local onde a banda britânica, na viragem do século, deu um dos seus mais memoráveis concertos. “This will be the last song for tonight”, anuncia, ainda que de forma pouco convincente. E ficamos a conhecer o “New World”, mais uma canção retirada do último trabalho do conjunto de Nottingham. O seu novo mundo. Quando os instrumentos se calam, o público levanta-se. Depois de 90 minutos em silêncio, embevecido, já não pode conter o aplauso, a alegria e a apoteose. “Thank you!”, retribui Staples, “Good Night!”.

Ainda não é tudo…

Estamos perto da meia-noite, mas é “Stars at Noon” que se ouve e faz as delícias do auditório. Mais uma música retirada de uma banda sonora. Esta, também podia ser a nossa…

O epílogo chega ao sabor de No Treasure but Hope, álbum de 2019. Primeiro, o horizonte fica rosa. “Pinky in the Daylight”. Por fim, uma ode a todos aqueles que, na audiência, cantam, a uma só voz, mesmo que num sussurro, e que, de alguma forma e ao longo do seu caminho, foram aderindo à bela melancolia das canções de Tindersticks. “For the Beauty”.

Fazendo jus à memória do seu mítico e emérito concidadão, Robin Hood, os Tindersticks roubaram a tristeza a quem dela padecia e ofereceram uma noite mágica, farta em sorrisos, a quem mais deles precisava...

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