Beatriz Batarda leva Shakespeare ao Teatro S.Luiz

as_you_like_itdtkReportagem de Tânia Fernandes e António Silva

 

ROSALINDA: O amor não passa de uma loucura, e eu digo-te, os que sofrem disso merecem um asilo lunático tanto quanto os loucos. E a razão pela qual não são de facto internados é porque a insanidade é tão corrente que até os próprios enfermeiros são atormentados por ela. Aconselho o aconselhamento.

Como queiram de William Shakespeare estreia dia 14 de janeiro* no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, onde fica em cena até ao dia 26 de janeiro. A peça segue depois em digressão pelo país e tem espetáculos já agendados para Viseu, Porto, Guimarães e Braga.

Trata-se de uma comédia de enganos, com todas as peripécias habituais em Shakespeare como o amor à primeira vista, o jogo de troca de identidades e de géneros, dando azo a vários equívocos e confusões. Supõe-se que tenha sido escrita entre 1599 e 1600, mas Beatriz Batarda faz deste Como queiram uma peça contemporânea. Pega na tradução de Daniel Jonas, cujo texto é respeitado e entrega-o aos atores que transportam estes personagens para os nossos dias. A linguagem é a original, do Shakespeare que causa calafrios a quem atravessou a cadeira de literatura inglesa sem grande convicção, mas a forma como é interpretada, dá vontade de ir soprar o pó aos livros. Os versos foram mantidos em forma de pentâmetro, a composição que mais se aproxima do batimento cardíaco, empolando desta forma a emoção e realçando o conteúdo. Os trejeitos, a crítica social implícita, as intrigas não poderiam ser mais atuais. Há pares em busca de um amor romântico, irmãos que sucumbem ao ódio na disputa de bens e jovens que procuram a segurança de uma nova vida. E há delírio, tanto delírio quanto possível, quando se depara com um elenco que alinha Bruno Nogueira, Carla Maciel, Leonor Salgueiro, Luísa Cruz, Marco Martins, Nuno Lopes, Romeu Costa, Rui Mendes, Sara Carinhas e Sérgio Praia no mesmo palco. Eles tocam e atuam com grande profissionalismo e percebe-se que, acima de tudo, se divertem com o que fazem. Há um estreante na função, mas veterano na arte. O encenador e cineasta Marco Martins que aceitou este desafio de corpo e alma “Não tendo formação de intérprete, a experiencia tem sido fantástica. Mais prazer do que tensão!” referiu o Marco Martins, à imprensa, no final do ensaio. O gosto pelo risco, por sair da zona de conforto na qual capitulam sucessos foi também referido por Bruno Nogueira como razão para aceitar este desafio “Este é um projeto muito egoísta, porque antes de mais, serve para me agradar a mim” refere o ator. Jaques, o personagem que interpreta, é um pensador que não age e um melancólico cuja única paixão é o pensamento. “O meu personagem tem muitos polos opostos ao que eu sou. O que torna o desafio muito mais interessante do que se me fosse colado à pele” refere.
O cenário é simples, monocromático e aberto. Propositadamente sem pano de fundo, assistimos a atores que estão a atuar enquanto outros assistem como meros espetadores.

O projeto de encenar Shakespeare acompanhava Beatriz Batarda há alguns anos. “Este texto é muito tentador” partilhou a encenadora. “Interessou-me nesta peça a ideia de renascer. Fala de uma sociedade em mudança. As pessoas abandonam uma estrutura que estoira e já não lhes serve, neste caso a Corte, e vão para a Floresta. É lá que encontram os verdadeiros motivos para viver e razões para organizar uma nova forma de vida”. Beatriz Batarda fala ainda deste espetáculo, despido de cenários elaborados, como reação ao espetáculo pela imagem. “Este é um grupo que tenta recuperar ideias e criar um diálogo de forma a ficar mais próximo do espetador”.

Prepare-se para três horas de puro Shakespeare, em que tanto ouve profundas divagações sobre o amor, a melancolia ou o tempo como uma hilariante interpretação de “Oliveirinha da Serra”.

Como queiram (As you like it) é uma produção da Arena Ensemble e pode ser vista no Teatro Municipal São Luiz entre 14 e 26 de janeiro, de terça-feira a sábado às 21h00 e aos domingos às 17h30. Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e custam entre 12 e 15 euros (descontos para jovens, sérios e grupos, entre outros). A peça passa depois pelo Teatro Viriato em Viseu a 7 de fevereiro, pelo teatro Carlos Alberto no Porto entre 14 e 23 de fevereiro, pelo Centro Cultural Vila Flor em Guimarães a 1 de março e pelo Theatro Circo em Braga a 7 de março.

*nota da produção: Por motivo de saúde de um dos membros do elenco, a estreia de Como Queiram foi adiada para o dia 14 de Janeiro, terça- feira. Para devolução ou troca de bilhetes é favor contactar a bilheteira.

 

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