No último dia de festival pudemos finalmente celebrar a Primavera e os diferentes géneros musicais que compõe o cartaz. Blur e New Order foram os nomes grandes da noite, a proporcionar uma viagem de nostalgia.
Finalmente, sem a ameaça de chuva no horizonte, foi possível desfrutar do espaço verde do recinto e estender a manta nas colinas para apreciar a música.
A tarde começou quente e a conquistar decibéis com a energia dos Pup, banda composta por Stefan Babcock (vocal e guitarra), Steve Sladkowski (guitarra), Nestor Chumak (baixo) e Zack Mykula (bateria). Combinam elementos do punk rock, rock alternativo e indie. As suas influências musicais variam desde clássicos do punk como Ramones e Sex Pistols até bandas mais contemporâneas, como Weezer e Titus Andronicus. São naturais de Toronto, Canadá e apresentaram, “Reservoir”, “Scorpion Hill” e “Waiting”, entre outros.
Seguimos para o palco principal, onde os Yard Act arrancaram em força. Formado em 2019, Leeds, no Reino Unido, o grupo vai além da superfície musical. A banda mergulha em temas sociais, políticos e culturais e traz uma reflexão perspicaz sobre a sociedade contemporânea. Envolvem-na numa mistura de riffs de guitarra com linhas de baixo dominantes. “Pour Another”, “The Overload” e “100% Endurance” foram alguns dos temas que apresentaram.
Uma das características distintas do Primavera Sound Porto é a diversidade do cartaz. Assim, neste início de tarde, pudemos usufruir de um espetáculo brilhante e único de flamenco conduzido por Israel Fernández e Diego del Morao. Israel Fernández, nascido em Getafe, Espanha, é conhecido pela sua voz poderosa e expressiva. Começou a sua carreira como cantor, aos 9 anos de idade. Com uma técnica vocal impecável e uma interpretação profunda, Israel transmite a essência do flamenco puro nas suas apresentações. Neste final de tarde, no parque da Cidade do Porto conseguimos captar uma ampla gama de emoções, desde a melancolia até à paixão intensa.
Neste concerto excecional, no Primavera Sound Porto, a Israel Fernández juntou-se Diego del Morao, um dos maiores guitarristas do flamenco contemporâneo. Diego del Morao, nasceu em Jerez de la Frontera, Espanha e traz herança musical. É filho do guitarrista Moraíto Chico e sobrinho do guitarrista Diego del Gastor. Israel Fernández e Diego del Morao apresentam um repertório que abrangeu desde os cantes mais tradicionais até as criações mais inovadoras do flamenco atual. O público vibrou com a autenticidade da apresentação.
Depois das 19h30, começámos a ter de gerir opções. Atuavam, em simultâneo, no Primavera Sound Porto, os Sparks (o dueto rock americano formado em 1970 pelos irmãos Ron – teclas – e Russell Mael – voz) e Nation of Language (banda americana de indie pop formada em Brooklyn, Nova York, em 2016). Optámos pelos segundos e percebemos que tínhamos feito uma excelente escolha ao darmos de caras com uma banda que consegue capturar a essência de décadas passadas e ao mesmo tempo que criar um som único e contemporâneo. Combinam elementos da new wave dos anos 80 com uma abordagem fresca e experimental. A ocupar o palco super bock, o mais recôndito do festival, conseguiram atrair um mar de gente que ocupou todo o anfiteatro natural para ver a atuação de Ian Richard Devaney (voz e guitarra), Aidan Noell (sintetizador e voz) e Alex MacKay (guitarra baixo).
Têm um novo álbum, o terceiro, anunciado para o último trimestre do ano. Já avançaram com os temas “Stumbling Still”, “Weak in Your Light” e “Sole Obsession”. O que mais alto se cantou, no Primavera Sound Porto foram os temas “Weak In Your Light “, “On Division St” e “Across That Fine Line”. Deixaram-nos com vontade de assistir a uma atuação em nome próprio.
Ao palco do lado subiram, de seguida, os Karate, banda norte americana de indie rock, com algumas influências de jazz e pós-rock. A banda foi formada em Boston, Massachusetts, em 1993, por Geoff Farina, Eamonn Vitt e Gavin McCarthy. Em 1995, Jeff Goddard aderiu à banda como baixista, e Vitt tornou-se segunda guitarra.
Sean Lee Bowie, mais conhecido pelo nome artístico de Yves Tumor, é um músico e produtor de música experimental americano, nascido em Miami, Flórida e atualmente radicado em Turim, Itália. Subiu ao palco Super Bock depois das 22h00. No mundo da música experimental e da vanguarda sonora, poucos artistas têm causado tanto impacto quanto Yves Tumor. Apresenta uma abordagem inovadora, que transcende géneros e rompe barreiras musicais. Um concerto que foi uma verdadeira experiência multissensorial, a combinar música com projeções visuais e performance teatral.
De volta ao outro lado do recinto, deparámo-nos com um ambiente incendiário, no palco Plenitude com os norte-americanos OFF! Composta por membros icónicos da cena punk, a banda traz uma energia incendiária e uma atitude implacável em suas músicas. Keith Morris , o vocalista, é conhecido por ser um dos membros fundadores de Black Flag e Circle Jerks. Contam, atualmente, com Dimitri Coats (guitarra), Autry Fulbright II (baixo) e Justin Brown (bateria). Uniram-se com o objetivo de trazer de volta a energia crua do punk hardcore dos anos 80 e fizeram-se ouvir no Primavera Sound Porto.
A esta hora, a colina em frente ao palco Vodafone tornava-se pequena para receber os fãs dos New Order, a banda britânica formada em 1980, na sequência da dissolução do grupo pós-punk Joy Division.
Bernard Sumner, Stephen Morris, Gillian Gilbert, Phil Cunningham, Tom Chapman formam atualmente a banda, em rota de colisão com Peter Hook. Asseguram a continuidade do legado de um registo inicialmente sombrio e melancólico, mas que evoluiu para uma cena dançante emergente, ao incorporar elementos eletrónicos.
Quando todos estavam a celebrar momentos altos da carreira da banda e depois de vibrar em êxitos como “Your Silent Face”, “Sub-culture” e “Bizarre Love Triangle”, a música foi de forma inesperada abaixo. O “apagão” deu-se quando “True Faith” ganhava embalo. Tentaram retomar mais uma vez, mas o concerto acabou por ficar condenado por estas quebras. Chegaram mesmo a acender as luzes, grande parte das pessoas seguiram de ombros encolhidos para o outro palco onde estavam prestes a atuar os Blur.
Bernard Sumner ainda voltou, com um sincero pedido de desculpas, e rematou o concerto com “Blue Monday”, “Temptation” e “Love Will Tear Us Apart”. Mais eletrónicos do que nunca, teriam dado um concerto memorável, mas já não foi possível recuperar a euforia inicial.
A grande festa desta última noite de Primavera Sound Porto fez-se com a britpop britânica dos Blur. Damon Albarn, Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree trouxeram uma boa dose de entretenimento, distribuída por 20 temas já bem conhecidos do público. O repertório dos Blur é rico em letras que abordam diferentes aspetos da vida contemporânea. Tocaram “Girls & Boys” e “Parklife”, em que retratam a cultura britânica com humor e ironia, “Coffee & TV” sobre a solidão, alienação e a procura por um significado de vida.
Damon Albarn destaca-se pela sua presença carismática em palco e conseguiu estender a animação ao longo do concerto. Aos 55 anos, mantém-se em forma e com espírito! Para o final deixaram a grande balada “Tender” e fecharam com “The Universal”, a canção lançada em 1995, que aborda temas como a ilusão e a superficialidade presentes na indústria do entretenimento. Aspetos da cultura popular e da sociedade moderna que se mantêm tão atuais. E todos saíram a cantar “Yes it really, really, really could happen/ When the days they seem to fall through you/ Well, just let them go”.
De acordo com a organização, esta foi a edição do Primavera Sound Porto mais procurada de sempre com a participação de 140 mil pessoas. 40% da audiência do festival é público estrangeiro. Totalizaram mais de 75 atuações, divididas por cinco palcos, que fizeram ecoar no Parque da Cidade uma grande diversidade de géneros musicais, como temos vindo a dar conta aqui no CH Magazine.
A próxima edição do festival já tem data marcada para os dias 7, 8 e 9 de junho de 2024. Estende-se, pela primeira vez, a um domingo, beneficiando do feriado, que calha na segunda feira.
Recorde os anteriores dias de Festival Primavera Sound Porto 2023
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Primavera Sound Porto – Entre O Punk Rock De Bad Religion E O Flamenco Eletrónico de Rosalía
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