
Reportagem de Raquel Vaz (texto) e Tânia Fernandes (fotografia)
O último dia do Caparica Primavera Surf Fest prometia ser de grande festa. Tendo como protagonista da noite Carlão, um “filho” da margem sul, era expectável que o público afluísse em massa, para apoiar aquele que é um dos expoentes máximos da música portuguesa. E, de facto, assim foi. As diferenças face aos dias anteriores eram visíveis ainda antes de entrarmos no recinto. Cá fora, o público aguardava ordeiro, em filas, pela sua vez de entrar. Talvez por isso, os concertos tenham iniciado com ligeiro atraso, ao som dos Orelha Negra.
Durante cerca de uma hora, o quinteto, constituído por Sam the Kid, Fred Ferreira, DJ Cruzfader, Francisco Rebelo e João Gomes, tocou, de forma irrepreensível, alguns dos seus temas mais conhecidos, como “Throwback”, “M.I.R.I.A.M” e “Cura”.
O público foi reagindo e dançando, mas aparentava querer, de forma sensata, reservar as suas energias para o protagonista da noite.
Carlão surge, já perto das 24h00, com um caloroso: “Como é, família? Margem Sul!” O público reage logo de forma efusiva, acordando de um marasmo que, devido ao adiantado da hora, parecia querer instalar-se.
O concerto começa ao som de “Na batalha”, o tema que já passa nas rádios e que dá nome ao EP editado recentemente, seguindo-se “Entre o céu e a terra” e “Não esperes por mim”. Carlão desabafa: “Já não tocava há mês e meio. Já estava com saudades!”
E nós não estranhamos que tivesse saudades, pois é óbvia a satisfação e o à vontade com que atua. Além do mais, está a “jogar em casa”. Por um lado, canta para uma plateia onde reconhece amigos de longa data. Por outro, toca com músicos que o acompanham “há mais anos do que gostaria de admitir”, como constataria relativamente a Nuno Espirito Santo.
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Posto isto, o que se previa ser um concerto de Carlão, caracterizou-se por ser uma verdadeira festa entre amigos.
O público retribuiu à altura, cantando em “voz alta e bom som” alguns dos refrões mais conhecidos, como no caso de “Os Tais”, iluminando o ambiente com as luzes dos telemóveis, ensaiando danças com os braços no ar ou mesmo pulando com alegria ao ritmo das músicas com batida mais forte. Mas Carlão também não dá descanso e ao bom jeito de “miúdo traquina”, brinca e provoca o público, arrancando sorrisos de orelha a orelha e gargalhadas em vários momentos ao longo do espetáculo.
Assim aconteceu quando, com muita graça, introduziu algumas das músicas, como“Krioula” (em que brincou com a sua amiga Denise, que estava presente no meio do público, e lhe perguntou se tinha vindo de “cabelo liso ou carapinha”), e, naquele que viria a ser o momento hilariante da noite, “colarinho branco” (em quando desafiou o público a responder com a palavra que quisesse à medida queia dizendo nomes de políticos famosos. Como será de prever, as respostas do público não foram abonatórias…).
Pelo meio houve tempo para dar a conhecer as músicas do novo EP, como “Harcore”, produzida por Moullinex, e “Uma vez é demais”, e ainda um medley de “Chegou a hora/vício”, do anterior projeto de Carlão denominado 5:30.
Já no encore surgiria o momento mais emotivo da noite, quando Carlão interpreta “Toque, toque” e “Mundos mudos”, evocando os saudosos Da Weasel. Aqui, em jeito de confissão, debafafa: ”Perguntam-me muitas vezes porque é que os Da Weasel acabaram. E eu digo que os Da Weasel não acabaram. Estão cá dentro”, ao mesmo tempo que aponta para o coração.
O concerto terminou, mais uma vez, em jeito de festa, com “Os Tais” (remix), com o público completamente rendido e de alma cheia pela forma como escolheu passar a noite Pascal.



















