Chris Isaak: A Wicked Night No Campo Pequeno

Reportagem de Diana Silva (Fotos) e João Barroso (Texto)

Chris Isaak

As coordenadas geográficas diziam que nos encontrávamos no Campo Pequeno, em Lisboa, mas o calor que se fazia sentir fazia crer que estávamos num deserto da Califórnia, estado norte-americano de onde é originário Chris Isaak, o homem por quem todos esperavam. Ao longo de cerca de quatro décadas de carreira, o artista editou 13 álbuns, que lhe valeram inúmeros prémios e a nomeação para dois Grammy Awards, notabilizando-se pelo seu amplo alcance vocal e pela natureza rockabilly do seu som, inspirado pelas raízes da música americana e do rock’n’roll.

Eram 21h40 quando Isaak e os Silvertone, a sua banda de sempre, subiram ao palco.
A viagem musical começa ao som de “American Boy”, o que poderia ser uma metáfora para a figura que se apresentava perante nós, seguindo-se, de imediato, “Somebody’s Crying”.

Thank you so much for coming out and supporting live music“, agradece Isaak. Afinal, segundo diz, sem o apoio e o interesse dos fãs, ele e os elementos que o acompanham estariam desempregados. Depois, uma primeira nota sobre o fato que usa, sinónimo de “professional entertainment”, e uma referência a Lisboa, cidade onde chegaram na noite anterior: “It’s a Magical Place!“.

Continuamos com “Here I Stand”, mas Isaak não consegue “ficar” por muito tempo. Desce à plateia, desfila pelas filas de cadeiras, chegando a sentar-se ao colo de uma espectadora. “Is he smiling?”, pergunta, apontando para o companheiro da senhora. Sobe à bancada e já estamos a ouvir outra música. “I think I’m staying here“, informa, antes de se referir a Amália Rodrigues e ao Fado.

Entretanto, canta “Don’t Leave Me on My Own”, enquanto regressa ao palco. Mas não está sozinho. É notório que o público o abraça desde o primeiro momento e muitas são as pessoas que se levantam e aproximam do palco, tirando fotografias e esperando por um cumprimento do cantor.

I was scared, backstage…“, confessa, ao mesmo tempo que pega na guitarra. Fala do medo que é enfrentar uma sala cheia, todas as noites, mesmo que tenha o seu fato e uma banda que toca consigo há 40 anos. Afinal, nunca se sabe como reagirá o público. Este, porém, está com Chris Isaak. O norte-americano é um verdadeiro entertainer e as histórias não param de vir à tona.

Durante o soundcheck, um bombeiro perguntou-me se íamos tocar o que estávamos a ensaiar. Perguntei porquê…se não seria seguro…e ele disse que era apenas uma música má!“. A chuva é de gargalhadas, agora, aumentando ainda mais de intensidade, quando ouvimos que guitarrista e baixista andavam a preparar uma coreografia que, curiosamente, estaria no ponto em Lisboa, precisamente. E é essa divertida dança a que assistimos, enquanto ouvimos ‘Put Out Your Hand’.

É hora de “Wicked Game”, um dos mais populares temas de Chris Isaak e tantas vezes usado por bandas de gerações mais jovens. Aos primeiros acordes, a enorme ovação que se escuta não deixa enganar: esta é uma das canções mais aguardadas da noite.

Seguimos com “Go Walking Down There”, que integra mais uma coreografia. Já ninguém está sentado. Na sequência, a inesquecível “Pretty Woman”, um original de Roy Orbison, até que desaguamos em nova pausa, para respirar.

Antes de tocar “Forever Blue”, Isaak fala-nos do encontro que teve com o trompetista e cantor Chet Baker e que o terá inspirado a escrever a música em questão. “If you like sad songs, you came to the right place.”, diz. E não está enganado. Ouvimos “Blue Spanish Sky” e “Baby What You Want Me to Do”, sendo que o início desta é interrompido, de forma abrupta: “Stop! This song is bringing me down…”. O público ri. Apesar da tristeza latente nas notas, a noite é de alegria e de espetáculo: “Podem tirar fotos à vontade, que eu trouxe o fato para isso!”.

Durante a performance de “Take My Heart”, o som falha e Chris Isaak suspeita de que “there’s a ghost of a bull in this place!”. Mais gargalhadas. Segue-se ‘Dancin”. Literalmente. Há gente a dançar, um pouco por toda a parte. Já não se distingue onde acaba o palco e começa a plateia. “Vocês dançam bem!“.

Antes de ser músico, trabalhei em quintas e consertava telhados.“, conta. “O pessoal perguntava porque é que eu usava este fato…”. O homem não se cansa de nos entreter e nós adoramos. Porém, a próxima é mais séria: Isaak pede-nos que abracemos alguém de quem gostamos e soa “Can’t Stop Falling in Love”, de Elvis Presley. A seguir, “Blue Hotel”, um dos mais icónicos temas saídos da mente criativa de Chris Isaak, e “Notice the Ring”. A noite avança, mas não damos pelo passar do tempo. Escutamos “San Francisco Days” e “Big Wide Wonderful World”, momento em que um casal, que tirava uma selfie, junto ao palco, é surpreendido pelo cantor.

Sem que disso tenhamos noção, chega o encore. “Baby Did a Bad a Bad Thing” dá o mote para que várias pessoas subam ao palco e bailem, sob as luzes da ribalta, sendo que a canção é entrecortada por passagens de “James Bond Theme” e “Bye Bye Baby”, mas ainda não é hora do adeus: “Live it Up” e “The Way Things Really Are” fecham a loja.

Thank you so much! God bless… I am Chris Isaak.“. Como se não soubéssemos.

Numa noite de calor intenso, ainda que longe da Califórnia, Blues, Country e Rock’n’Roll foram o refresco ideal. O tempo correu, mas não demos por ele.

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