Corteo: O Sonho Poético Do Cirque Du Soleil Voltou A Lisboa

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Corteo
Corteo - Cirque du Soleil

Corteo, o espetáculo encantado do Cirque du Soleil, regressou a Lisboa quase vinte anos depois da sua estreia mundial. Com nova energia e ainda mais emoção, a produção pode ser vista na MEO Arena até 20 de abril.

Na noite de estreia, o público riu, emocionou-se, prendeu a respiração e aplaudiu de pé, rendido à magia do circo mais célebre do mundo. Corteo é uma celebração da vida mascarada de cortejo fúnebre — mas que ninguém se deixe enganar pelo tema. Aqui, a morte serve apenas de ponto de partida para um espetáculo poético, onde o humor, a delicadeza e o sonho se entrelaçam num ambiente de festa contínua.

Criado por Daniele Finzi Pasca, Corteo — palavra italiana que significa “cortejo” — desenrola-se no imaginário de Mauro, um palhaço que sonha com o seu próprio funeral, celebrado num ambiente carnavalesco, com anjos, equilibristas e malabaristas a acompanhar a sua partida. O resultado é um espetáculo comovente e profundamente humano. Combina a arte circense com a poesia e o teatro.

Ao contrário de outras produções do Cirque du Soleil, Corteo aposta numa narrativa emocional, reforçada por uma cenografia mundana, figurinos de época e música tocada ao vivo. E é aí que reside a magia: os músicos não seguem apenas os artistas — eles reagem ao que acontece em palco, o que cria uma dinâmica orgânica. Como nos explicou Alexandra Gaillard, a Relações Públicas da companhia “os acrobatas seguem a música, mas os músicos seguem o que acontece no palco”.

Visitámos os bastidores, horas antes da estreia. Faziam-se as últimas marcações em palco. Apreciámos o rigor do ensaio geral dos acrobatas aéreos Hitomi Kinokuniya e Kunytskyi Oleksandr a desafiar a gravidade nos straps; Roman Munin a mostrar-nos as improváveis funcionalidades de um escadote; e ainda o talento de Halyna Zaporozhets na barra suspensa, na forma fluida como consegue adaptar os seus movimentos ao balanço e à rotação natural da pole.

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Rigor e Emoção em Cada Espetáculo

Mesmo quando há mais do que uma sessão por dia — como acontece em muitos fins de semana —, cada apresentação é tratada como única. “Não é como se fosse o primeiro espetáculo e ainda houvesse outro depois. Cada um é preparado com o mesmo rigor”, revelou-nos Alexandra Gaillard.

Este compromisso com a excelência exige um elevado grau de preparação física e mental. A equipa viaja com médicos, fisioterapeutas e técnicos de segurança para garantir que artistas e equipamentos estão nas condições ideais. “Os corpos e os cérebros têm de estar a 100%”, sublinha, acrescentando que a confiança entre artistas e técnicos é absoluta — “é uma questão de segurança”.

O ritmo é intenso: seis dias por semana de espetáculos, com cargas e descargas logísticas altamente coordenadas. Em apenas 12 horas, uma equipa de profissionais locais monta toda a estrutura; três ou quatro horas depois do último espetáculo, tudo é desmontado e segue para a cidade seguinte.

Portugal no Coração da Digressão Europeia

Lisboa é uma das poucas cidades onde o espetáculo permanece por duas semanas — um privilégio que permite aos artistas e técnicos respirar um pouco e instalar-se com mais conforto. “Abrimos as malas, temos tempo para nos organizarmos. É raro”, admite Alexandra Gaillard.

Depois de Lisboa, Corteo segue para A Coruña e Pamplona em Espanha, Alemanha, França e Austrália. A digressão é global e intensa, mas a passagem por Portugal tem um sabor especial. “Estamos super felizes por estar em Lisboa. O público aqui é muito caloroso”, partilha.

A estreia de Corteo em Portugal aconteceu em 2018. Esta nova vinda, que coincide com o 20º aniversário do espetáculo — a celebrar no próximo dia 21 de abril —, surge com uma emoção renovada. “Para algumas pessoas, este momento está marcado no calendário há um ano. Pode ter sido uma prenda. Nós temos de oferecer o que esperam — e ainda mais.”

Uma Experiência Para Todas As Idades

Durante a semana, o espetáculo atrai sobretudo adultos. Mas ao fim de semana, o público enche-se de crianças — espectadores exigentes e sem filtros. “Elas não mentem, são espontâneas. Se não estiver a agradar, elas demonstram. Mas quando estão encantadas, é pura magia.”

Corteo convida-nos a sonhar, a rir e a lembrar o que há de belo e frágil na vida. Ao som de uma orquestra ao vivo, com artistas suspensos, luzes suaves e personagens comoventes, o Cirque du Soleil brinda Lisboa com um dos seus espetáculos mais inesquecíveis.

O espetáculo do Cirque du Soleil pode ser visto na MEO Arena até ao dia 20 de abril. Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e custam entre 55 e 102 euros.

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