Crónica: Cultura Para Todos

Nº 30: Para Que Servem Os Oscars De Hollywood?

Comecei a acompanhar a entrega dos prémios da Academia de Cinema, mais conhecidos como Oscars de Hollywood, em 1988. Tinha 13 anos e estava em Espanha com o meu irmão. Era o ano da nomeação do filme de Pedro Almodóvar Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos para o Óscar de melhor filme estrangeiro, uma comédia espanhola, à primeira vista apenas um pouco louca e destravada e que no fundo era a história de uma mulher abandonada, que vai da negação à aceitação. A obra acabou por não ganhar nada, mas não importou. Foi uma emoção ver pela primeira vez as maiores estrelas do cinema a atravessar a passadeira vermelha. Havia emoção, glamour e um lado irónico e divertido que me dexou fascinado.

É preciso dizer que não havia internet nem redes sociais. Tudo era surpreendente e emocionante, e era motivo para falar e debater nas semanas seguintes. Havia uma ligação entre os prémios e a carreira dos filmes e dos atores. A partir daí fui acompanhando sempre estas cerimónias com uma expetativa crescente.

Mas, na última década tudo começou a mudar: as redes sociais tornaram tudo mais imediato, os outros oito grandes prémios da temporada (globos de ouro, guionistas, realizadores…) passaram a ser cada vez mais mediáticos e a indicar os premiados que são apenas confirmados nos Óscares, que simbolizam apenas o fim da temporada. A agravar esta situação, os premiados dos três grandes festivais de cinema (Berlim, Cannes e Veneza) nos últimos anos, têm vindo a estar presentes entre os nomeados ou mesmo a vencer as principais categorias dos Óscars.

Resta o brilho das estrelas, aquele discurso polémico, comovente ou apenas divertido, o casal inesperado. Mas tudo é rapidamente comentado, descartável e esquecido. Quem se lembra sem ir ao Google de qual foi a melhor atriz secundária o ano passado? Sem paciência para acompanhar longas cerimónias, o público mais jovem consulta depois os seus melhores momentos, optando por fazer a sua versão dos prémios da Academia. Resta a História. Os Oscars são os prémios mais antigos e prestigiados, mas a forma como o público consome esta marca nunca mais voltou a ser a mesma.

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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