Nº 34: Para Que Serve A Cultura Depois Do Coronavírus?
Eu sei, neste momento de quarentena que todos estamos a viver já se devem sentir saturados de ouvir falar do coronavírus e das imagens tristes de ruas desertas, filas de espera à porta dos supermercados e farmácias. Parou o país e transformaram-se radicalmente as rotinas. É um cenário estranho: parece que estamos em guerra, mas é um conflito silencioso com um inimigo invisível. Felizmente não temos bombas nem tanques dos quais nos possamos proteger aguardando ansiosamente pela vitória que pode ainda estar distante.
Neste ambiente tão obscuro também no campo cultural, apesar dos encerramentos de museus, cinemas, teatros e galerias, há uma luz ténue que se vislumbra. Ninguém consegue ficar indiferente à forma impressionante como têm surgido as inúmeras manifestações artísticas colaborativas, da música ao cinema, do teatro às artes. Sendo um setor por natureza frágil pela sua reduzida rentabilidade, foi dos primeiros a sentir o embate da destruição da economia que está a acontecer um pouco por todo o mundo com os cancelamentos em catadupa.
De repente olhamos para o Instagram não apenas como uma montra de frivolidades, de vidas ideais e belas amplificadas por um filtro vintage, mas como um imprescindível palco cultural. Do seu quarto ou sala, os cantores portugueses e estrangeiros oferecem pequenos concertos (de Pedro Abrunhosa a Bárbara Tinoco, de Bono a Neil Young). Seja em modelo de festival ou de atuações individuais, a música aí está para alegrar estes momentos de suspensão da nossa vida em que nos temos de confinar à nossa casa. Por incrível que pareça esta adversidade pode até ser um momento de maior disponibilidade para criar. Veja-se o exemplo de George R.R. Martins, autor do universo fantástico da série de televisão Guerra dos Tronos, que revela estar a aproveitar este momento em que se encontra obrigatoriamente em reclusão para escrever um novo volume do universo da popular obra televisiva. As companhias de teatro, distribuidoras de cinemas e museus estão também a disponibilizar gratuitamente o seu material em modelo de streaming.
Apesar de todo este material artístico ser disponibilizado a título gratuito, mantendo-se a inexistência de receitas para os artistas, este é um sinal de esperança. Não apenas para o imediato, como conforto para os dias cinzentos que estamos a viver e para os artistas por ser um momento de maior disponibilidade para a criação artística, mas igualmente para o futuro. Será que a utilização das redes sociais e particularmente do Instagram, pode vir a ser aprofundada convertendo-se num privilegiado fórum das artes?
Veremos.
Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.
N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor














