Da Weasel Conquistaram O Sol da Caparica Num Encontro Entre Gerações

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Da Weasel - Sol da Caparica
Da Weasel

O terceiro dia do Sol da Caparica teve um protagonista claro: Da Weasel. Desde a abertura de portas que o ambiente denunciava a expectativa em torno da banda de Almada. Nunca, nos dias anteriores, se tinha visto nada semelhante: dezenas de t-shirts com a emblemática doninha espalhavam-se pelo recinto, sinal de que o público vinha com um propósito definido. Ouvir música, mas sobretudo ouvir a banda que marcou uma geração.

O concerto de Da Weasel ganhou ainda mais peso pelo contexto: a Costa da Caparica foi uma das três únicas paragens do grupo em 2025, entre Portimão e Vilar de Mouros. Um regresso cada vez mais raro, que se transformou em momento de culto para os fãs. Ainda que o recinto não estivesse lotado, a devoção fez-se sentir em cada refrão.

Os Da Weasel surgiram em Almada, em 1993, e foram pioneiros a cruzar hip hop com rock, funk e música eletrónica. A escolha do nome, inspirado no animal ágil e indomável, tornou-se símbolo da identidade da banda: inquieta, ousada e impossível de domesticar.

Liderados por Pacman (hoje Carlão), os Da Weasel contaram com Virgul, DJ Glue, Jay Jay Neige, Guilhas e Quaresma, um coletivo que sempre se distinguiu pela energia em palco e pela autenticidade das letras. Ao longo de quase duas décadas, construíram uma discografia marcante, com álbuns como 3º Capítulo (1997), Iniciação a uma Vida Banal – O Manual (1999) e Re-Definições (2004), que lhes valeu o primeiro Disco de Platina. Canções como “Re-Tratamento”, “Força (Uma Página de História)” ou “Dou-lhe com a Alma” tornaram-se hinos, símbolo de uma música que nunca se deixou enjaular.

Mesmo após a separação em 2010, a doninha continuou presente na memória coletiva, e o anunciado regresso em 2020, que acabou por só acontecer em 2022, no NOS Alive, mostrou que a chama permanecia intacta. Desde então, têm sido pontuais as atuações. Ensaiadas a rigor e entregues a conta-gotas pelo país, como foi o caso da atuação no Sudoeste, a que assistimos o ano passado.

Foi com esse espírito que os Da Weasel regressam agora ao Festival O Sol da Caparica, “a tocar em casa”, como anunciaram na apresentação do festival. Foram o primeiro nome anunciado desta 10ª edição e provaram que a sua irreverência continua atual.

Quando as luzes se apagaram, ouviu-se a gravação de “We All Stand Together”, o tema de Paul McCartney, que em 1984 estacionou no top das canções mais ouvidas. Foi uma espécie de pré-seleção informal. Quem a reconheceu, estava apto a iniciar esta viagem ao passado. E seguiram-se duas horas muito boas, que foram absorvidas com entusiasmo, como se o tempo tivesse parado e a doninha nunca tivesse deixado os palcos.

As mais conhecidas, logo no início, como “Força (Uma página de história)”, “Dúia”, “Carrosel (Às vezes dá-me para isto)” e “Dialectos de ternura” foram cantadas em uníssono. Pelo meio, prestaram homenagem a Makkas, musico dos Black Company que faleceu recentemente.

Os decibéis subiram vertiginosamente para passagens mais duras como “Para a nóia” e “Niggaz”, mas foram suaves como baladas em momentos como “Casa (Vem fazer de conta)”.

Virgul dedicou “Puro” à sua família e deu o mote com “Carlitos, vou levar-te para casa …” e o público cantou o resto. “Retratamento” foi outro pico de festa no recinto do Sol da Caparica.

Tal como prometido, o alinhamento recuperou alguns temas que vieram deliciar os grandes fãs: “Pedaço de arte”, “O real”, “Mata-me de novo” ou “Selectah” já não eram tocadas ao vivo há quase vinte anos.

Despediram-se com “Tás na boa”, uma declaração de espírito, a celebrar a vida simples, a energia juvenil e a leveza que a doninha sempre soube traduzir. No Sol da Caparica, soou menos a despedida do que a reencontro, entre memórias de adolescência e a certeza de que o legado dos Da Weasel continua intacto.

Miguel Luz

Mas o dia não se fez apenas da doninha. No Palco Bandida, Miguel Luz trouxe uma pop leve, luminosa e descomplicada. Canções simples, carregadas de refrões fáceis de acompanhar, criaram um ambiente descontraído que funcionou como aperitivo antes da intensidade que a noite prometia.

“Rendezvous”, “Pessoas normais” e “Queres ir dar uma volta ao bilhar grande” abriram o concerto, que meteu pasteis de nata pelo meio e deu várias voltas ao refrão com “Amor de Ganga”.

Mundo Segundo

Às 21h30, o festival dividiu-se em dois caminhos. Os mais velhos dirigiram-se ao palco de Mundo Segundo, figura maior do hip hop português, que continua a transformar em rimas as verdades cruas que transporta desde os anos 90.

Abriu com “Ilustre Desconhecido”, tema que dá nome ao seu mais recente álbum, lançado há dois anos. Mas rapidamente voltou atrás no tempo, para recordar outros tempos, em que escrevia noite fora até ao nascer do sol e interpretou “Raio de Luz”.

A noite ganhou outro brilho com os convidados que se juntaram em palco, recordando momentos altos dos Dealema e deixando a plateia rendida a estes “brilhantes diamantes” do rap nacional. Maze e Expeão alinharam com Mundo Segundo e DJ Guze num alinhamento que viajou aos primórdios do hip hop em Portugal. Ouviu-se e cantou-se, entre outros, “Nada dura para sempre”, “Escola dos 90”, e “Bom dia”.

Lon3r Johny

No Palco Principal, o público mais jovem manteve-se fiel a Lon3r Johny, que apresentou um espetáculo marcado por batidas densas, um trap estridente e uma lírica que mistura vulnerabilidade com autoafirmação.

Lon3r Johny entrou em palco com “Moshpit” e não precisou de mais para incendiar o público do Sol da Caparica. O alinhamento seguiu como um turbilhão de graves, de “SAFE” a “Death Note”, passando por “Japão” e “Rockstar Shit”. Sempre em modo catarse coletiva, com moshpits a multiplicarem-se e a energia a crescer em círculos de choque. Sem artifícios nem encenações, o rapper deixou a crueza da sua música falar mais alto.

Na reta final, o bloco explosivo com “Nirvana”, “WOW!” e “2 GEEKED” preparou o caminho para um fecho apoteótico com “ANTI$$OCIAL”. Foi o retrato cru de uma geração que se reconhece na agressividade melódica e na alienação convertida em estilo: no trap de Lon3r Johny, ou se entra no moshpit, ou fica-se de fora.

O terceiro dia do Sol da Caparica não teve o recinto esgotado, mas revelou-se o mais intenso até agora. Quando uma banda carrega consigo a memória de várias gerações, a quantidade de público deixa de ser o centro da questão. O que importa é a energia partilhada. E essa, na noite de Da Weasel, foi inesquecível.

A 10ª edição d’O Sol da Caparica entra no último dia este domingo, com a seguinte programação:

Palco Sagres
18h00 – Pikika
19h15 – Tabanka Djaz
20h45 – MC PH
22h15 – Bispo
00h00 – Wet Bed Gang

Palco Bandida
17h15 – Beatriz Felício
18h30 – Curt Davis
20h00 – Sippinpurpp
21h30 – Carnafest
23h30 – Show da Pegadinha

Palco Digital / Anfiteatro
17h00 – Os Primos

Artigo anteriorO Estranho Caso De Mk.gee E A Realeza De King Krule Na Terceira Noite Em Coura
Próximo artigoSol Da Caparica Fecha 10ª Edição Com Os Mais Novos A Comandar A Festa

Deixe uma Resposta

Por favor digite seu comentário!
Insira o seu nome