Pouco passava das 21h quando Eliane Elias e a sua banda subiram ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para um muito aguardado regresso a território nacional.
‘To Each His Dulcinea‘ foi a primeira música que se fez ouvir, funcionando como uma espécie de introdução ao espetáculo. Uma autêntica “jam session” que serviu de carta de apresentação de cada um dos artistas. O tema faz parte do álbum ‘Music from Man of La Mancha‘, de 2018, que pretende recriar, de alguma forma, o musical ‘Man of La Mancha‘, de 1965, por sua vez inspirado pela obra épica de Miguel de Cervantes, ‘El Ingenioso Hidalgo Don Quixote de La Mancha‘.
Terminado este primeiro capítulo, Eliane agradece, cumprimenta o público presente e diz que “é bom estar de volta a Lisboa e a este belo teatro”. De seguida, apresenta as duas próximas músicas, ambas retiradas do álbum ‘Made in Brazil‘, de 2015. Primeiro, ‘Aquarela do Brasil‘, uma composição de Ary Barroso. Depois, ‘Você’.
Entretanto, fala do disco que saiu no passado dia 28 de Junho, ‘Time and Again‘, que conta com a participação de convidados como Djavan e Mike Mainieri. Este novo registo inclui ‘Falo do Amor‘, uma canção sobre a criança que mudou a sua vida, a neta “Lucy Iluminada”, de 5 anos. Ouvimo-la, embevecidos, para depois escutarmos a história da bossa nova e de como João Gilberto, o seu violão e este género musical influenciaram o disco ‘Quietude‘. Seguem-se ‘Você e Eu‘ e ‘Eu Sambo Mesmo‘. Continuamos com ‘Quietude‘, dando um salto até Salvador, a capital da Bahia, para ouvirmos “um pupurri”. Um medley que inclui ‘Saudade da Bahia‘ e ‘Você já foi à Bahia?’, pretexto ideal para que Eliane nos falasse da beleza, cultura e gastronomia deste estado brasileiro, assim como de Dorival Caymmi, embaixador da região e mestre de várias das 7 artes, incluindo pintura, poesia e, claro, música. Dele, segundo Eliane, que parece adorar vestir a faceta de contadora de histórias, Tom Jobim costumava dizer não perceber como é que só tinha escrito 100 canções…
A noite avançava e não havia sinal de humidade no ar, mas o tema que se seguiu foi ‘Esta Tarde Vi Llover‘, extraído do premiado (com dois Grammys) ‘Mirror Mirror‘, de 2021. Depois, regressamos à companhia de Antônio Carlos Jobim, nome omnipresente no discurso e nas melodias que saem da mente criativa de Eliane Elias: “tristeza não tem fim, felicidade sim”, escuta-se. Talvez. Mas foi ‘A Felicidade‘ que ecoou pelo Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.
Pausa para apresentar os homens que fazem transpirar notas musicais dos instrumentos que acompanham o seu piano. Na guitarra, o paulista Leandro Pellegrini; na bateria, o carioca Rafael Barata; no contrabaixo, o norte-americano Marc Johnson, a quem é reconhecido papel de enorme prestígio, quando falamos do cenário jazz mundial. Depois, é anunciado “o último tema da noite”. Não seria: uma extensa versão de ‘Desafinado‘, ilustrada com belos e longos solos, à semelhança do que ocorrera ao longo de todo o espetáculo, desaguou numa enorme ovação e no merecido aplauso da platéia, mas este era, apenas, o final do primeiro acto...
No regresso ao palco, Eliane assegura que “esta vocês conhecem” e é hora da ‘Garota de Ipanema‘ desfilar pelo palco. Na sequência, ‘Só Danço Samba’ e nova “jam session”. Como que um regresso ao início do concerto, o que teria sido um final perfeito. Porém, haveria espaço para mais um encore…
‘Isto Aqui o que é?’, de João Gilberto, serviu como epílogo. “Um pouquinho de Brasil”, numa noite lusitana em que o samba e a bossa nova abraçaram o jazz.




















