Lenny Kravitz voltou a Lisboa. Trouxe tudo o que o público esperava, e ainda mais. O recinto da MEO Arena encheu, esta terça-feira, para receber o músico norte-americano. Mas desta vez, não subiu ao palco apenas o cantor e compositor de sucessos como “Are You Gonna Go My Way” ou “Fly Away”. Em Lisboa, apresentou-se também o ícone de estilo e sex symbol global, num concerto que foi tão visual quanto sonoro.
Aos 60 anos, Lenny Kravitz está impecável. Com uma forma física invejável, presença sedutora e atitude que fez o público reagir. Do início ao fim, confirmou que o tempo só tem jogado a seu favor. Cada movimento, cada troca de olhar com a plateia, cada detalhe no figurino – com os óculos escuros, o casaco vestido ou despido, o corpo tonificado à mostra – contribuíram para criar o espetáculo.
Se durante décadas o músico norte-americano foi conhecido pelo seu som inconfundível — uma fusão de rock, funk e soul —, hoje é impossível dissociá-lo da imagem cada vez mais presente em campanhas de luxo, editoriais de moda e eventos internacionais.
Kravitz usa o poder da imagem e o seu valor simbólico numa época em que a estética e a personalidade são ferramentas fundamentais de comunicação. É presença constante em capas de revistas como a Men’s Health, Vogue ou GQ, e está associado a marcas como Yves Saint Laurent, Ray-Ban ou Cartier. A estratégia é clara: transformar a sua figura num ícone de estilo, transversal a gerações e géneros.
Com uma naturalidade desarmante, desfila um estilo que comunica liberdade e irreverência, mas também um forte sentido de identidade.
Era da apresentação do mais recente álbum Blue Electric Light, que devíamos estar a falar. Mas a noite foi mais de grandes êxitos e comunhão com o público.
O tom foi dado logo ao primeiro acorde de “Bring It On“. Um arranque de puro rock, quase como um aviso: o Lenny Kravitz veio para incendiar o palco e arrastar todos consigo.
Seguiu-se “Minister of Rock ‘n Roll”, numa performance que fez jus ao título. Kravitz encarna o espírito do rock como poucos: voz rouca e quente, pose inconfundível, presença maior do que o próprio palco. Entrou no mais recente trabalho com “TK421“ e brincou com os clichés do rock. Soltou um “Can you feel it?”, e todos sentimos, sim. A vibração era real, pulsava na pele e nos corações.
“Always on the Run” trouxe para a linha da frente um trio de sopros que elevou ainda mais a dinâmica do espetáculo.
Depois Lenny Kravitz desfilou com a segurança de uma grande estrela, como se atravessasse uma passerelle. Saudou o público com um sonoro “Boa noite”, pronunciado com um leve sotaque brasileiro, que arrancou sorrisos.
O concerto teve o seu primeiro momento de introspeção quando o músico falou sobre “a bênção estar vivo. Todas as manhãs acordo e agradeço mais um dia. Um novo dia para amar, viver e perdoar. Celebrar o que temos neste momento: vida, música e mensagem. Quero que saibam o quanto vos adoro e respeito. Vamos para a celebração.”
E assim foi.
“I Belong to You”, “Stillness of Heart” e “Believe” mostraram a faceta mais espiritual e melódica de Kravitz, intercaladas com “Honey”, “Paralyzed” e “Low”, onde o groove funk e a sensualidade se apoderaram do recinto. Com “The Chamber”, o ritmo pisou o território da eletrónica e da dança, uma inovação que, mesmo num artista tão ligado às raízes do rock clássico, soou natural.
Lenny Kravitz parou algumas vezes para ler cartazes da plateia e rasgar sorrisos. Momentos depois, sentou-se ao piano para interpretar “I’ll Be Waiting”. As luzes dos telemóveis acenderam-se e transformaram o recinto numa constelação.
Fez questão de apresentar os músicos que o acompanham em palco, a sua “família”, com quem partilha a estrada e a paixão pela música. Vestiu novamente o casaco, numa espécie de presságio. O público sentiu: o concerto entrava na reta final.
Mas ainda havia muito por vir. E das mais conhecidas, portanto toda a bancada ficou em pé. O romantismo de “It Ain’t Over ’Til It’s Over”, a nostalgia de “Again”, e depois o trio explosivo que varreu o recinto como um furacão: “American Woman”, “Fly Away” e “Are You Gonna Go My Way”. Nesta última, o delírio tomou conta do público — saltou-se, cantou-se, gritou-se. A loucura instalada, como se fosse 1993 outra vez.
E, quando se pensava que nada podia superar a energia daquele momento, veio o encore. E que encore.
Lenny Kravitz cantou “Let Love Rule”, desceu ao fosso e entrou pelo meio da multidão, rodeado de braços, câmaras e aplausos. Assinou discos, cartazes, papéis. Atravessou o recinto, cantou da régie e levantou os braços ao céu virado para cada um dos cantos da Arena. Quase como quem faz questão de chegar a cada um dos presentes. No caminho de regresso ao palco principal foi espremido pela multidão, mas não deixou de sorrir. Voltou ao palco, despiu o casaco mais uma vez — sinal de que queria prolongar o momento — e a gritaria continuou.
Em 2025, Lenny Kravitz voltou a Lisboa para demonstrar a evolução do seu trabalho, ampliando uma dimensão sempre presente na sua música, desde os anos 90, a sensualidade nos seus vídeos. O artista interpreta letras carregadas de erotismo e espiritualidade, mas atualmente emana uma segurança nunca vista.
No fundo, Lenny Kravitz tornou-se exemplo de como a longevidade artística pode ser alimentada por uma identidade visual forte. Continua a fazer música, sim — mas também continua a provocar olhares, a inspirar gerações e a provar que o sex appeal, quando genuíno, não tem prazo de validade.
Groove e Autenticidade de Amaura
Amaura, uma das novas vozes da música portuguesa, teve a oportunidade de abrir o concerto de Lenny Kravitz. Um momento que, para a artista, foi uma verdadeira conquista.
Grata pela confiança e pela possibilidade de partilhar o palco com uma lenda do rock, Amaura ficou radiante com a experiência, e demonstrou-o publicamente. Com uma energia contagiante e uma boa entrega, a cantora e compositora apresentou um espetáculo recheado de groove, funk e soul, géneros que fazem parte da sua identidade musical. Proporcionou uma experiência agradável, onde a fusão de estilos e a autenticidade da artista brilharam.
Durante a sua performance, Amaura deu a conhecer alguns dos seus sucessos, como “EmContraste”, “Nineties” e, para encerrar em grande, “Dança”.




















