Começou esta sexta-feira a romaria metaleira ao Estádio do Restelo, que este ano acolhe pela primeira vez ao ar livre o maior festival de metal de Lisboa: o Evil Live. A mudança de recinto trouxe uma nova dimensão ao evento, agora com mais espaço para o peso e a intensidade que o género exige. No primeiro dia de concertos, subiram ao palco os portugueses R.A.M.P., seguidos de Death Angel, dos imparáveis Municipal Waste, Triptykon e, a fechar a noite, Judas Priest, numa celebração sonora que percorreu décadas de metal.
Nota negativa é a ausência de água, estavam quase 40 graus e não é disponibilizada água em lado nenhum, só comprando garrafas a 2 euros. Às pessoas que estavam nas grades foram distribuídas águas via garrafão e enchendo garrafas a quem tivesse, mas quem estivesse 2 metros mais longe ou comprava ou não tinha. Algo a melhorar na organização.
Mas vamos ao primeiro dia.
Nos anos 80 o Thrash era rei, bandas como Metallica, Slayer e Exodus marcaram a década e o metal era indissociável de velocidade e fúria. Muito thrash foi o que tivemos neste primeiro dia.
R.A.M.P.
Para arranque tivemos os nacionais R.A.M.P., nome maior do nosso panorama metaleiro e sempre bons em palco.
Começaram cinco minutos antes porque as pessoas já estavam a sofrer com 40 graus aos sol. Os R.A.M.P. entregaram uma atuação por onde passaram grandes malhas como “How” ou “Hallelujah”.
Muitas t-shirts de R.A.M.P., mosh e crowd surfing. Um concerto excelente de arranque de dia.
Sacaram muitos aplausos ao pouco público e mostraram que em Portugal, mesmo com a nossa dimensão, se fazia metal de nível mundial nos anos 90.
Death Angel
Voltando dos anos 80 chegaram os Death Angel. A banda, que começou em 1987, e de rajada lançou três misseis de puro thrash eclipsando-se em 1990 para só voltar em 2004, desde lá para cá têm construído uma sólida carreira com seis discos lançados.
Não fosse este interregno tão extenso e os Death Angel seriam um dos grandes nomes do thrash mundial, mas voltaram e ainda bem.
O som estava péssimo no início, a bateria nem amplificada estava, mas foram corrigindo estes problemas ao longo do concerto.
Debitando riff poderoso atrás de riff poderoso, levantaram o pó do estádio com temas grandiosos como “Mistress of pain” do clássico “The Ultra-violence”, “The Moth”, “I Came for Blood”. A precisão da banda é incrível e conseguem levar toda a gente a violentos head bangings e muito mosh.
Para quem gosta de thrash este dia era fantástico e os Death Angel mostraram como seria um concerto na era de ouro do Thrash.
Fantástico concerto de uma grande banda.
Municipal Waste
Os Municipal Waste foram formados em 2001, mas de espírito já tinham 30 anos, o que se vê logo no seu primeiro longa duração “Waste’Em All”, mas ainda nos deram clássicos como
Não disfarçam as influências e praticam um thrash metal crossover, brutal, divertido e muito rápido.
Não dão os seus créditos por mãos alheias, agarraram no público e andaram com todos num mosh visceral ao ritmos dos riffs que iam debitando de forma ultra rápida e demolidora.
“The Thrashing of the Christ”, “Sadistic Magician”, “Breathe Grease” são grandes malhas, mas o público fez-lhes a vontade quando pediram uma “Wave of Death”.
Se não sabem o que é uma verdadeira festa do metal, onde o vosso cérebro vos sai do corpo e não há racionalidade só adrenalina então têm que ver um concerto dos Municipal Waste. Brutal.
Depois da tareia desta onda thrash de três grandes bandas pedia-se uma pausa, mas a celebração do metal continuava com mais duas bandas que criaram o livro do que é o Heavy Metal e que figurarão como nomes Maiores nos bastiões do metal.
Triptykon
Formados pelo lendário Tom G. Warrior os Triptykon são a mais recente banda do músico que com os Hellhammer e depois com os Celtic Frost ajudou a criar o Black Metal. Explorando o negrume humano desde 1982 nada seria o mesmo sem estas bandas e sem este senhor.
Se o Thrash dos municipal waste é um salão cheio de cerveja e boa disposição há ao lado um corredor escuro que nos leva ao que de mais negro existe dentro de nós e ao demónio, é nesse corredor que se senta Tom Warrior.
Recebemo-lo na sua mais recente encarnação, mas para celebrar o seu legado.
Canções como “Circle of tyrants” e “Ground” levaram a uma grande ovação, mas nem só de passado se fez este concerto, “aurorae” da discografia dos Triptykon mostraram que Tom ainda tem muita música para nos dar.
O ambiente estava bom, notava-se uma certa idade nos presentes, normal quando se tem como cabeças de cartaz a banda que lançou mil bandas, os Judas Priest.
Judas Priest
Como já dissemos, os Judas Priest são um dos nomes maiores do Heavy Metal.
Sempre firmes e fiéis ao mais puro heavy metal, ao longo da sua carreira não só criaram algumas das malhas mais icónicas como se souberam reinventar e continuar a forjar metal com grande qualidade, os seus mais recentes “Firepower” e “Invincible shield” tiveram excelentes críticas e mostram uma banda em excelente forma.
Desde o arranque que temos uma banda que não está aqui para brincar, “All guns blazing” do clássico disco “Painkiller”, mostra um Halford em grande forma que não tem reservas nenhumas.
Os clássicos “Hell patrol”, “You’ve Got Another Thing Comin’”, “Breaking the Law” são como capítulos de um livro de história do heavy metal.
“Gates of Hell” do novo “Invincible Shield” mostra que a banda não vive do passado e continua viva.
As guitarras de Richie Faulkner e Andy Sneap estão precisas e cristalinas com cada acorde carregado de atitude.
Halford leva o público pela discografia dos Priest com mestria e sabedoria que os seus 73 anos lhe dão. O Metal God parece ter umas cordas vocais imortais tal é a frescura que apresenta em temas tão difíceis como “Painkiller” ou a nova “The Serpent and the king”.
O público não se faz rogado e tenta acompanhar cantando a plenos pulmões.
É mais que um concerto, é uma celebração do heavy metal.
Halford conta que viu os Korn (atuam este sábado) quando ainda era pequenos em Phoenix e percebeu que seriam grandes, falou também dos Slipknot (que vieram em 2023 e regressam este domingo) e como são doidos em palco. Envergando um casaco comprido cheio de patches de bandas demonstra que o gatekeeping não deve existir e que longos são os braços do metal para abraçar todas as vertentes.
Um grande final para o primeiro dia do Evil Live.
Este sábado temos a geração de 90, Korn, Till Lindemann (dos Rammstein) e Opeth. Bandas que marcaram a década de 90 e levaram o metal mais para a frente. A trade começa com Bizarra Locomotiva, Seven Hours After Violet e Eagles of Death Metal.
Ainda há bilhetes à venda nos locais habituais, pelo valor de 79 euros.




















