No segundo dia do Evil Live houve música para todos os gostos. A tecnicidade e brilhantismo dos enormes Opeth, o metalcore amigável dos Seven Hours After Violet, o nu metal dos cabeça de cartaz Korn, o circo sexual de Lindemann e para abrir os nossos Bizarra Locomotiva.
Depois de um dia thrash e heavy metal dos anos 80 a viagem metaleira hoje passava pelos anos 90.
Bizarra Locomotiva
Os Bizarra estão de ferro e solda na história do metal industrial nacional.
Com uma longa carreira de bons discos e melhores concertos, são sempre interessantes de ver.
Desta vez coube-lhes abrir o segundo dia do Evil Live e como sempre deram muito boa conta de si.
Já com uma boa mole humana que se estendia até à mesa de misturas, que aguentou o sol tórrido das 16 horas, deram um show que lhes granjeou novos fãs.
Já sabemos que o Sidónio não consegue estar longe dos fãs e a meio do set saltou para o meio do público.
Não faltaram algumas das favoritas dos fãs como “Anjo exilado” e arrancaram os primeiros moshpits do dia com o “Escaravelho”.
Uma boa abertura do segundo dia.
Seven Hours After Violet
A banda do baixista dos System Of A Down, Shavo Odadjian, pratica um metalcore.
Só têm um disco, lançado em Outubro de 2024, mas muito bem classificado nos tops.
Fazem um metalcore melódico e cativante com muita energia.
O caos que acontece no palco e a energia que geram passa para o público que cria dois moshpits em sintonia com banda.
Uma energia adolescente que mete o pessoal todo a mexer quer se conheça ou não a banda. É inevitável.
Claramente vão crescer e daqui a uns anos vamos vê-los muito mais acima no cartaz.
Eagles of Death Metal
Todos nos lembramos dos acontecimentos trágicos do Bataclan que envolveram os Eagles of Death Metal.
Nessa altura era suposto passarem por Portugal, mas foi impossível.
Formados em 1998 por Jesse Hughes e Josh Homme (dos Queens of the Stone Age), apesar de não acompanhar a banda ao vivo, Josh Homme sempre se afirmou firmemente no EODM.
O bom humor da banda, as piadas sexys fazem-nos esperar um excelente concerto.
Desde a entrada com o “We are family” percebemos que era um concerto de comunhão, isso foi logo dito pelo Jesse que nos contou que ficou apaixonado imediatamente por cada um dos presentes. Apesar de não ser metal o rock n’roll honesto, direto e com boa disposição põe todos a mexer.
Com uma baixista vestida de cowboy vermelho e Jesse envergando uma t-shirt dos Korn o aparato era reduzido deixando a presença de palco e as canções falarem por ele.
Em “Complexity” saltou para o público que retribui todo o amor e no final dedicaram “Moon haze” de David Bowie aos Korn, por todos nós.
O rock’n’roll nunca vai morrer e os EODM fazem questão de o manter vivo.
Opeth
O que dizer dos Opeth?
Que são uma das mais importantes bandas da sua geração, que sempre fizeram o que desejaram fazer em cada disco desbravando sempre caminhos inesperados ou que são uma banda que arrasta multidões.
O mentor da banda, Mikael Akerfeldt, tem carregado a banda ao longos dos 35 anos de existência e determinado o rumo das obras.
No disco mais recente voltaram aos guturais, algo que os fãs pediam há muito, não deixa de ser um pormenor porque com guturais ou sem os álbuns são sempre excelentes.
“Paragraph 1” lançou o concerto, pelas t-shirts e reação do público, amplamente esperado.
Ver os Opeth é ver apreciar músicos em topo de forma a tocar músicas muito intricadas, que como disse Akerfeldt sobre “Paragraph 7”, se vocês nunca ouviram isto não vão perceber nada do que se passa, mas depois mostram autêntica mestria na execução, um som perfeito e nunca, mas nunca se ouve um prego.
Muito mosh, muita entrega do público a uma banda que é das mais acarinhadas por cá, terminaram com uma explosão de energia com “Master’s apprentice”. Inesperado não terminarem com “Deliverance”, mas soube-nos muito bem a recordação.
Till Lindemann
Till, vocalista dos Rammstein, sempre quis dar asas à sua imaginação fora da banda alemã.
Encontrou noutro grande nome, Peter Tagtren, o seu conspirador de eleição e juntos fizeram os Lindemann. Em 2020 Tagtren abandonou os Lindemann e Till continua como projeto a solo.
As letras são mordazes, sexuais e, nos dias que correm, obviamente ofensivas. Mas se não chatear ninguém para quê fazer metal e rock n’ roll? Já dizia Pete Steele.
Um Restelo quase repleto esperava ansiosamente o que ia acontecer. Como nos Rammstein a componente visual é fundamental. E assim, bem-vindos ao circo surreal e sexual de Till.
Cada elemento no palco tem uma presença fundamental no show, desde as 12 groupies que vão dançando e acenando ao público até ao baterista e as instrumentistas. Vestidas de lingerie vermelha, com meias de rede, tudo é vermelho.
Lindemann aparece vestido com uma farda de cabedal vermelho e o que se segue são canções que exploram a sexualidade, a perversidade e a libertação sexual que a nossa sociedade precisa (ou já tem?).
O/A baterista, personagem andrógeno que além de ser excelente baterista, dá um espetáculo em si mesmo, com uma máscara grotesca, retira tampões vermelhos de sangue de uma vagina e lança-os ao público. E é neste registo de entre a beleza óbvia das groupies e das instrumentista e o grotesco do que aparece nos ecrãs e nas expressões mais próprias do BDSM que se desenrola este espetáculo (a dada altura temos um técnico de palco de joelhos com um micro na cabeça para onde Till canta).
Mandam bolos ás primeiras filas, peixes, água, a dada altura vem a teclista e Till a passear de câmara em punho por entre o público.
Musicalmente, não foge de Rammstein e Pain, visualmente são muito diferentes.
“Golden Shower”, “Altes Fleisch”, são pontos altos de um concerto com muita sensualidade e beleza e grotesco (ou beleza mais particular), mas ao qual o público adere e há mosh, crowd surfing e participação.
Pode ou não gostar-se da música mas é um espetáculo admirável e radical que Lindemann nos traz.
Korn
No dia anterior, Rob Halford, falou sobre os Korn, de como os viu quando eram muito pequenos em Phoenix e percebeu que iam ser uma grande banda.
Estava certo, como aliás será de esperar do metal god, e cá estamos 31 anos depois do “Korn”.
Revelaram-se uma banda que desbravou novos sons e forma de fazer metal.
Olhando para o público havia imensas t-shirts de Korn, claramente os mais esperados e não deixaram os créditos por mãos alheias.
Ainda Jonhatan Davis não tinha entrado e a atmosfera já estava eletrizante, quando se ouve os sons de “Blind” e a voz de comando “Are you ready?” a energia explodiu.
Mosh pits, crowd surfing e toda a gente a dar tudo o que tem, mesmo os que estavam mais distantes nunca deixaram de cantar, bater palmas, gritar.
Foi um mar revolto em terra firme que acolheu a banda.
Um jogo de luzes com cinco plataformas que subiam e se orientavam a 180 graus, com lasers e luzes para criar atmosfera. Nos ecrãs passavam imagens alusivas aos temas, que nos dava uma imersão maior, mas acabavam quase por ser pormenores quando uma entrada de gaita de foles colocou o público ao rubro para “Shoots and Ladders”.
Estavam tudo tão em sintonia que, quando Davis pediu para o pessoal se calar, fez-se silêncio. Isto é ligação e saber estar em cima de um palco.
Hino atrás de hino foram sendo tocados e acompanhados pelo público, “Adidas”, “Got the life”, “Twisted Transistor”.
Terminaram com a inevitável “Freak on a leash” um concerto apoteótico.
São concertos assim que fazem as pessoas quererem continuar a ver música ao vivo, não é ver e ouvir é sentir e estar no momento (pena alguma quantidade exagerada de telefones).
O Evil Life Festival 2025 abre este domingo mais uma vez portas. Atuam Fæmine (início pelas 15h50), Gaerea (aproximadamente às 16h40), Adept (substituiu os Crossfaith, atuaria às 17h30), Jinjer (até às 18h45), Falling in Reverse (20h20) e Slipknot fecha o festival (22h15). Os bilhetes para este dia já se encontram esgotados.




















