Ghost Converteram Lisboa Ao Seu Culto Numa Noite De Hard Rock, Fogo E Teatralidade

Por Tiago Silva (Texto) e Tânia Fernandes (Fotografias)

Ghost

Lisboa recebeu ontem, dia 29 de Abril, os Ghost com a sua Skeletour para uma noite de muito e bom hard rock.

Não se acredita em Deus e mais uma vez se provou que quem faz milagres são os homens, que conseguiram montar toda a estrutura, mesmo com um apagão ibérico no dia anterior.

Com uma mistura muito característica de rock, teatro e subversão religiosa, os gigantes suecos do rock oculto entregaram um espetáculo que foi mais do que apenas um concerto – foi um ritual imersivo de espetáculo, som e narrativa.

A liturgia desta vez foi pregada com uma grande produção.

Um enorme “G” iluminado dominava a arena, fumo envolvia os Nameless Ghouls, e conforme as luzes mudavam de vermelhos intensos para azuis celestiais, todo o palco parecia respirar a cada transição.

Tobias Forge, na sua mais recente encarnação Papa V Perpetua, foi o sumo sacerdote da noite. A performance caminhou na linha entre vilão de opereta e messias do rock, conduzindo a multidão com um sorriso e gestos sacerdotais. Trocando de roupas com destreza teatral, permaneceu o centro das atenções, mesmo durante os momentos mais elaborados do espetáculo.

Os Nameless Ghouls, vestidos todos de preto com cartolas ou gorros de quase freiras na cabeça, estavam precisos como metrónomos, trocando harmonias de guitarra e camadas de sintetizadores com precisão quase mecânica, ao mesmo tempo que se mantinham ocultos atrás de suas novas máscaras escuras. Os movimentos eram rígidos, quase ritualísticos, sincronizando-se com as mudanças de iluminação à perfeição.

Arrancaram com “Peacefield” e “Lachryma”, do disco novo Skeleta editado a 25 de abril, logo reconhecidas e cantadas pela multidão que enchia o pavilhão.

A partir daí foi uma tour pelos vários discos da banda que já conta com sete discos em quinze anos. Canções como “Spirit”, “From the Pinnacle to the Pit”, “Call Me Little Sunshine” (aqui o Papa surge no ar por trás da bateria, como uma aparição do inferno), “The Future is a Foreign Land”, foram muito celebradas pela multidão conhecedora. Não consideramos pontos altos porque o concerto foi todo em alta rotação com o público completamento rendido à banda sueca.

“Cirice” marcou uma mudança no palco e de roupa.

Surgiram vários vitrais que completam uma verdadeira catedral do rock. Ficaram deslumbrantes no contexto e funcionam para adicionar atmosfera. Ao centro uma representação de Satanás e nas naves laterais vários demónios atormentaram humanos pios.

Conforme as coisas avançaram, os visuais adicionaram movimento e dinamismo para acompanhar a música. Realmente imersivo, e nós, a audiência, fomos completamente envolvidos.

Em “Year Zero” surgiu uma nova roupa de papa, grande mitra na cabeça, cinto roxo e apliques de ossos nos ombros.

Havia fogo em palco e fogo de artifício que estilhaçou os vitrais para expor o céu estrelado de uma noite brilhante.

“He is”, foi cantada a plenos pulmões, os vitrais reconstruíram-se, mas sem divindades, só humanos e um cristo de fato e gravata e bíblia que nos levantou o polegar com apreciação do público e voou no fim da música.

Mais uma troca de fato, agora com uma máscara mais brilhante.

Explodiram confettis e voou dinheiro (fomos brindados com 666 Ghost dolars). No fim, surgiram no ecrãs as palavras de “Monstrance Clock” e tivemos um pavilhão a cantar “Come together as one for lucifer’s son” num grande final.

Ghost

Mas como sabemos ainda havia encores. O Papa recordou a primeira vez em Portugal na velha Paradise Garage, e agradeceu ao público porque cada vez que vem a Portugal é uma festa. E nós agradecemos que continuem a vir.

No encore brindaram-nos com “Mary on a Cross”, “Dance Macabre” e “Square Hammer“. Obviamente acabaram em alta.

Um grande concerto com visuais impressionantes e imersivos, um verdadeiro espetáculo de arte total que prova que, não se devem perder concertos e devemos continuar a apoiar a música ao vivo.

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