Jorge Palma, génio inconstante da música dá grande concerto no CCB

Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

jpalma_02Mesmo sem certeza de que Jorge Palma esteja em condições de dar um concerto minimamente aceitável do princípio ao fim, a afluência ao Auditório Principal do Centro Cultural de Belém é total. Todos lhe reconhecem valor, perdoando-lhe os vícios.

Apesar da voz carregar já muitos excessos, na noite de 10 de dezembro, Jorge Palma fez como se estivesse em casa, entre amigos e deu um concerto memorável. Acompanhado de Vicente Palma (o filho )na guitarra e Gabriel Gomes (ex-Madredeus e Sétima Legião) no acordeão, baralhou pautas, trocou galhardetes com o público e provou que é um verdadeiro génio em matéria musical.

Entrou em palco como quem acaba de poisar um copo e abre com a canção popular irlandesa “Wild Rover”, que nos primeiros versos, deixa tudo dito: I’ve been a wild rover for many’s the year/ I’ve spent all me money on whiskey and beer”. A língua enrola-se na fala, mas não quando canta e admite que vai “falar o menos possível”. “Jeremias o fora da lei”, “Voo Noturno”, “Gaivota dos Alteirinhos”, “Só”, Dá-me Lume” são êxitos que o público conhece bem e acompanha. A excelente acústica da sala permite seguir as canções palavra a palavra, ao ponto de Jorge Palma as sussurrar e ainda assim ser perfeitamente percetível. Com as luzes a aceder entre cada canção, Palma responde a pedidos que são gritados do público, cometa as “farpas” lançadas e dança entre a guitarra e o piano com toda a mestria. Queixa-se da falta do cinzeiro e do copo de whisky e algumas canções depois chega mesmo a sair do palco e volta com uma cerveja na mão. Irónico, diz em tom cantado “You can’t always get what you want”.

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Faz solos no piano como quem faz tricot com as notas, tecla as primeiras estrofes de “As Time Goes By” do filme Casablanca e avança para “Deixa-me Rir” para grande entusiasmo da plateia. “’Tão a gostar!” diz com ar de menino rebelde, a quem todos perdoam as diabruras. “Valsa de um Homem Carente”, “O lado errado da noite” e “Estrela do Mar” mantém o índice de satisfação bem elevado e Jorge Palma brinda a todos os presentes. Segue-se “Passos em volta”, “Minha senhora da solidão” e “Frágil” que o público acompanha com palmas. Jorge Palma não gosta da dessincronização total, para de tocar e pergunta: “Querem mais lento?”. Volta a chamar Gabriel Gomes para “A Canção de Lisboa” e segue-se “Imperdoável”.

No palco estão apenas os músicos e o respetivo equipamento musical. A dinâmica de luzes é, no entanto, excelente, criando verdadeiros cenários de cor durante todo o espetáculo. Depois do orelhudo “Encosta-te a Mim”, Palma anuncia: “Vou chamar ao palco uma senhora. Uma senhora??? Ó Fernando, desculpa lá…”. As cinco décadas de amizade que Fernando Tordo afirma existirem entre eles, fazem com que uma gargalhada seja o suficiente para apagar o engano. Com um charango ao peito, pequeno instrumento musical originário da américa do sul, o enorme Fernando Tordo interpreta “Dormia tão sossegada” de Jorge Palma. Depois, levanta-se um trompete do meio da plateia a anunciar “Tourada”, o tema com que Fernando Tordo representou Portugal no então famoso Festival Eurovisão da Canção, em 1973. O amigo sai, mas Jorge Palma fica com ar contemplativo a relembrar histórias em comum “apresentou-me o Ary dos Santos, levou-me a Timor-Leste. É bom ter um amigo assim” remata.

Despede-se com “Portugal, Portugal” mas regressa rapidamente para um encore. Troca de lugar com Vicente Palma, que se senta ao piano para tocar ”Anjos de Berlim”. Vicente volta depois para a guitarra para acompanhar o pai em “Terra dos Sonhos” e “Quero O Meu Dinheiro de Volta”. “A Gente Vai Continuar” é a derradeira música de uma noite em que os enganos se integraram na representação e a genialidade do artista conseguiu sobressair.

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