O terceiro e último dia do Festival Kalorama 2025 foi o mais concorrido desta edição. A organização não divulgou números oficiais, mas quem lá esteve os três dias percebeu, logo ao início da tarde, que havia muito mais público do que nos dois dias anteriores. Damiano David e Jorja Smith foram os destaques deste sábado.
O grande momento da noite chegou já depois das duas da manhã, quando Damiano David subiu ao palco para encerrar o festival. O italiano, que se tornou conhecido como vocalista dos Måneskin, ofereceu ao Kalorama um concerto de pura entrega, mas que deixou no ar o sabor amargo da brevidade. Durante cerca de 45 minutos, Damiano encantou com a sua elegante figura, voz firme e uma boa presença em palco, confirmando o estatuto de estrela global conquistado desde os tempos em que dava os primeiros passos nas ruas de Roma.
O alinhamento foi escolhido a dedo para conquistar corações e pôr a plateia a vibrar. Começou com “The First Time” e “Voices”, seguiu com “Tango” e emocionou com “Mars”, tema que dedicou “a todas as pessoas aqui que estão apaixonadas”.
Damiano apresentou também versões de outros artistas, às quais juntou o seu cunho pessoal como “Nothing Breaks Like a Heart” de Mark Ronson e “Too Sweet” de Hozier. Ofereceu momentos marcantes com originais como “Zombie Lady”, “Angel” ou “Tangerine”. O fecho, com “Solitude (No One Understands Me)”, deixou o público dividido entre o encantamento e a frustração. A maioria desejava mais — esperava-se um concerto à altura do encerramento de um festival, mas o tempo foi curto, e sentiu-se.
Antes de Damiano, Jorja Smith protagonizou outro dos pontos altos do dia. Outro concerto breve, com menos de uma hora. A cantora britânica de R&B encheu o Parque da Bela Vista com a sua forte voz, cheia de alma.
Interpretou temas como “Teenage Fantasy”, “The Way I Love You” e “Be Honest”, num espetáculo elegante que soube equilibrar a doçura e a força emocional.
O público correspondeu, deixando-se embalar pelas melodias e pelas letras sentidas.
A primeira grande surpresa do dia surgiu logo no início da noite com os australianos Royel Otis. A dupla de Sydney trouxe ao Kalorama o seu indie pop despretensioso. Conquistaram o público com a sua música, mas também com umas pitadas de humor e simpatia.
No ecrã, mensagens inesperadas faziam rir e criar ligação: “Esta é para dançar”, “Agora tirem uma foto à banda”, “Esta é uma música nova”. Com um alinhamento extenso — onde brilharam “Going Kokomo”, “Kool Aid”, “I Wanna Dance with You” e “Sofa King” —, ainda tiveram tempo para surpreender com covers bem recebidos, como “Murder on the Dancefloor” de Sophie Ellis-Bextor e “Linger” dos Cranberries. Os Royel Otis foram, sem dúvida, uma lufada de ar fresco e conquistaram novos fãs em Lisboa.
A tarde abriu com a presença Yakuza, uma banda portuguesa. O seu concerto no Parque da Bela Vista ofereceu uma viagem sonora singular. Afonso Serro, Pedro Ferreira e Afta3000 criam uma fusão entre eletrónica e música tradicional que, neste início de tarde, fizeram bater o pé ao seu ritmo.
O público, espalhado pelo recinto pareceu absorver esta mistura. A banda constrói, a partir de uma visão urbana, um estilo próprio, melodias com groove e fluxo.
Seguiu-se Jasmine.4.T, o projeto da britânica Jasmine Cruikshank, que trouxe ao Kalorama um indie rock melódico e profundamente emotivo. A artista, que começou por se destacar no circuito alternativo de Manchester, subiu ao palco acompanhada pela sua banda e rapidamente conquistou o público com a intensidade das suas letras e da sua presença.
O alinhamento centrou-se em temas do seu álbum de estreia, produzido pelos Boygenius, grupo que tem vindo a marcar a cena indie internacional. “Skin On Skin”, o tema que conta com Julien Baker, destacou-se como um dos momentos de destaque do concerto.
Fecharam com “Did You Know”.
A tarde prosseguiu com a atuação dos canadianos BadBadNotGood. O coletivo de Toronto ofereceu uma performance que cruzou soul-jazz dos anos 70, hip-hop alternativo e electrónica experimental, mantendo a assinatura instrumental que os notabilizou. O público vibrou com a mestria técnica da banda, que ao vivo revela toda a sua riqueza rítmica e harmónica. Entre improvisos, grooves e atmosferas cinematográficas, BadBadNotGood levaram os presentes numa viagem que oscilou entre o passado e o futuro do jazz.
Temas do mais recente trabalho Mid Spiral, que junta três EPs conceptuais num único álbum, fundiram-se com momentos clássicos da discografia do grupo, mantendo o público preso ao som até ao último acorde.
Lisboa vibrou durante três dias e o Kalorama consolidou o seu lugar de encontro de propostas alternativas e experiências sonoras que ajudam a descobrir o universo musical atual. Agora, a expectativa volta-se já para 2026.
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