Kylie Minogue Desceu À Terra Em Lisboa E Transformou A MEO Arena Num Templo Pop

Reportagem de Tânia Fernandes (Texto) e António Silva (Fotografias)

Kylie Minogue

A popstar australiana Kylie Minogue apresentou-se ontem, 15 de julho, na MEO Arena, em Lisboa, com um espetáculo exuberante, sensual e emotivo, integrado na digressão mundial Tension Tour 2025. Perto de duas décadas depois da sua última atuação a solo em Portugal, a diva do pop regressou para confirmar a sua transversalidade geracional no universo pop e não desiludiu.

Kylie Minogue já não é apenas uma cantora pop. É uma entidade superior, uma espécie de deusa do Olimpo que há décadas visita os humanos para os fazer dançar, suar, cantar e, por vezes, chorar. Ontem, em Lisboa, voltou a acontecer o milagre. A MEO Arena, com milhares de fiéis de olhos postos no palco, viu descer à Terra esta figura divina, primeiro vestida em vinil roxo, depois de jumpsuit vermelho brilhante, mais tarde envolta em longas vestes negras, que rapidamente passaram a vestido curto de franjas brilhantes. Como se saísse de um cometa e estivesse em constante transformação, num concerto muito coreografado. Foi pop, foi teatro, foi culto.

Tudo começou com um diamante. Às primeiras batidas, quando a sala se mergulhou em escuridão, surgiu Kylie suspensa dentro de uma estrutura em forma de gema gigante. Era como se Vénus tivesse nascido de um diamante, não de uma concha. O cenário escuro fazia sobressair ainda mais a figura escultural que, apesar de não tocar em solo português há mais de 15 anos, parecia em casa.

A abertura foi em força: “Lights Camera Action”, “In Your Eyes” e “Get Outta My Way” surgiram em rápida sucessão, com a australiana a mostrar que, aos 57 anos, ainda é dona e senhora do palco. O público, rendido desde o primeiro segundo, dançava em pé, gritava, agitava cartazes e abanava leques, a tentar fazer frente à temperatura tórrida que se fazia sentir no recinto. Kylie correspondia com sorrisos e flirt constante. Em “Spinning Around”, dá palmadas no próprio rabo, num gesto que o público celebrou como se fosse a primeira vez.

O concerto foi dividido em vários atos, e cada um trouxe uma nova pele. Para o segundo, surge num fato completo vermelho, brilhante como um sinal de alerta. Os bailarinos, que até então envergavam roupa escura, explodem em cores e chapéus, virando personagens de um musical alternativo. Em “Better the Devil You Know”, surgem como bonecos insufláveis gigantes. Em “Dancing”, Kylie pede para acenderem as luzes da sala. “Quero ver-vos”, diz, e vê-se o calor: há suor, há brilhos, há devotos junto de quem ela recolhe cartazes personalizados. Entre eles um disco antigo que assinou, não sem antes perguntar o nome ao admirador.

“The Loco-Motion” marca a primeira chuva de confettis. Parece um carnaval vintage com glitter e suor. Kylie, com os olhos postos na multidão, caminha até ao palco B, no centro da plateia. Aí, muda o tom. Sentimental, serena, canta “Hold On to Now” com três vocalistas de apoio vestidas de preto. Mais tarde, no momento acústico de “Where the Wild Roses Grow”, pergunta: “Quem vai ser a minha wild rose esta noite?”. Um momento íntimo num mar de exuberância.

O clímax estético e emocional chega com o ato quatro. Um telefone vermelho marca o início de algo mais escuro. O palco enche-se de fumo, e Kylie ressurge com um vestido negro, de mangas ausentes, como uma sacerdotisa de uma cerimónia secreta. “Confide in Me”, transformada em balada quase gótica, ganha nova vida. É seguida por “Slow”, que explode a meio, com direito a troca de visual para franjas brilhantes e ritmo acelerado.

“Tension” e “Can’t Get You Out of My Head” encerram o alinhamento principal, com o público a assumir os refrões como um mantra coletivo.

O encore não desilude: “Padam Padam”, já um fenómeno em TikTok e clubes de todo o mundo, transforma a arena num clube queer de proporções bíblicas. Finalmente, “Love at First Sight”, sela a noite com romantismo e nostalgia.

Esta digressão Tension, começou na sua Austrália natal em fevereiro, já passou pela Ásia e EUA, e está agora na Europa, não é apenas uma viagem ao passado. É um renascimento. Em todos os locais, incluindo Lisboa, o público confirma: Kylie Minogue está na sua melhor forma. Reinventa-se com ousadia, flutua entre o disco, o techno, o synth-pop e até o doom melódico, e mostra que ser diva é, acima de tudo, um trabalho de consistência, reinvenção e uma relação honesta com o público.

No final da noite, muitos continuavam de pé, como se esperassem mais um milagre. Talvez a deusa voltasse. Mas Kylie, envolta por confettis e abraços dos seus bailarinos, já tinha voltado ao Olimpo. E nós, na Terra, ficámos um pouco mais felizes.

Antes de Kylie, brilhou Jodie Harsh!

O festa ontem, na MEO Arena começou logo com Jodie Harsh, que abriu o concerto de Kylie Minogue com um set cheio de atitude.

Produtora musical, DJ, promotora e drag queen, Jodie Harsh, nome artístico de Jay Clarke, nascida em Canterbury e baseada em Londres, é uma das figuras mais influentes da cena clubbing britânica.

Misturou house, disco e electro-pop. Se a noite era para dançar, ela tratou de pôr Lisboa a mexer antes mesmo da Kylie entrar em palco.

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