De antiga zona de veraneio e descanso da elite lisboeta de outros tempos, a Quarteirão de Arte (Art District), a Junqueira está cada vez mais em destaque e trendy. Que o diga o seu novo equipamento, que combina um Museu de Arte Contemporânea e um hotel de 5 estrelas (o primeiro do género na Europa), de seu nome MACAM.
O novo museu resulta do sonho de um homem: Armando Martins, com fundos totalmente privados, está instalado no antigo Palacete da Ribeira Grande (também conhecido como Palácio dos Condes da Ribeira Grande), que começou por ser uma casa senhorial e terminou a sua vida como estabelecimento de ensino público – quem não se recorda do antigo Liceu Rainha Dona Amélia?

O edifício barroco, mandado edificar em princípios do século XVIII pelo 2º Marquês de Nisa, Dom Francisco Luiz Balthazar António da Gama, e depois ampliado pelo 8º Conde e 1º Marquês da Ribeira Grande, Dom Francisco de Salles Maria José António de Paula Vicente Gonçalves Zarco da Câmara encontrava-se em avançado estado de degradação, depois de ter sido deixado pelo Liceu em 2002, quando foi adquirido pelo empresário Armando Martins.
Dono de uma colecção de arte impressionante, composta por cerca de 600 obras, construída ao longo de 50 anos, o coleccionador pretendia mostrá-la e partilhá-la, e foi com esse intuito que adquiriu o edifício e idealizou um projeto para dar vida ao seu sonho, da autoria do estúdio de arquitetura português MetroUrbe. Neste momento é possível ver 1/3 do acervo, entre galerias, quartos e espaços públicos, as restantes peças encontram-se nas reservas.
Ao edifício original, agora recuperado e devolvido à sua glória e imponência inicial, foram acrescentados dois novos módulos de estilo contemporâneo, construídos no lugar onde antes existiam os pavilhões pré-fabricados do liceu na parte de trás. No meio, um amplo jardim permite apreciar o complexo, um espelho de água e algumas obras de arte aqui instaladas.
No total o complexo ocupa 13.000 metros quadrados acima do solo, sendo 2.000 metros quadrados deles de espaço expositivo. É no corpo principal, que estão instaladas no piso térreo, as duas galerias principais do museu; as recepções do museu e do hotel; e nos pisos superiores, uma parte dos quartos do hotel de 5 estrelas.
O Museu
Na Galeria 1 é possível visitar uma parte da coleção permanente, baptizada de Uma Coleção a Dois Tempos, com curadoria de Adelaide Ginga (a diretora do Museu), e que reúne peças do século XIX a 1980, de artistas portugueses. Já a Galeria 2, conta com curadoria de Carolina Quintela, e apresenta obras contemporâneas das várias áreas, desde fotografias, esculturas, vídeos, pinturas e instalações, de artistas nacionais e estrangeiros.
Neste piso podemos ver e apreciar obras de artistas como Alfredo Keil, Ângelo de Sousa, Amadeo de Sousa Cardozo, António Dacosta, Carlos Botelho, Cruzeiro Seixas, Eduardo Nery, Eduardo Viana, Fernanda Fragateiro, João Vaz, Almada Negreiros, José Malhoa, José de Guimarães, Julião Sarmento, Júlio Pomar, Manuel Cargaleiro, Marcelino Vespeira, Maria Helena Vieira da Silva, Nadir Afonso, Nikias Skapinakis, Paula Rego, Pedro Cabrita Reis, Pedro Reyes, Querubim Lapa, Rui Chafes, Helena Almeida, Ernesto Neto, Marina Abramovi?, Olafur Eliasson, Elmgreen & Dragset, Isa Genzken, Liam Gillick, Dan Graham, Thomas Struth, entre muitos outros.
Já na ala nova, com uma fachada revestida por uma série de azulejos tridimensionais, da autoria da artista e ceramista portuguesa Maria Ana Vasco Costa, inspirada na tradição portuguesa de fabrico de azulejos, encontramos as Galerias 3 e 4, dedicadas a exposições temporárias (está previsto cada mostra ficar aqui apenas 6 meses).
Por ocasião da abertura, as duas galerias apresentam duas mostras compostas apenas com peças da colecção de Armando Martins, mas o plano é, depois uma das galerias passar apenas a apresentar exposições oriundas de colecções privadas, sob o mote e filosofia: The House of Private Collections (A Casa das Coleções Privadas). O MACAM convidará outros colecionadores a mostrar aqui as suas coleções.
A Galeria 3 apresenta a mostra: O Antropoceno: em Busca de um Novo Humano?, com curadoria de Adelaide Ginga, “explora o profundo impacto da atividade humana no planeta, incitando a repensar a nossa relação com a natureza. A exposição reflecte sobre a atual crise climática, as responsabilidades éticas e a necessidade de justiça ambiental. Dividida em três secções, examinará a nossa posição cósmica, a influência humana no ambiente e a importância de proteger a natureza. A arte funciona como um barómetro da mudança, suscitando uma reflexão sobre o nosso papel de guardiães da Terra e a necessidade urgente de práticas sustentáveis”.
Já a Galeria 4, no piso superior, tem como título: Guerra: Realidade, Mito e Ficção, e tem curadoria de Adelaide Ginga e Carolina Quintela. A mostra “explora a fragilidade da vida e as complexidades do nosso mundo nesta fase de tensão e instabilidade, em que assistimos à perpetuação de conflitos ativos e disputas geopolíticas à escala global. Através de obras da coleção do MACAM, propõe-se a reflexão sobre os conceitos de verdade e realidade, mitologia, e ficção, promovendo diálogos abertos que cruzam e questionam passado e futuro. A exposição realça o poder da arte na promoção do diálogo, da empatia e da paz, utilizando vários meios para questionar as realidades da guerra e da experiência humana. Ao entrecruzar imaginação e realidade, sublinha o papel da arte na formação de perspectivas e na expressão das profundas vulnerabilidades do nosso tempo”.
O programa expositivo inclui também MURMUR, um projeto que convida artistas
emergentes a criar obras site-specific para o Grande Hall do edifício das Temporárias, para uma intervenção única. A primeira artista convidada é Marion Mounic que criou uma instalação de grande escala intitulada Harem, que invoca a memória e a resistência a um espaço territorial confinado às mulheres. Esta primeira apresentação tem a curadoria de Adelaide Ginga.
O MACAM dispõe ainda de um auditório, com capacidade para cerca de 50 pessoas; uma área de reservas (dividida em 3 zonas); e de uma loja com edições exclusivas de marcas portuguesas e outras especialmente selecionadas.
O Hotel
O MACAM Hotel é uma unidade de 5 estrelas, foi criado para manter a sustentabilidade do projeto (manutenção do museu e aquisição de novas peças), segundo explicou o seu proprietário, aquando a apresentação à imprensa, e convida a uma experiência imersiva, de dormir e “viver” num museu. Aqui, todos “somos guardiões das obras de arte”.
Com direção de Vera Cordeiro, o hotel dispõe de 64 quartos, com características distintas (existem 22 tipologias), como 6 estúdios, suites, e 14 quartos duplos na ala nova. Cada quarto é diferente, decorado com obras de arte da colecção do seu proprietário. Uma noite aqui pode rondar os 300/ 400 euros (valor base), a abertura está prevista para a Páscoa.
Também as áreas comuns, corredores, salas e terraços incluem obras de arte pertencentes à colecção, de que se destacam uma intervenção de José Pedro Croft: uma intervenção escultórica de grande dimensão composta por três elementos ovais em aço e vidro colorido, localizada no terraço nascente da fachada do palácio. E ainda, uma escultura em mármore para a fonte do jardim do antigo palácio, da autoria de Cristina Ataíde.
Complementam a oferta hoteleira um Café e um restaurante de “autor”: o Restaurante Contemporâneo, cuja cozinha é dirigida pelo Chefe Tiago Valente, que preparou um menu com base na Gastronomia Portuguesa, mas reinterpretada e inspirada em algumas das obras em exposição.
Conclui a oferta um bar muito especial, o àCapela – Live Arts Bar, instalado na capela dessacralizada do século XVIII dedicada a Nossa Senhora do Carmo, totalmente restaurada e onde se encontra um bar de artes performativas, que promete realizar vários eventos culturais, como concertos, sessões de poesia e de literatura.
É neste espaço que se encontra uma das obras mais impressionantes de todo o museu, o tríptico da autoria do artista espanhol Carlos Aires, criado especialmente para aqui, e onde o painel central é a peça central.
O MACAM abre portas ao público no dia 22 de março, coincidindo com o aniversário de Armando Martins (e da data aquisição da sua primeira obra de arte original, a 22 de março de 1974), com três dias de festa e entrada gratuita, entre as 10h00 e as 19h00.
O programa da inauguração inclui eventos musicais, de poesia, DJ sets, obras de arte comentadas e atividades para crianças entre outras.

A partir de dia 25 de março o preço para visitar o MACAM é de 15 euros – entrada geral, para todas as exposições; 12 euros – entrada combinada (exposição permanente e uma exposição temporária); 8 euros – exposição permanente; e 6 euros as exposições temporárias (cada). Os estudantes até aos 25 anos e os jovens dos 13 aos 18 anos têm um desconto de 50%. A entrada é gratuita para crianças até aos 12 anos, e no primeiro domingo de cada mês, entre as 10h00 e as 14h00.
O museu vai estar aberto ao público de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 19h00.
Todas as informações sobre o MACAM podem ser vistas aqui.













