Manu Chao voltou a demonstrar o seu estatuto de lenda viva da música latina com dois concertos esgotados no LAV – Lisboa ao Vivo, num curto espaço de tempo. Assistimos, este sábado, a uma autêntica celebração comunitária, onde o ska e o reggae se fundiram no seu estilo muito próprio e inconfundível, contagiando todos os presentes.
Durante duas horas e meia, Manu Chao e os seus dois companheiros de palco, Miguel Rumbao Serrano na percussão e Matumati na guitarra e efeitos sonoros, levaram o público ao delírio com uma sucessão de temas tocados a uma velocidade alucinante. O alinhamento não foi rigidamente definido: há temas que se estenderam de forma indefinida, com muitas pausas pelo meio, refrões repetidos, que voltaram ao longo da noite e mensagens cantadas a que todos deram eco, de forma espontânea. Foi uma noite de festa e dança, numa abordagem de caráter imprevisível.
O cenário, totalmente despojado, com um fundo negro e três cadeiras, destacava aquilo que realmente importava: a música. Miguel Rumbao trouxe ritmos intensos e Matumati enriqueceu a sonoridade com efeitos e solos de guitarra, conferindo mais textura às canções. A identidade musical de Manu Chao, com a sua fusão de estilos e influências globais, continua a cativar audiências de diferentes gerações.
A interação com o público é uma das marcas registadas de Manu Chao, e no LAV isso ficou mais uma vez evidente. A sua música ganha ainda mais força ao vivo, com discursos e gritos de resistência entre as canções, reforçando a sua mensagem política. Fizeram-se apelos à liberdade, evocou-se a paz e pegou-se no mapa mundo para enumerar os locais onde essa ação é mais premente.
Nos momentos mais intensos do concerto, o artista perguntava ao público “É finito?” e a resposta era um estrondoso “Não!”, ao que ele reagia com emoção e alegria: “É infiniiiiiito!”. A música continuava a fluir.
As duas despedidas encenadas, antes dos encores, mostraram o entusiasmo dos músicos em palco, que saltavam e dançavam ao som de um jingle eletrónico, deixando o público num estado de euforia ainda maior.
A carreira de Manu Chao tem sido marcada pela sua capacidade de unir culturas e abordar temas sociais de forma genuína. Desde os tempos da banda Mano Negra, nos anos 80, até ao sucesso global de Clandestino (1998), a sua trajetória reflete um espírito nómada e um compromisso com causas sociais. Este sábado, não faltaram temas como “Bongo Bong”, “Clandestino”, “Me Gustas Tú”, “Desaparecido”, “Je ne t’aime plus” e “Mala Vida”. Continuam a ser hinos incontornáveis da world music, e constituem banda sonora de movimentos sociais em todo o mundo, como provam as bandeiras erguidas esta noite, na sala.
Manu Chao continua a fazer concertos surpresa e a divulgar canções de forma discreta, sempre fiel ao seu espírito livre e inconformista. Em Lisboa, voltou a provar que a sua arte continua a atravessar fronteiras, inspirando multidões e mantendo vivo o seu estatuto de referência da música global.




















