NOS Primavera Sound Teve A Maior Afluência De Sempre

Por Sandra Mesquita / Fotos Oficiais de Hugo Lima

O NOS Primavera Sound levou ao Parque da Cidade do Porto mais de 80 mil pessoas naquela que, segundo a organização, foi a edição com a “maior afluência de sempre”. Entre os destaques da quinta edição, que decorreu entre os dias 9 e 11 de junho, estiveram os islandeses Sigur Rós; os Animal Collective; o mentor dos Beach Boys, Brian Wilson; o rock pouco convencional de PJ Harvey; e a electrónica dos Air.

Coube aos portugueses Sensible Soccers dar as boas vindas aos primeiros festivaleiros que íam chegando ao recinto do festival. Depressa, as coroas de flores e as toalhas de piquenique voltaram a ocupar os espaços verdes do Parque da Cidade. Estava oficialmente aberta mais uma Primavera e a época dos festivais de música nortenhos.

Seguiram-se os concertos de U.S Girls e Wild Nothing mas foram os norte-americanos Deerhunter que conseguiram agarrar a multidão em frente ao palco principal, apesar da ameaça da chuva. A primeira surpresa do dia chegou ao anoitecer com Julia Holter. A californiana de voz doce trouxe ao Primavera Sound temas como “Sea Calls Me Home” e “Everytime Boots”. Considerada uma das melhores vozes da canção contemporânea, Julia Holter ofereceu ao público um concerto de grande intensidade musical do inicio ao fim. Enquanto a artista ainda estava a atuar, grande parte do público migrava para o palco principal para ouvir o que tinha levado muitos ao festival: Sigur Rós.

Os islandeses apresentaram-se numa estrutura de metal para um espetáculo audiovisual sombrio que ilustrou a profundidade e melancolia das suas composições. A banda trouxe no repertório temas como “Sæglópur”, “Vaka” ou “Glosoli” e o novo “Óveður”. O burburinho de fundo foi uma das principais queixas dos fãs, o mesmo veio a verificar-se posteriormente em outros concertos. A noite encerrou com chuva e com o rock psicadélico dos Animal Collective.

No segundo dia do festival, em pleno feriado, deu-se, no recinto lotado, um encontro de gerações, não fosse Brian Wilson um dos principais destaques do cartaz. O veterano, mentor dos Beach Boys, trouxe ao festival o mítico “Pet Sounds”, o décimo álbum de estúdio da banda que marcou os anos 60. Durante mais de uma hora, com o pôr-do-sol como fundo, o público entrou na onda do surf rock ao som de clássicos como “Don’t Worry Baby”, “Good Vibrations”, “Would It Be Nice” e, perto do final, “Surfin USA”. Foi a celebração de um dos álbuns mais importantes de sempre e um dos momentos que ficará, com certeza, na história do festival.

Pisar o palco principal depois de Brian Wilson não foi tarefa fácil e coube a PJ Harvey, naquele que viria a ser um dos melhores concertos desta edição do NOS Primavera Sound. Sem guitarra, mas acompanhada por um saxofone e oito músicos, Polly Jean Harvey trouxe consigo The Hope Six Demolition Project. Se antes Brian Wilson tinha envolvido o Parque da Cidade na brisa boémia e sonhadora da Califórnia, PJ Harvey trouxe de volta a realidade com os temas políticos e crus do novo álbum lançado este ano. Durante um espetáculo que teve tanto de belo como de sombrio, PJ Harvey revisitou também trabalhos anteriores como The Words that Maketh Murder, 50ft Queenie, Down by the Bater e To Bring you my Love.

No mesmo dia passaram ainda pelo festival as repetentes Savages, num concerto explosivo, a fusão entre rock, jazz e música experimental dos Tortoise e o dream pop dos Beach House, que atuaram há uns meses nos coliseus.

No terceiro e último dia do festival, muitos ansiavam por ouvir a dupla francesa Air mas um dos momentos altos foi protagonizado pelos Linda Martini, a única banda portuguesa a atuar no palco principal. O quarteto trouxe consigo temas do último disco Sirumba e êxitos bem conhecidos como “Amor Combate” e “Ratos” e conseguiu a atenção de um público já quase vencido pelo cansaço de três dias de festival. Ainda durante o dia, atuaram os nova-iorquinos Chairlift, Cate Le Bon e Battles.

A dupla eletrónica Air, cabeças de cartaz, chegou com o cair da noite para um concerto aguardado por muitos mas que acabou por desiludir. O dueto de Versailhes apresentou uma retrospetiva dos seus 20 anos de carreira, revisitando temas como “Cherry Blossom Girl”, “Sexy Boy” e “Playground Love”. A prestação da banda tinha tudo para dar certo mas, uma vez mais, o barulho de fundo estragou a experiência de um belíssimo espetáculo, marcado pelas sonoridades celestiais e ambiente hipnotizante. Aliás, esse foi um dos pontos negativos desta edição do festival.

Com o crescimento e atenção mediática, o NOS Primavera Sound adquiriu um estatuto trendy atraindo, cada vez mais, um público diferente, movido não pela música mas pelo acontecimento social. O resultado é visível durante os concertos: são vários os grupos desinteressados que conversam em tom alto enquanto bebem sentados na relva. O espírito genuíno do NOS Primavera Sound tem vindo a perder-se de ano para ano. A noite prosseguiu com o quarteto americano post rock Explosions in the Sky, a eletrónica do trio berlinense Moderat e o irreverente Ty Segall and The Muggers.

A próxima edição do NOS Primavera Sound regressa em 2017 nos dias 8, 9 e 10 de junho. A partir de 4 de julho, ficam disponíveis os primeiros mil passes gerais para a sexta edição do festival.

 

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