A 31ª edição do festival Paredes de Coura terminou no passado sábado e contou com mais de 100 mil pessoas a passar pelo recinto. As datas para 2025 já estão confirmadas e os quatro dias mantém-se: 13, 14, 15 e 16 de agosto.
14 de Agosto
Palco Principal
O anfiteatro natural da música, abriu com First Breath After Coma + Noiserv + Banda de Música de Mateus. Muitos aplaudidos, afirmaram que “é sempre muito fixe estar aqui”.
Próximo das 19 horas e 40 minutos, subiram ao palco Glass Beams, um grupo que inicialmente iria tocar no palco secundário, mas, devido a um cancelamento de Bar Italia, trouxe uma energia que muitos não esperavam. De cara tapada, com umas máscaras brilhantes, começaram por ser uma incógnita e, rapidamente, passaram a ser a uma boa surpresa.
Pelas 21 horas e 30 minutos, sobe ao palco André 3000 que trouxe a música ambiente ao festival. No entanto, manteve-se a questão do início ao fim: terá sido uma boa seleção de horário para este concerto? Já passava do jantar e o mais de metade do público estava sentado, a apreciar, todos meios adormecidos. O artista apresentou o novo álbum, um jazz espiritual, que não foi recebido da melhor forma em Coura.
Num fundo laranja e vestido de branco, Sampha sobe ao palco feliz. Bate palmas, vai dançando, mas é quando abre a boca para fazer o que faz melhor (cantar), que o anfiteatro de Coura se apercebe: chegou Sampha!
Caracterizado pela sua voz inconfundível, Sampha trouxe uma mistura de géneros, instrumentos e sons que o público soube bem apreciar. Apesar de algumas conversas paralelas, “No one knows me like the piano” foi o culminar de um concerto quase perfeito. E digo quase, mas não por ele, mas sim pelo público que não soube respeitar a beleza e a musicalidade presente no palco.
O cabeça de cartaz, Killer Mike, subiu ao palco muito depois da uma da manhã, num momento que transcendeu o rap e o hip hop. O coro de gospel que trouxe para o palco foi um dos pontos altos deste concerto: cinco cantores, com poderosas vozes, acompanharam o artista e fizeram-no com excelência. Soltam-se aqui os primeiros crowdsurfings da noite e o ambiente representava tudo aquilo que Paredes de Coura é: uma autêntica devoção à música e ao artista.
No palco secundário, Wolf Manhattan abre as hostilidades com muitos sintetizadores e uma música dançável, seguindo-se de Sababa 5, num concerto de instrumentais, ritmos e melodias, numa espécie de “música de sala”. Dorian Concept foi o terceiro concerto neste palco, um Dj Set que cativou aqueles que esperavam pelo palco principal.
Do Festival Sobe à Vila para o palco secundário do Paredes de Coura, estão os 800 Gondomar que atuaram neste palco devido a uma alteração. O concerto serviu para conhecer a banda, mesmo que esta tenha um rock barulhento e, às vezes, um pouco confuso.
Perto da uma da manhã, atuou o confiante George Clanton, com uma voz desafinada, creio que propositada, para um público que ia conhecendo algumas músicas.
Terminados os concertos do palco secundário, chega a hora dos afters que arrancam com Model/Actriz, um rock psicadélico que gera os clássicos moches, sendo que é já na terceira música que o vocalista salta para o público e se junta à festa. “Welcome to the Party” afirma.
O primeiro dia terminou com o concerto de Sextile, às 4h15, para os mais corajosos e menos cansados.
15 de Agosto
O segundo dia do festival refletiu aquilo que todos os festivaleiros estavam à espera: uma autêntica festa. L’Impératrice, Slow J e Gilsons foram os grandes protagonistas da noite, que contou também com Sleater-Kinney e Quadra no palco principal.
Palco Principal
A segunda noite de Paredes de Coura começou com Quadra, banda portuguesa que pisou o palco principal com um groove que fez o chão abanar. Mas foram Gilsons, os brasileiros, que, de certa forma, arrancaram este dia. Uma multidão incomparável aplaudia, dançava e cantava ao som da, possivelmente, surpresa da noite. Perfeito para o fim do dia, o grupo trouxe o samba a Paredes de Coura e o público respondeu à letra.
Foi a vez de Sleater-Kinney, banda de mulheres, de subir ao palco com um concerto bom, ainda que não tenha sido aquele rock que o Coura está habituado.
O penúltimo concerto foi de L’Impératrice, às 23 horas e 50 minutos. Na verdade, mais parecia o último. Aplaudidos como nunca, o grupo francês, que já esteve em Paredes de Coura, continua a afirmar que “este é o melhor público de sempre”. Foram os reis da festa, foram disco, foram gigantes e futuristas. E foram melhores do que há dois anos.
Encerrar o palco principal esteve a cargo do artista português Slow J, que trouxe a batida do “AfroFado” ao habitat natural da música. As letras do artista ecoavam neste anfiteatro e o público percebe, imediatamente, que Slow J está feliz e realizado. “Aos anos que eu queria tocar neste palco” diz entre lágrimas escondidas.
Palco Secundário
Esta segunda noite começou com Moonshiners no palco secundário às 17 horas e 30 minutos, seguindo-se de Deeper, uma banda de clássico indie, muito concentrados, com ar de quem veio tocar e foi embora.
Logo pelas 20 horas e 50 minutos, sobe ao palco Wednesday, uma banda com potencial de palco principal, muito sofredora e com uma vocalista que, para quem não conhece, pode parecer que “só grita”. O concerto de Wednesday foi cativante, musicalmente estridente e poderoso.
Los Bitchos trouxeram uma multidão ao palco secundário, impossível de “furar” até ao centro. Apesar de serem uma banda de instrumental e bastante dançável, a sensação que deixaram foi semelhante a “comer um prato no restaurante sem repetir”, citando uma analogia feita em conversa com um jovem que assistia ao concerto.
Ainda neste palco, tocaram os sérios e zangados Protomartyr. Com um público de cara trancada, muito mais masculino e adulto, a banda veio tocar o seu rock, com um vocalista de mão no bolso e agarrado à sua lata de cerveja. Simples, sem muito alarido.
Às 3 horas e 15 minutos, foi a vez dos Sprints. A vocalista da banda interagia com o público, recetivo, que respondia através de mosh pits e crowdsourcing. Parece que, este ano, o power de Coura está todo neste palco.
O after da segunda noite ficou encarregue de Joy (Anonymous), um Dj set entre dois rapazes que manteve o recinto, e quem ainda lá estava, de copo no ar.
16 de Agosto
O terceiro dia arrancou com a batida de Branko, Dj português, no palco principal, num concerto que soou um pouco cedo para aquela hora. Visivelmente feliz, colocou os primeiros ouvintes do dia, a dançar.
De seguida, foi a vez de Nouvelle-Vague de trazer a inspiração francesa e do cinema ao recinto. Com um início um pouco parado, o concerto foi um crescendo, muito sensual e cheio de jazz. O grupo cantou uma série de covers, muito experimentais e teatrais, resumindo-se numa boa surpresa.
Já depois da hora de jantar, para muitos, entrou Cat Power, nome reconhecido na música, uma mulher com um vozeirão a sério. Contudo, e apesar da intimidade do concerto, a hora e, talvez o lugar, não tenham jogado a seu favor. Muito público sentado, aborrecido e a dormir comprovam a simplicidade, a mais, do concerto, nunca negando o poder da voz e da artista.
A noite seguia e era a vez de subir ao palco Girl in Red, artista norueguesa, que cantou e encantou a plateia de Paredes de Coura. O concerto foi energético e romântico, com grande parte da sua discografia a abordar a homossexualidade, sendo que a própria o referiu duas vezes, muito orgulhosa. O bloco central junto à barreira, tinha as letras na ponta da língua, trouxe cartazes e participou bastante durante o concerto. No entanto, a noite era de IDLES e isso ficou bem claro.
Chegou finalmente o concerto que todos esperavam: IDLES. A encosta de Coura tremia com a ânsia de ver a banda de punk rock, após estarem neste festival há dois anos. Muito afirmativos e ativistas, o grupo rebentou com o público logo nos primeiros momentos do concerto. Surgiram os rituais clássicos a que esta banda já está habituada – e o Paredes de Coura já sentia falta: mosh, crowdsurf, copos e roupas a voar. O entusiasmo sentia-se de uma ponta a outra, as palmas e os saltos cobriam o anfiteatro e o público respondia com muito respeito a tudo o que Joe Talbot, o vocalista, proferia.
No fim, avistavam-se copos partidos, brincos perdidos, roupa e até escovas de dentes, entre tudo o que é possível à imaginação. Foi a consequência de um dos melhores concertos, se não o melhor, desta edição do festival.
Palco Secundário
No palco secundário, o terceiro dia começou com Conferência Inferno, logo às 17 horas e 30 minutos, seguindo-se Nourished By Time, artista que trouxe o R&B a Coura, num concerto calmo e relaxante.
Este palco acolheu também Allah-Las, banda americana, e o português Benjamin, muito aplaudido pelo público. Este veio apresentar o seu novo álbum, num concerto mais experimental, eletrónico, mas que continuou a ter as canções clássicas do artista. Para alguns, foi “diferente do de 2022, mas para melhor”.
Perto da uma da manhã, sobem ao palco Beach Fossils, banda de indie rock de 2009; mais tarde Mdou Moctar e, para encerrar este dia, Traumhaus.
17 de Agosto
O último dia de Paredes de Coura começou às 18h10, no palco principal, com Hurray for the Riff Raff, uma banda americana de Alynda Segarra, que se tornou uma boa surpresa à medida que o concerto decorria.
O segundo concerto neste palco esteve a cargo de Baxter Dury, com uma presença inigualável, fez com que o público fosse, gradualmente, se aproximando do palco e fosse ouvindo o que o artista tinha a dizer. O músico inglês proporcionou a Coura um fim de tarde digno de festival, onde houve dança, palmas e boa música.
Já em hora “nobre”, o anfiteatro do palco principal estava composto para os últimos concertos. A banda Slowdive sobe ao palco e, sem grandes conversas com o público, regressaram a Coura e deram um concerto mediano e um pouco aborrecido. E isto verifica-se no público, que não teve a maior reação. As duas músicas mais conhecidas, e melhores, da banda: “Sugar for the Pill” e ”When the Sun Hits” foram o ponto alto deste concerto. Há de facto bandas que se ouvem melhor em casa, e esta é uma delas.
O penúlitmo concerto foi de The Jesus and The Mary Chain a banda escocesa de 40 anos. Jim Reid, frontman da banda, cantou meio encurvado para o público, trouxe a mulher e a cantora de Slowdive (RachelGoswell), num concerto para “a velha guarda”, como muitos referiram. A verdade é que, apesar de não terem levantado poeira em Coura, guardam um lugar especial na história do rock e, por isso, mereceram os aplausos no festival.
O último concerto desta noite, e do festival, foi o mais ansiado: Fountains D.C.. O recinto de Paredes de Coura estava “a abarrotar” de gente, não se passava nem para baixo nem para cima. “Estou à espera disto há bué” dizia um jovem para o amigo e, de sorriso rasgado, esperavam pelo grande momento em que a banda entrava e “partia tudo”.
O melhor do pós punk e do rock está aqui, em Fountains D.C., e eles provaram-no em Coura. Muito semelhantes, até fisicamente, às bandas dos anos 90 e 2000, subiram ao palco sem muita vaidade, com a bandeira da palestina agarrada a uma mesa e um Grian Chatten, vocalista da banda, muito teatral e dono do palco.
O público estava ali, vivo e cintilante, a cantar, dentro do mosh e a fazer crowdsurf, tudo aquilo que Coura sabe dar. Não diria que foram o melhor concerto desta edição, mas foram, sem dúvida, muito apreciados, acarinhados e aplaudidos, numa espécie de exigência para voltarem maiores, mais poderosos e oficialmente declarados como a melhor banda atual. Muito não lhes falta.
Palco Secundário
Valter Lobo abriu as hostilidades neste último dia de Paredes de Coura. Com a sua intimidade e proximidade, o artista provocou lágrimas e um forte coro em músicas como “Guarda me esta noite” e “Oste”. As pessoas foram mesmo às 17 horas e 30 minutos para o ouvir.
De seguida, foi a vez de Palehound de subir ao palco, com a vocalista EL Kempner a atuar sozinha, de mão dada com a guitarra, num concerto intimista e, talvez, desenhado para outro tipo de ambiente. Não deixou de ser uma ótima oportunidade para conhecer a artista e o seu reportório.
Hotline TNT tocaram às 20 horas e 40 minutos e, de seguida Sitll Corners, banda de indie pope dream pop, subiram ao palco para um concerto que não reuniu multidões. Ainda neste palco e antes de fechar o palco principal, foi a vez do grupo de indie rock Superchunk.
Fechado o palco principal, e considerado um after, o palco secundário recebeu o punk rock poderoso de Destroy Boys e, às 4 da manhã, para encerrar esta edição, Moullinex /\ GPU Panic que, apesar de terem tocado por pouco tempo, encerraram o festival como Coura gosta: a dançar e em festa.























