Primeira Comic Con Portugal Supera Expetativas e Importa Filas

Reportagem de Sara Peralta
 

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[dropcap]N[/dropcap]a passada sexta-feira, dia 5 de dezembro abriram as portas da primeira edição da Comic Con Portugal, para deleite de milhares de fãs dos mais variados segmentos da cultura pop. Com um extenso leque de áreas de interesse num conceito já muito explorado nos EUA, trata-se de um festival onde jogos, banda desenhada, anime, séries e cinema são o foco eleito, atraindo um público específico onde se encontram veteranos do universo do anime ou ávidos gamers, mas ao mesmo tempo chamando as massas que aderem às novas séries de TV.

Apesar da estranheza, cepticismo, críticas, ou de se encontrar descentralizado a norte do país, a realidade é que o evento atraiu 30 mil visitantes: os esperados cosplayers e otakus, os gamers, inúmeros interessados pelas diferentes secções, diversas famílias, e certamente muitos curiosos. Evento de sonho de qualquer geek que se preze, tornou-se realidade pela primeira vez em terras lusas no fim-de-semana de 5 a 7 de dezembro de 2014, pelas mãos da CITY e espalhado pelos 60 mil m² da EXPONOR.

Na zona de expositores, os visitantes puderam encontrar livrarias de BD (onde não faltavam exemplares das obras dos convidados), material para ilustração, diversas lojas de artigos originais, imenso merchandising, peluches, chapéus, roupa, tudo numa mistura geek para satisfazer todos os gostos. A FNAC marcou também presença através de um stand com filmes, livros, merchandising, e dois imponentes “manequins” de Batman e Assassin’s Creed a decorar o espaço. Nesta zona não faltaram claro os jogos, com várias consolas da XBox disponíveis com dois comandos, e inúmeras Wii u e Nintendo DS.

Com tantas actividades a decorrer em simultâneo, torna-se naturalmente impossível assistir a ou usufruir de tudo, e é aqui que entra a escolha de prioridades e a decisão de aguardar ou não em filas.

Sim, as filas: ninguém fala na Comic Con sem as mencionar, porém estas já se esperavam e são comuns a todos os eventos deste tipo e dimensão. Se no Hall of Fame ou nos Autógrafos de Comics há que aceitar ser impossível diminuí-las (são muitas pessoas a quererem um autógrafo de uma só que não tem a capacidade de se multiplicar, pelo que cada um necessita de pesar a importância de levar uma assinatura da celebridade em questão para casa), o auditório principal talvez possa vir a ter maior capacidade, e as filas para a alimentação, essas, uma falha sem dúvida a corrigir na próxima edição.

 

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A promessa de “uma grande variedade de produtos e refeições, também relacionadas com a temática do evento” caiu por terra, havendo muito escassa oferta na designada Zona de Alimentação – uns três stands com os típicos produtos de feiras ou festivais de verão – e outros três estabelecimentos da Exponor, sendo que num deles verificámos que após uma grande e demorada volta ao recinto, as mesmas pessoas tinham avançado dois metros na excruciante fila.

Tal como previsto, a 6.ª feira que marcou o primeiro dia do evento registou muito pouca afluência relativamente a sábado, em que a enchente era mais que visível e começou por se manifestar logo às 10h00 na gigantesca fila para a troca do bilhete pela pulseira, que chegava ao parque de estacionamento e agradecia o inverno soalheiro. Confessamos que nunca fomos adeptos do método de comprar um bilhete atempadamente para depois (apenas possível no dia) ter de enfrentar uma fila para o trocar, resultando para os visitantes em esperas de hora e meia para conseguir pisar a entrada do evento.

Dada a extensa oferta existente, os horários de Autógrafos de BD sobrepunham-se aos do Hall of Fame de nomes da TV e a presenças estelares no auditório, exigindo uma planificação cuidada por parte dos visitantes, obrigados a optar pelo que lhes despertava maior interesse. A este star-gazing juntava-se ainda a curiosidade pelos artistas menos conhecidos, a vontade de experimentar novos jogos, de tirar uma foto com um Storm Trooper ou Darth Vader, ou de embarcar numa “caça” aos cosplayers.

Se os artistas de renome obrigaram os fãs a marcar presença e os famosos do pequeno ecrã atraíram massas, a Artist’s Alley brilhava de talento e ninguém deixava de passar por lá. Com banda desenhada, ilustrações, caricaturas, e vários artistas a aceitar “comissions”, era um cantinho que não podia faltar no evento e onde se tornava evidente o talento presente pelas mãos dos vários artistas (maioritariamente portugueses), dedicados à sua arte e dispostos a dois dedos de conversa.

 

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Aos convidados de BD não faltou público, e o sucesso da presença de Brian K. Vaughan reflectiu-se na aglomeração de pessoas desejosas por um autógrafo, numa fila que começou a formar-se cerca de uma hora antes da sua presença e se alinhava desde a mesa onde rabiscava livro atrás de livro, até à Artist’s Alley, ocupando todo o hall. E se Vaughan despachava autógrafos e mais autógrafos, Carlos Pacheco desenhava incansavelmente para encanto dos fãs que viam chegar a sua vez, ora em livros ora em papel, até se ver obrigado a acelerar dado que se avizinhava a hora do painel e a sua fila não era encerrada (resultando numa espera infrutífera para os últimos desta).

Quanto a Morena Baccarin, Natalie Dormer ou Paul Blackthorne, palavras para quê? Incontáveis fãs compunham intermináveis filas para uma oportunidade de ver cada um deles.

Novamente, se os grandes nomes convidados geravam o burburinho e excitação pré-evento, na hora do evento, a Fan Zone brilhou. Mérito a quem o merece, e os representantes da Legião 501 e do Star Wars Clube Portugal estão de parabéns pela animação proporcionada aos fãs com fotos divertidas e pequenos jogos (como acertar num Storm Trooper com uma arma Nerf), havendo vários membros a patrulhar o recinto, sempre disponíveis para uma foto. Outro ponto alto foi a Marcha Imperial realizada por estes cosplayers, que decorreu várias vezes durante todo o fim de semana, infelizmente sem se saber quando.

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E falando em cosplayers, o evento também não seria o mesmo sem os inúmeros visitantes vestidos a rigor, alvos de olhares, exclamações, fotos e sorrisos. Quer sejam cosplayers ocasionais que compraram um fato ou juntaram uns acessórios, quer sejam cosplayers dedicados à sua arte que passam meses agarrados à máquina de costura e mais variados materiais e técnicas para terem a sua criação pronta a tempo, o evento não tinha a mesma piada sem eles, ponto assente. Anime e influência nipónica sempre em peso, mas também jogos, séries ou cinema. A série Doctor Who, que em terras lusas parece sempre ainda consideravelmente longe da loucura “whovian” além fronteiras, viu-se representada por diversos 11th Doctors em versão feminina – com mais ou menos complexidade e rigor, o lacinho vermelho não deixava dúvidas. Steampunk, lolitas, anime, inúmeros super-heróis e heroínas, Joker’s, Poison Ivy’s, Thor’s (no feminino), etc. O Sniper (também no feminino) do jogo Team Fortress 2, personagens de League of Legends, Pikachu’s, alunos de Hogwarts, Breaking Bad, Back to the Future, e claro, Star Wars.

A animar o evento estiveram também os zombies da Fox, sendo que qualquer pessoa podia alugar um (gratuitamente) por meia hora, passeando-o com uma corda como se de um animal de estimação se tratasse. Muito bem caracterizados, proporcionaram alguns dos momentos mais divertidos, como aquele em que uma visitante atiçou o seu “bichano” para cima de vários Storm Troopers que saíram a correr de forma caricata, fugindo comicamente do zombie que os tentava morder.

Para os que queriam assistir a apresentações, workshops e pedir autógrafos, pouco tempo sobrava para usufruir do recinto, mas para os restantes, era possível descontrair nos diferentes espaços e perder-se entre bancas (com muito merchandising, banda desenhada oriental e ocidental, a cores ou a preto e branco, jogos de tabuleiro, videojogos, doces e snacks japoneses, e de tudo um pouco), exposições, um mini karaoke, e muitos jogos.

comicon2014-008A Expo Syfy despertou bastante interesse e apresentava uma fila considerável para entrar, onde se observavam peças dos filmes Exterminador Implacável, X-Men, Pesadelo em Elm Street, Charlie e a Fábrica de Chocolate, Piratas das Caraíbas, Kill Bill, entre outros. A exposição de BD, que apresentava reproduções de Marcos Martin e Javier Rodriguez, situava-se numa zona de passagem que lhe tirava destaque.

A zona infantil parecia desconectada do resto, acabando por nunca cativar praticamente ninguém, e junto a esta estava a zona de TCG (Trading Card Games), virtualmente deserta, revelando-se demasiado grande para a recepção que teve. Por outro lado, as mesas de jogos de tabuleiro junto às bancas de expositores estavam sempre repletas de jogadores. Na zona XBox era quase impossível apanhar um comando livre, e as consolas portáteis, embora consideravelmente mais disponíveis, não ficavam muito atrás. Existia ainda uma pequena área de jogos independentes, maioritariamente ainda em desenvolvimento, onde era possível testá-los um pouco.

À semelhança das outras zonas de jogos, tinha bastante afluência, porém tivemos a oportunidade de experimentar dois novos jogos portugueses para telemóvel: Beetle’s Land, onde somos um escaravelho paraquedista que vai caindo e coleccionando items ou desviando de obstáculos, e Guess What, que tem por base o jogo onde se cola um post-it na testa com o nome de uma celebridade e se tenta adivinhar quem é através de pistas dadas pelos outros – aqui escolhe-se a categoria (animais, desporto, cinema, etc) e o telemóvel gera as palavras, devendo o jogador encostá-lo à própria testa e incliná-lo para a frente ao acertar ou para trás para passar.

Regressando a uma das maiores atracções do evento: o cosplay, que não se ficando por pessoas mascaradas desfilando pelo recinto, culminou num concurso. Era considerado por muitos uma das actividades mais esperadas, porém, face ao cansaço, filas, e lotações, nem todos efectivamente esperaram. Neste concurso “Heróis do Cosplay”, organizado por caras já estabelecidas no cosplay nacional como Leonor Grácias (com uma década de experiência e várias representações internacionais), três dezenas de cosplayers apresentaram-se em palco, individualmente ou em grupo, acompanhados de uma música ou algum áudio e de uma imagem de fundo ou um vídeo, para realizar os chamados “skits” onde exibem a sua criação com uma pequena performance.

O Auditório Comics rapidamente lotou, e seguiu-se então o mix de representação e arte performativa com criação artística e trabalhos manuais, onde eram avaliadas as obras pela sua qualidade, complexidade ou dificuldade de confecção, e semelhança aos originais em que se inspiravam. Entre Anime, Comics e Jogos, a última categoria teve especial destaque entre os participantes, e no final, o grande vencedor foi Raúl Batista, com o seu War Machine de Iron Man.

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A Comic Con Portugal importou o modelo norte-americano, e com ele, as filas. A afluência foi superior à prevista, e no sábado, a estrela do dia foi… a fila. Fila para comer, fila para o café, fila para o multibanco, fila para a casa de banho, fila para os auditórios, fila para os autógrafos.

O inesperado sucesso do evento é inquestionável e a organização viu-se vítima dele mesmo nas inúmeras queixas quanto às filas. E se é verdade que algumas filas não podem ser evitadas, também o é que outras carecem de uma melhor gestão, de cálculos de lotações e tempos e de encerramento das mesmas. Além das filas em si, observando-se zonas sempre sobrelotadas e outras completamente desertas, existiu certamente um problema de espaço subaproveitado, que deverá ser repensado nas próximas edições. Dito isto, existem naturalmente pormenores a acertar e arestas a limar, contudo esta primeira edição termina com nota positiva, e espaço para evoluir.

A diversidade com que o evento nos presenteou foi notável, combinando cinema, jogos, BD, e concedendo a todos igual respeito e semelhante destaque. Os artistas de TV foram chamados para atrair o grande público, porém as restantes áreas revelam-se peças importantíssimas de um panorama maior que compõe um verdadeiro evento de cultura pop, onde todas essas peças encaixam bastante bem criando todo um ambiente fantástico para os fãs. A afluência não só foi visível como refletida nas filas, na razia de stocks das livrarias e bancas, e no feedback positivo dos artistas presentes na Artist’s Alley.

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Para lá dos percalços logísticos, a Comic Con Portugal 2014 foi seguramente um sucesso, e se enquanto lá estávamos batia o cansaço, as horas a fio no recinto, o tempo passado em pé, as filas a deitar pelos olhos, já não sabermos para onde nos virar e descobrir o que não tínhamos ainda usufruído e não estava já ocupado ou a lotar, agora que acabou, vontade não falta de voltar, de ver as bancas com mais atenção, de fazer algumas compras, de ver a Artist’s Alley de ponta a ponta com minúcia e pedir uma comission, de pedir algum autógrafo, de fotografar mais cosplayers, de jogar mais jogos, enfim.

Felizmente, está já garantida a existência da Comic Con Portugal nos próximos quatro anos. Até para o ano!

O C&H agradece o apoio do Hotel Ibis Porto – Gaia no alojamento da sua equipa. 
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