Resistência fizeram Campo Pequeno voltar atrás no tempo … 20 anos

Reportagem de Elsa Furtado (texto) e Francisco Padrão Mota (fotos)

O Campo Pequeno em Lisboa foi pequeno, ontem à noite para a festa de 20 anos dos Resistência. Mais de 6500 pessoas (segundo fontes da organização) não quiseram deixar de responder à chamada desta superbanda da música portuguesa da década de 90.

O início estava marcado para as 21h00, mas o atraso da praxe impunha-se, para ocupar o tempo, um documentário sobre a banda, com entrevistas a alguns dos músicos envolvidos ocupava os ecrãs espalhados pelo recinto e lembrava ou relembrava histórias vividas em 1992 e fazia soar as primeiras palmas entre a audiência, e foi assim embalada, que esta se levantou numa chuva de palmas para receber os 12 “resistentes” quando estes entraram em palco.

A noite prometia e o alinhamento também, para introdução um instrumental, que deu nome ao segundo álbum do grupo “Mano a Mano”  dos Madredeus, palmas e o grupo avança para “Nasce Selvagem dos Delfins” – com um Miguel Àngelo de boina e capa preta a cantar a plenos pulmões e o público não se fez rogado e juntou-se em coro, mostrando que ainda se lembrava da letra.

E é um Miguel Ângelo entusiasmado que grita “Boa noite Lisboa, boa noite Campo Pequeno, boa noite Portugal”, entre um tema e outro da sua antiga banda. Segue-se “No Meu Quarto”, e o público vai acompanhando, com palmas e com coros, ao fim ao cabo não passaram assim tantos anos.

 
 

Segue-se Xutos e “Esta Cidade” e o público delira, não é a toa que eles continuam a ser uma das maiores bandas nacionais e ainda há menos de duas semanas encheram esta mesma sala dois dias seguidos. O momento seguinte é dedicado a Zeca Afonso, que TIM fez questão de lembrar e homenagear.  “Que Amor Não Me Engana”, “Chamaram-me Cigano”, “Liberdade” e “Traz Outro Amigo Também” são os temas que fazem recordar e pensar em como o tempo passou, e a situação parece igual – ironias do destino, para uma geração que viveu uma juventude em liberdade e sem limites, em que o sonho é que comandava (como já dizia António Gedeão na sua “Pedra Filosofal”).

Pelo meio, canta-se “Timor”, Miguel Ângelo relembra o papel do tema quando surgiu e que agora tem uma nova missão – a de celebração, e o público adere, e canta animadamente, um dos hinos da luta pela liberdade em Timor Lorosae.

Em “Fim” (“Quando Eu Morrer”), Olavo Bilac com a sua voz rouca, provoca um dos momentos mais intimistas e interospetivos da noite, esta é verdadeiramente uma justa homenagem a Zeca, o homem que escreveu e cantou a liberdade e as injustiças, ainda antes de ser possível, com Bilac a fazer uma vénia no final e o público aplaudir fortemente.

A ampulheta do tempo avança e relembra-se Heróis do Mar, com “Só no Mar”, e um grande momento de percussão com José Salgueiro e Alexandre Frazão sozinhos em palco. E o concerto continua em ritmo acelarado. “Amanhã é Sempre Longe Demais”, tem direito a coro e a salva de palmas quase constante e segue-se mais um grande momento com “Quando a Noite Cai” e a “Marcha dos Desalinhados”, com o Campo Pequeno a “marchar” e a cantar em pleno. Na frente do palco, começa-se a ver uma bandeira portuguesa a esvoaçar.

Outros clássicos se seguem: “Piano Selvagem”, “Um Lugar ao Sol”, “Todos Nós Temos Amália na Voz” de António Variações, e por aí fora, até chegar a “Circo de Feras”, e a um TIM sorridente a entoar um dos seus temas já habituais, mais uma vez com o público em conjunto.

Quase a terminar, Fernando Cunha agradeceu “a noite magnífica e pela qual valeu a pena esperar 18 anos”, depois chamou a palco um amigo de outros tempos, o guitarrista Fredo Mergner, que mostrou que a idade não é requisito para se saber tocar e bem uma guitarra elétrica e animar multidões.

E o fecho dá-se com “Não Sou o Único” e um Campo Pequeno em pé a cantar e a bater palmas incessantemente até o grupo regressar para o primeiro encore. “À Procura do Amanhã” – uma mensagem de esperança foi o tema escolhido, com Olavo Bilac a entrar em palco com uma bandeira nacional, que depois passou para o companheiro Miguel Àngelo. A terminar, um Campo Pequeno em palmas e a gritar “Portugal”, “Portugal”, “Portugal”.

José Salgueiro, Alexandre frazão, Pedro Jóia (uma novidade na formação), Pedro Ayres Magalhães, Tim, Fernando Cunha, Fernando Júdice, Mário Delgado,Dudas, Miguel Ângelo e Olavo Bilac, deixam o palco, quase três horas depois… mas o público não está satisfeito e pede mais … e eles corresponderam e voltaram para um último tema … “Nasce Selvagem”, como todos nós nascemos um dia, encerrando assim um grande concerto, em que a música, a poesia e a língua portuguesa foram as protagonistas.

À saída, o cheiro quente das castanhas assadas misturava-se no ar com um travo de saudade, nostalgia pelo tempo em que ainda éramos jovens e tínhamos esperança num futuro … um futuro a que agora nos leva numa viagem no tempo, exatamente 20 anos para trás.

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