Segundo Dia do Primavera Sound Porto: Lana Del Rey Encanta, Mas Palco Vodafone Em Suspenso

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Lana del Rey
Lana del Rey ©Hugo Lima

Lotação esgotada, ao segundo dia de Primavera Sound Porto para ver Lana Del Rey. O glamour retro tomou conta do recinto, que se vestiu a rigor. A artista foi recebida com euforia, entre gritos de alegria e lágrimas de emoção.

A programação do festival sofreu alterações de última hora, com a suspensão da programação num dos palcos principais. De acordo com comunicado da organização nas redes sociais “Infelizmente, todos os concertos previstos para hoje no Palco Vodafone foram cancelados. Justice e Classe Crua não irão atuar.” MUTU foi reagendado para o palco Super Bock a partir da 00h55 e The Legendary Tigerman irá atuar este sábado em horário a definir.

O palco Vodafone encontrava-se vedado e não foi possível determinar se a situação ficará resolvida para as atuações do último dia.

Uma Noite de Encanto com Lana del Rey

As mulheres continuam em destaque no cartaz desta edição. Esta sexta-feira Lana del Rey deixou a multidão fascinada só com a sua presença.

À entrada no recinto, neste ultimo dia, era evidente qual seria o artista do dia. As fãs de Lana del Rey fizeram questão de marcar presença no Primavera Sound Porto com um estilo inspirado na própria estética vintage e romântica da cantora. Quase parecia um baile de debutantes. Vestidos brancos, remetendo para a moda dos anos 60 e 70, com saias rodadas e tecidos leves. Algumas optaram por looks mais dramáticos, com vestidos em renda branca ou preta, evocando um ar gótico e misterioso.

Volumosos laços ou flores entrançadas no cabelo foram escolhas comuns. À semelhança do concerto de Taylor Swift, cada vez mais, ir a um concerto é também a oportunidade que os fãs têm de assumir um novo personagem, com características dos seus ídolos.

A frontline foi preenchida logo à abertura de portas e foi longa a espera até perto das 23h30, quando a cantora entrou em palco, com um ligeiro atraso.

A gritaria começou com os primeiros acordes de “Without You”. Lana del Rey surgiu perfeita, qual boneca de porcelana, brilhante, pronta para partilhar a sua voz carregada de emoções.

Mas durante a primeira parte do concerto o som não esteve nas melhores condições e só a partir de “Bartender” é que se conseguiu verdadeiramente apreciar a grandiosidade do alcance das suas cordas vocais.

O cenário do concerto era um verdadeiro jardim paradisíaco, com varandas, baloiços e vegetação espalhada entre os instrumentos. Este cenário contribuiu para criar uma atmosfera onírica e nostálgica.

“Olá Portugal, é tão bom estar aqui hoje convosco” referiu no início do concerto, e voltou a reforçar mais tarde.

A euforia do consumo rápido tomou conta dos festivais e aos sets limitados juntam-se temas encurtados, para que um alinhamento de cerca de duas dezenas de temas caiba em hora e meia de concerto. Lana del Rey trouxe “West Coast” e “um cheirinho” de “Doin’ Time”.

O alinhamento do concerto passou por toda a sua carreira, incluindo assim os grandes sucessos. “Summertime Sadness” foi um dos pontos altos, que deixou a multidão eufórica. “Muito obrigada por cantarem conosco. Estou tão feliz de estar aqui” suspirou no final.

“Pretty When You Cry” transmite uma estética irrepreensível, Lana del Rey canta deitada, entre as bailarinas. Em “Ride” a assistência é brindada com uma atuação de acrobacias aéreas, com duas artistas a atuar em modo de dueto, numa lira.

Depois de “Born To Die” Lana del Rey desceu até ao público, recolheu flores, aceitou adereços, deu abraços e tirou selfies com os seus admiradores, criando um momento de proximidade e carinho com os fãs.

A atuação continuou com “Bartender” do álbum “Norman Fucking Rockwell!” (2019) e “Chemtrails Over the Country Club”. “The Grants” foi um momento particularmente comovente, com a participação de um coro de gospel.

Sem tempo para recuperar, a cantora ofereceu “Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd”, do seu último álbum, editado em 2023. Em “Norman fucking Rockwell” o público iluminou o recinto com os telemóveis e a cantora fez questão de agradecer no final “Obrigada pelos pirilampos. Adoro-os!”

Seguiu-se “Arcadia” e “Video Games”, cantados pela multidão a uma só voz.

A inovação aterrou em “hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but I have it” em que o tema é cantado por um holograma. A imagem tridimensional de Lana del Rey, gerada por feixes de luz, mostrava a cantora a usar outro vestido e com o cabelo solto. Qual boneca numa caixa de música rodopiou lentamente ao longo de toda a canção.

“A&W” e “Young and Beautiful” fecharam esta viagem emocional.  A sua presença em palco, combinada com a sua estética cuidadosamente elaborada e a ligação íntima que estabelece com o público, faz dos seus concertos experiências memoráveis e profundamente envolventes.

A festa de The Last Dinner Party

Antes, no palco Porto atuou a banda The Last Dinner Party, que nem queriam acreditar na multidão que tinham pela frente. Percebendo, claro, que teria muito que ver com o facto de atuarem antes de Lana del Rey.

The Last Dinner Party é uma banda britânica muito recente, formada em 2021, mas que tem captado a atenção do público e da crítica.

É composta por Abigail Morris (vocalista), Georgia Davies (baixista), Emily Roberts (guitarrista), Lizzie Mayland (guitarrista) e Aurora Nishevci (tecladista) e traz um rock alternativo contemporâneo.

Editaram o seu primeiro álbum, Prelude To Ecstasy, em fevereiro deste ano, e foi esse o mote para o concerto no Primavera Sound Porto. Com uma atuação dinâmica e capacidade de cativar multidões, destacaram-se pela boa energia em palco. Fecharam com o seu grande hit “Nothing Matters”.

A flok rock indie de This is The Kit

Há artistas que verdadeiramente ganharam com a suspensão das atuações de um dos palcos. This Is The Kit foi uma delas. Uma boa parte da afluência deste final de tarde ficou a assistir à atuação da banda britânica liderada pela cantora e compositora Kate Stables.

Descontraída, disse logo no início do concerto “isto até parece um festival inglês, com chuva e impermeáveis”. O público recuperava da primeira grande trovoada do dia (e felizmente, a única durante esta noite). O som do grupo é caracterizado por arranjos delicados, letras poéticas e a voz distinta de Stables, que se destaca pela sua suavidade e emotividade.

Novos territórios musicais

O Primavera Sound Porto costuma promover verdadeiros momentos disruptivos. Lambchop foi um deles. A banda americana de Nashville, Tennessee, formada em 1986 é liderada por Kurt Wagner. É conhecida pelo seu som único que mistura elementos de country alternativo, soul, jazz e pop. A presença de Kurt Wagner no palco é notável, com o seu estilo vocal calmo e conversa tranquila com o público.

Outra estreia em Portugal foi Crumb, a banda de indie rock psicadélico formada em Boston, Massachusetts, em 2016. A banda é composta por Lila Ramani (vocal e guitarra), Jesse Brotter (baixo), Jonathan Gilad (bateria) e Brian Aronow (teclados e sintetizadores).

Crumb é conhecida pelo seu som etéreo e atmosférico, com o qual inundou o recinto do Primavera Sound Porto.

O início de tarde com Milhanhas e André Henriques

Com a atuação afetada pela chuva, André Henriques subiu ao palco para apresentar Leveza, segundo álbum do artista.  “Os Fantasmas de Amanhã”, “As Janelas São de Abrir” e “Espanto” foram alguns dos novos temas tocados. Na bagagem, o compositor e intérprete fez-se acompanhar ainda do seu álbum de estreia, intitulado Cajarana.

Milhanas foi a cantora que abriu o palco Porto. “Estou a tocar no palco onde vai tocar a Lana del Rey. Espero que gostem!” dissem no início do concerto, com emoção.

Milhanas tem uma formação diversificada, tendo estudado jazz e música moderna, o que se reflete na sua versatilidade e na capacidade de navegar por diferentes géneros musicais. As suas influências incluem fado, jazz, soul e música popular, criando uma fusão única que a distingue no cenário musical.

A sua autenticidade e talento garantem-lhe um lugar de destaque na nova vaga de artistas portugueses que procuram inovar e trazer novas sonoridades à música nacional.

O recinto volta hoje a abrir portas para o terceiro dia: atuam Mandy, Indiana, Arca, The National, Conjunto Corona, Pulp, Billy Woods, Ethel Cain, Lisabö, Soluna, Shellac: Listening Party, Mannequin Pussy, Joanna Sternberg, Gel, Expresso Transatlântico, Best Youth e Tiago Bettencourt.

Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e custam 75 euros.

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