Segundo Dia Do SonicBlast Fest 2025: Entre O Misticismo E As Sonoridades Do Oriente

Por Diana Silva (Fotografia) e João Barroso (Texto)

Witchcraft - SonicBlast
Witchcraft

Se a neblina tomou conta da atmosfera, no primeiro dia do SonicBlast, não se julgue que Áclis nos ofereceu uma trégua, nesta segunda jornada. A bruma voltou a cair sobre a Praia da Duna dos Caldeirões, trazendo uma certa aura de misticismo. Mesmo a propósito, foram sonoridades orientais que abriram o Stage 3, ao início da tarde de sexta-feira.

De Tokyo à Foz do Douro, Através da Rota da Seda e Passando por Lisboa

O segundo dia do SonicBlast começou ao ritmo dos psychedelic rockers TÕ YÕ. Oriundos de Tokyo, os japoneses fizeram jus à fama de ecletismo de que goza o festival, mostrando a boa música que se faz noutras paragens. Na bagagem, o grupo trouxe o seu álbum de estreia, Stray Birds from the Far East, editado em agosto de 2023, e um pouco do perfume da cena psicadélica oriental, inspirada, naturalmente, por nomes como Jimi Hendrix e Led Zeppelin.

Depois das melodias psych, que terão conquistado muita gente junto à praia, já que esta e o recinto do SonicBlast estão apenas separados pelas dunas, entraram em cena os lisboetas Nagasaki Sunrise, com o seu Thrash, polvilhado por nuances Punk. Com dois registos de longa-duração e um EP editados, o conjunto nacional ajudou a subir os decibéis e a acordar todos aqueles que, inadvertidamente, ainda repousavam, no conforto dos seus quartos de ocasião.

Seguiram-se os Sunflowers, banda do Porto, a cidade onde terminou a etapa inicial deste segundo dia de festival. Apesar de contar apenas com uma década de carreira, o grupo tem mantido intensa atividade, somando vários discos editados. Foi essa obra, carregada de elementos psych, garage e noise que descarregaram, com mestria, sobre todos aqueles que se atreveram a acorrer mais cedo às imediações do Main Stage 1.

Na Terra dos Gnomos

Gnome

Desde cedo que se podia observar uma imensa procissão de chapéus vermelhos e pontiagudos a rasgar o recinto do SonicBlast. Afinal, o dia ficaria marcado pela estreia dos belgas Gnome em território nacional. A banda surgiu na cidade de Antuérpia, em 2016, e cedo se destacou por temperar o seu Stoner/Prog Metal com generosas doses de humor e fantasia, facto que lhes granjeou uma mole de fiéis seguidores, ao longo de uma década de carreira.

Com três registos de longa duração no bornal, o trio composto por Rutger Verbist (voz e guitarra), Egon Loosveldt (bateria) e Geoffrey Verhulst (baixo) entrou em cena ao som de uma música introdutória de tonalidades caribenhas. De imediato, colocaram os famosos chapéus na cabeça e encararam a horda de “gnomos de jardim” que tinham à sua frente, cada um com o respectivo barrete.

SonicBlast! How are you doing?“, cumprimentou-nos Verbist. Depois, juntou-se aos companheiros, para nos oferecer uma hora de peso e diversão, ao qual não faltaram os crowdsurfers de serviço, com e sem chapéu, navegando ao sabor das ondas sonoras que transpiravam do palco. O set de Gnome incidiu, sobretudo, sobre o seu mais recente disco, o Vestiges of Verumex Visidrom, de 2024, sendo que também pudemos escutar alguns temas do registo anterior: “Wenceslas” despertou palmas a compasso e o epílogo chegou com a muito aclamada “Ambrosius”.

O Silêncio Desce Sobre a Duna dos Caldeirões

Emma Ruth Rundle

À hora dourada, pouco antes do pôr-do-sol, Emma Ruth Rundle subiu ao Main Stage 1 do SonicBlast. Consigo, trazia apenas as suas guitarras e um rol de canções melancólicas. Sentou-se e dedilhou os primeiros acordes de “Living With The Black Dog”. De repente, o Silêncio desceu sobre a Duna dos Caldeirões.

My name is Emma and I’m very grateful and honored to be here!“, cumprimentou-nos, timidamente, a cantora norte-americana, explicando, de seguida que, depois de nos ter oferecido alguns temas mais antigos, iria tocar (e cantar) músicas mais recentes. Na hora que se seguiria, entre o silêncio e a natureza, Emma interpretou algumas das canções que têm marcado a sua carreira a solo, sendo que o destaque foi “Citadel”, obra editada em 2021, com o disco Engine of Hell, fazendo uma analogia entre a letra da música e aquilo que sentia no momento: “I feel better when I am with you“, confessou.

Dos Clubs de Belfast aos discípulos de Shiva e Ganesha

Chalk

Oriundos do cenário dance de Belfast, na Irlanda do Norte, os Chalk trouxeram ao SonicBlast uma fusão de post-punk e música eletrónica, transformando o recinto numa réplica de um club da sua cidade-natal.

A banda emergiu das obscuras profundezas pós-pandémicas, procurando fundir uma amálgama de diferentes sonoridades, que abraçasse todos os géneros apreciados pelo trio de músicos.

Ainda que com apenas três EPs editados, todos com o mesmo nome de baptismo, distinguindo-se apenas pela numeração correspondente à idade (Conditions I, II e III), o grupo trouxe voltagem suficiente para cativar o público que se juntou, em grande número, em frente ao Main Stage 2, e mostrou porque é considerada uma das melhores bandas ao vivo, na ilha irlandesa, graças à atmosfera intensa, rítmica e cinematográfica que proporcionam nos seus concertos. Provavelmente, fruto dos anos em que estudaram, juntos, numa escola de cinema.

“Static” foi um dos temas mais aclamados de um serão que, certamente, conquistou novos fãs ao conjunto.

My Sleeping Karma

O título de banda mais aguardada do segundo dia do festival coube aos germânicos My Sleeping Karma.

O nome do grupo reflete bem o seu lado espiritual: se atendermos ao art work que ilustra as suas obras e às composições que emanam da sua mente criativa, podemos considerá-los apaixonados pela filosofia Hindu e devotos discípulos de Shiva e Ganesha. Ora, foi com esta fórmula, precisamente, que a formação de Aschaffenburg nos embalou. Sem precisar de usar palavras, o conjunto alemão falou através do seu post-rock, de cariz psicadélico. O suficiente para deixar em transe os incautos festivaleiros que enchiam o recinto.

Pelo palco desfilaram temas dos vários registos editados pela banda, sendo que “Ephedra” e “Prithvi” fizeram as delícias da plateia.

Momento Ozzy e Bruxaria

Depois da performance de My Sleeping Karma, a tela que enfeita o palco foi ocupada por uma imagem de Ozzy Osbourne, figura omnipresente, ao longo de todo o certame. No mesmo instante, o clássico “Crazy Train”, a canção mais icónica da sua obra a solo, soou nas colunas e foi rapidamente acompanhada pelo coro do SonicBlast. Um momento de homenagem espontânea que aqueceu as hostas, a poucos instantes de receber os suecos Witchcraft.

Witchcraft

Naturais de Örebro, na Suécia, os Witchcraft foram dos primeiros a navegar uma onda que revitalizou o Occult Rock, uma espécie de parente próximo do Doom, cuja génese remonta aos anos 60 e 70, pelo que era natural a expectativa reinante.

Pouco depois da hora marcada, o grupo subiu ao palco e cumprimentou a audiência, sendo que o vocalista Magnus Pelander chegou a confessar ter tentado aprender algumas palavras em português, sem sucesso. Depois, os suecos embarcaram numa intensa jornada musical, através do melhor que Doom e o Hard Rock têm para nos oferecer. E levaram-nos consigo. Esta era apenas a segunda passagem do conjunto por território nacional, pelo que aproveitaram para fazer uma retrospectiva da sua obra, para gáudio da plateia.

Uma Miscelânea de Sabores, ao Epílogo.

Coube ao duo catalão Dame Area encerrar as hostilidades na área principal do SonicBlast. Tal como haviam feito os portugueses Maquina, na noite anterior, Silvia Kostance e Victor L. Crux transformaram o recinto numa autêntica pista de dança, usando, como arma, a sua mistura de dark-wave, synth-pop e industrial com elementos de música regional. Depois, as atenções voltaram-se para o Stage 3, na zona de restauração, e entraram em cena os germânicos Daevar e os gauleses Witchthroat Serpent, dois grupos que se dedicam ao Stoner/Doom Metal, bem ao estilo daquilo a que nos habituou o festival, e cujo peso da música fez vibrar portas e janelas, bem para lá da Duna dos Caldeirões.

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