A primeira noite de Sumol Summer Fest 2024 terminou pelas 3 da madrugada, com os Wet Bed Gang, família, amigos e convidados em palco, a dançar o melodioso tema “Bairro”. O microfone a passar de mão em mão, para entoar o refrão ”Por isso eu vou p’ro sky/ Eu e a minha bula e fly”. Mas com o acumulado de horas de concertos, a hora a mais de atraso provocada pela transmissão de futebol, e o vento frio que se fazia sentir, a cabeça só diz “go, go,go…”.
Um cartaz desenhado para os jovens deixou os adultos à porta, ou circunscritos à tenda VIP. O recinto do Sumol Summer Fest é um perfeito campo de férias de adolescentes, repleto de atividades e entretenimento.
Várias vertentes de hip hip animaram este primeiro dia. O caldeirão musical fez-se com diferentes ingredientes. Nenny trouxe influências de Cabo Verde, ASAP Twelvyy contribuiu com o estilo de Nova York, Nemzzz deu o toque britânico, Teto amaciou com o seu sotaque brasileiro e os Wet Bed Gang fecharam em português, com a uma presença carismática e grande interação com os fãs.
Wet Bed Gang
A banda de Vialonga fechou a primeira noite de Sumol Summer Fest. Uma confirmação de última hora, a substituir a atuação de Morad, detido na sequência de sucessivos delitos.
Os Wet Bed Gang são uma das bandas de hip-hop mais influentes e bem-sucedidas em Portugal, na última década. Zara G, Kroa, Gson e Zizzy Jr são os heróis de uma nova geração e não tiveram dificuldade em agarrar este público.
Gorilleyez, o álbum lançado em 2023, foi o mote deste concerto, que abriu com “Mesa oito”. Um portentoso gorila de fundo, por vezes com um olhar mortífero – vermelho – teve grande impacto visual ao longo de toda a atuação. A música dos Wet Bed Gang é uma fusão de hip-hop, R&B e afrobeat, com letras que refletem as suas preocupações e dificuldades do quotidiano. Também celebram o amor e amizade, mas há sempre uma componente de crítica social subjacente.
Ao longo do concerto foram deixando dedicatórias especiais: “Não Sinto” para os insensíveis; “La Bella Máfia” a celebrar as amizades verdadeiras.
Para o palco trouxeram uma autenticidade e capacidade de comunicar com o público, que é um dos elementos-chave do seu sucesso. Com um espetáculo já bem testado, os Wet Bed Gang são conhecidos pela sua energia contagiante em palco. O grande momento de “circo de feras” aconteceu com “Chaminé” e “Maluco”. O público abriu duas grandes rodas, e acedeu com grande entusiasmo ao pedido de mosh pit. A banda selecionou dois elementos do público que levaram duas gigantes bandeiras para a festa.
O hino de Portugal foi entoado por todos, e Gson avisou depois, os mais distraídos, que aquele era o segundo hino de Portugal. Apresentou de seguida o primeiro: “Aleluia”.
O momento alto da noite foi quando a banda recebeu, em palco, Mizzy Miles, Teto e Deejay Telio para cantar (pela segunda vez, só esta noite. A primeira aconteceu durante a atuação de Teto) “Europa”. “Depois do meu show, conto o meu dinheiro no avião/ Vou gastar na Gucci de Milão”.
A noite ia longa, mas ninguém poupou a voz e todos se juntaram ao coro de “Devia Ir”. Antes, pediram para ver “todas as meninas às cavalitas dos rapazes” e a moldura humana transformou-se num belo cenário de caras felizes elevadas no ar.
Nenny foi a convidada seguinte, para um momento especialmente emocionante, que deixou Gson de olhos vidrados e voz embargada.
A despedida final, fez-se com “Bairro”, para o qual trouxeram para o palco amigos, crianças e os convidados.
Mais maduros, os Wet Bed Gang consolidam a sua posição no panorama musical português. Mas afirmam-se também como um símbolo de resistência, autenticidade e inovação perante os mais novos.
Teto
O rapper e cantor brasileiro Teto atuou antes e foi outro grande sucesso esta noite. Com uma base de fãs sólida presente, Teto teve coro permanente durante toda a atuação.
A sua música é caracterizada por uma fusão de rap, trap e elementos de música brasileira. As dificuldades da vida na periferia, ambições pessoais e reflexões sobre a sociedade contemporânea preenchem as suas melodias.
Trouxe alguns dos seus temas mais conhecidos como “M4”, “Minha Vida é um Filme”, “Zumzumzum“ e “Groupies”, mas também duas surpresas: WIU, que atua este sábado entrou para “Problemas de um Milionário” e depois Mizzy Miles pisou o palco para “Europa”. O DJ e produtor conseguiu ainda deixar umas palavras de agradecimento a Teto “É um irmão que a vida me deu”.
Teto é visto como uma das promessas do rap brasileiro e, neste concerto demonstrou o seu talento inegável, a sua evolução musical e a capacidade de experimentar novas sonoridades e estilos.
Nemzzz
O jovem rapper e cantor britânico entrou na ressaca da derrota de Portugal. Uma hora depois do previsto, uma vez que a organização acabou mesmo por travar as atuações quando o jogo do Campeonato Europeu de Futebol entre Portugal e França avançou para o prolongamento.
Com um estilo assente numa variedade de géneros musicais, desde o grime ao drill, o jovem artista conseguiu criar um som único que mistura elementos tradicionais do rap britânico com influências contemporâneas.
O DJ que lhe abriu caminho conseguiu por o público bem quente, com conhecidos temas de Central C, Drake e Pop Smoke. Mas o entusiasmo foi desvanecendo durante a sua atuação. Não era claramente um dos preferidos da noite.
Ainda assim, chamou ao palco um elemento do público, com quem cantou “It’s Us”.
ASAP Twelvyy
Além da Seleção Nacional de Futebol, o grande derrotado da noite foi ASAP Twelvyy. Esta era uma oportunidade de ouro para o rapper e membro do coletivo de hip-hop A$AP Mob, originário do Harlem, Nova Iorque, se dar a conhecer aos portugueses. No entanto, a sua atuação coincidiu com o arranque do jogo de futebol.
O Dj que entrou antes estendeu o máximo possível o seu momento, mas o rapper foi mesmo forçado a entrar em palco perante uma desoladora plateia. A afluência às 20h30 da noite era junto ao minúsculo ecrã, junto ao skate parque, onde se podia assistir à transmissão do jogo.
O cantor percebeu que estava claramente em desvantagem e pediu incessantemente para que pusessem a transmissão de jogo no seu ecrã de fundo. Solução que acabou mesmo por acontecer. Trouxe-lhe público, sim, mas com vontade de o ver dali para fora.
O que sobrou do concerto de ASAP Twelvyy? Se calhar a vontade de lhe ser dada uma nova oportunidade de atuar em condições…
Nenny
Ao final da tarde assistimos a uma excelente atuação da cantora Nenny. E que grande evolução, desde a sua anterior participação neste festival!
Com um concerto bem planeado, com músicos, boas imagens de fundo (ainda que pouco percetíveis devido à luz do dia) e figurinos originais, a condizer entre todos os elementos em palco. Um ágil corpo de bailarinos em palco, bem coreografados e coordenados com a artistas, proporcionaram um espetáculo memorável.
Do hip-hop ao R&B, Nenny traz para a sua música elementos da cultura africana e portuguesa, refletindo as suas raízes cabo-verdianas. Ouvimos “Bússola”, “Dona Maria”, e “21”, que exploram temas de amor e identidade pessoal. Presente neste alinhamento esteve também a sua primeira música, “Sushi”.
Nenny tem uma presença cativante em palco e está sempre a falar com o público. Pede braços no ar, mãos a desenhar corações e solteiros a fazer barulho. “Eu quero que vocês entrem na wave comigo” resume o espirito deste animado concerto.
Tentou sempre ensaiar o refrão dos temas, para que o público a pudesse acompanhar. Tem uma especial capacidade de contar histórias através da música.
Registamos uma especial doçura nesta artista multifacetada que, com a sua autenticidade e talento, está a moldar o futuro da música urbana em Portugal.
O Sumol Summer Fest 2024 volta a abrir portas este sábado. Conta com as atuações de King Bigs (19h00), Yendry (20h30), Lon3r Johny (22h00), WIU (23h30) e Offset (01h00).
Ainda há bilhetes disponíveis. Custam 60 euros.




















