Lisboa recebeu esta sexta-feira os norte-americanos The Lumineers na MEO Arena. Com o público visivelmente rendido, a banda de Denver celebrou duas décadas de carreira, num concerto onde a folk acústica se cruzou com momentos de emoção, simplicidade e uma entrega calorosa em palco.
No ecrã, em pano de fundo, surgiu a imagem de uma cassete com a capa do novo álbum, antes dos The Lumineers entrarem em palco, dando o mote para a primeira música da noite: “Same Old Song”. Uma escolha certeira para abrir um concerto que se dividiria entre novos temas e clássicos intemporais.
O palco, com uma passarela a atravessar a plateia, sugeria logo à partida uma proximidade invulgar — uma intenção cumprida ao longo das cerca de duas horas de atuação.
Logo de seguida, a banda alinhou-se na frente do palco para “Flowers in Your Hair”, uma das pérolas do primeiro disco, e “Angela”, com Schultz — vocalista de boné preto e duas tranças finas — a assumir o centro das atenções com a sua voz quente e crua.
Antes de tocar “You’re All I Got”, Wesley Schultz recordou que o concerto assinalava duas décadas de carreira dos The Lumineers e a apresentação do quinto álbum da banda. Introduziu a canção como um reflexo dos tempos atuais, marcados pelo impacto da pandemia, em que muitas pessoas vivem isoladas e procuram relações que façam sentido. Enfatizou a mensagem central do tema, afirmando que “todos precisamos de alguém”.
Seguiram-se “Where We Are”, “Asshole” e uma poderosa interpretação de “AM Radio”, com vídeos de paisagens naturais a projetarem-se nos ecrãs de fundo, ampliando a atmosfera visual do concerto. Entre músicas, foi-se tornando claro que todos os elementos da banda dominam vários instrumentos, trocando de lugares com uma fluidez notável — uma espécie de orquestra indie-folk em constante metamorfose.
“Plasticine”, “Donna” e “Ho Hey” — esta última com o público inteiro a cantar em uníssono — aqueceram ainda mais o ambiente. Num dos momentos mais comoventes da noite, Schultz desceu à plateia para cantar “Submarines”, misturando-se com os fãs.
Com “Sleep on the Floor”, houve uma explosão de confettis que transformou a arena numa festa luminosa. “Gloria”, “So Long” e “Salt and the Sea” trouxeram de volta a melancolia contemplativa que caracteriza a banda, mas rapidamente o ritmo voltou a subir com “Keys on the Table” e “Slow It Down”.
Um dos momentos mais bonitos do concerto aconteceu com “Automatic”: um piano de cauda branco foi colocado na frente do palco, e Schultz sentou-se ao lado de Jeremiah Fraites, agora no piano, ombro com ombro. A cumplicidade dos dois fundadores da banda tornou o momento comovente.
“Ophelia” não foi só para ouvir — foi também uma pequena sessão de malabarismo, com os músicos a lançarem pandeiretas ao ar entre compassos. Em “Leader of the Landslide”, fundiram inesperadamente o refrão de “You Can’t Always Get What You Want” dos Rolling Stones, mostrando que a folk pode ter alma rock.
“Ativan”, antecedida por uma explicação sobre o seu significado, abriu caminho para “Walls”, interpretada com o convidado especial Michael Marcagi (atuou na primeira parte) com todos os músicos alinhados e um desfile instrumental onde brilhou o acordeão.
Já perto do final, “Big Parade” trouxe um espetáculo visual deslumbrante, com a imagem de fundo de luzes, a girar como um carrossel. A banda apresentou cada elemento e surpreendeu com uma versão em que todos cantaram uma parte.
Stelth Ulvang, o guitarrista até fez um pino de cabeça em cima do piano, enquanto todo o recinto aplaudia o momento inédito!
Para fechar, seguiram-se “Reprise”, uma emocional “Cleopatra” apenas com voz no início, e “Stubborn Love”, que selou a noite em apoteose. Stelth Ulvang volta a destacar-se da banda e, num gesto inesperado, surgiu a tocar no balcão, de onde desceu para a plateia, pela parede, e ficou a tocar no meio do público. A determinado momento, pede para as pessoas se baixarem, a banda reduz também o volume. Colocou toda a gente no chão a sussurrar e com “hey” todos explodiram numa celebração final.
Saímos da MEO Arena com o coração a bater ao ritmo de um refrão antigo, como se alguém nos tivesse contado a nossa própria história em acordes. Os The Lumineers tocaram-nos canções e vieram expor sentimentos. Foi uma grande noite de festa, com a folk a servir de idioma. Ali, no meio daquela multidão a gritar “hey”, lembramo-nos de que a música não precisa de palco, basta que nos encontre.
A Folk-Rock de Michael Marcagi A Abrir O Concerto
Numa sala ainda a encher-se para o cabeça de cartaz, Michael Marcagi atuou para uma plateia já bem composta e deu a conhecer a sua folk-rock contemporânea.
“Obrigado por terem vindo mais cedo para me ver. A cidade de Lisboa é das mais bonitas que tive oportunidade de visitar nesta tour”, disse, emocionado, antes de iniciar o alinhamento que percorreu os seus dois EPs e algumas surpresas.
O concerto abriu com “Savannah”, faixa do EP American Romance, que criou logo uma atmosfera de nostálgia, marcada pela voz rouca e intimista do artista. Seguiram-se “Keep Me Honest”, tema ainda não editado, e “Good Enough”, mantendo o registo emotivo e honesto que caracteriza o seu trabalho.
A energia subiu com “In the Light” e a melancolia regressou com “Follows You”, uma das faixas de Midwest Kid, novo EP lançado em abril deste ano. Antes da canção, Marcagi fez questão de agradecer aos The Lumineers, confessando: “São a melhor banda do mundo. Foi por eles que começámos isto”. Wesley Schultz, vocalista dos Lumineers, colabora precisamente em “Wish I Never Met You”, um dos destaques do novo trabalho de Marcagi.
O concerto continuou com um momento especial de comunhão com o público, quando interpretou uma versão acústica de “Deja Vu”, de Olivia Rodrigo, numa cover em que o próprio pediu: “Cantem conosco”.
A festa subiu de tom com “Stick Around”, com arranjos de banjo, um hino folk-rock sobre resistir e permanecer, e depois com “Scared to Start”, o seu maior êxito até ao momento. O reconhecimento global de Marcagi chegou quando este tema se tornou viral no TikTok.
“Temos mais duas músicas, obrigado por tudo”, disse já perto do fim, visivelmente comovido. As despedidas fizeram-se com “Midwest Kid”, tema que dá nome ao seu mais recente EP, e com “The Other Side”, o primeiro single da sua carreira a solo, lançado em dezembro de 2023.
O seu estilo despretensioso, a voz marcante e a honestidade nas letras conquistaram o público em Lisboa.




















