Depois de mais de 20 anos de ausência, o Teatro Nacional de São Carlos voltou a levar a Ópera aos Coliseus. Turandot, a última obra de Puccini, foi apresentada no sábado, 21 de outubro, no Coliseu do Porto depois de ter passado pelo Coliseu dos Recreios, em Lisboa, dias antes.
Às 20h00, hora marcada para o início do espetáculo, a azáfama ainda era grande às portas do Coliseu do Porto, com muitos a tentarem comprar os últimos bilhetes disponíveis. Previa-se uma sala cheia e assim foi, provando que a Ópera, género em declínio durante muitos anos, está novamente em ascensão e com capacidade de atrair novos públicos.
Em versão concerto, semi-encenada, Turandot foi apresentada com um cenário minimalista – apenas uma enorme cadeira-trono em cena – , dando mais relevo aos interpretes em palco: desde o imponente coro, passando pela orquestra dirigida pelo maestro Domenico Longo, até aos protagonistas, a soprano Elisabete Matos no papel da princesa Turandot, Rafael Rojas como Calaf, e Dora Rodrigues na pele da escrava Liù, a verdadeira heroína desta história.
Apresentada pela primeira vez em 1926 no Scala, em Millão, Turandot foi a última grande ópera do italiano Giacomo Puccini, que morreu dois anos antes deixando- a inacabada, posteriormente completada por Franco Alfano.
A obra narra, em três atos, a lenda de Turandot, filha do Imperador Altum da China, que repugna os homens e recusa apaixonar-se, traumatizada pela morte da sua ancestral, assassinada pelos tártaros que invadiram e conquistaram a China. Perante a insistência do seu pai, que exige que a princesa se case para assegurar a dinastia, Turandot acaba por ceder impondo uma condição: aquele que desejar esposá-la deverá responder a três enigmas, se falhar é morto e a sua cabeça exposta sobre a muralha. Durante anos, são vários os pretendentes mortos até que surge Calif, filho do deposto rei dos tártaros, que muda o rumo da história decifrando as três charadas.
Contrariada, a princesa recusa-se, ainda assim, a casar. Calif, apaixonado pela beleza e frieza de Turandot, propõe que ela poderá matá-lo se descobrir o seu verdadeiro nome até ao amanhecer. Turandot ordena que ninguém durma em Pequim até que se descubra o nome do “estrangeiro”. Aqui dá-se um dos momentos altos de toda a ópera com “Nessun Dorma” (“ninguém durma”), belissimamente interpretado por Rafael Rojas, em que Calaf canta que o segredo está preso dentro de si e que só ele pode revelá-lo.
No entanto, alguém se lembra de ter visto o príncipe acompanhado da escrava Liù. Turandot ordena que a escrava seja torturada até que revele o nome do príncipe. Apaixonada por Calif, Liù não revela o segredo e suicida-se, num momento comovente que marca o fim da composição de Puccini.
A manhã nasce e Calif reúne a sós com Turandot, revelando-lhe o seu nome. Inicialmente cruel, fria e distante, Turandot é, agora, uma mulher fragilizada prestes a ceder ao amor, numa transição bem conseguida pela soprano Elisabete Matos. Quando os guardas chegam, Turandot deixa o orgulho de lado e exclama que o nome do estrangeiro é “Amor”, num dueto emocionante que assinala o fim da ópera, deixando os espetadores em êxtase.
Turandot é uma belíssima história, complexa, dura e repleta de simbolismos que teve, nesta apresentação, excelentes interpretações. Os dez minutos de aplausos no final são a prova de que a ópera deveria ir mais vezes ao Coliseu.
Turandot é uma produção da Opera North, que se estreou em Leeds este ano, e marca o arranque da temporada lírica do teatro nacional de ópera. A direção musical é de Domenico Longo, com encenação de Annabel Arden, e conta com as interpretações de Elisabete Matos (Turandot), Rafael Rojas (Calaf), Carlos Guilherme (Altum), Dora Rodrigues (Liù), Diogo Oliveira (Ping), João Pedro Cabral (Pang) e Manuel Rebelo ( Um Mandarim), com o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e direcção do Maestro Titular Giovanni Andreoli, o Coro Juvenil de Lisboa dirigido pelo Maestro Titular Nuno Margarido Lopes e a Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida pela Maestrina Titular Joana Carneiro.




















