Está de regresso o festival mais antigo da Península Ibérica: Vilar de Mouros. Esta edição arrancou na quarta-feira, 21 de agosto, com um dia completamente dedicado à música portuguesa, com bandas como os Delfins, GNR, Amália Hoje e The Legendary Tigerman. Este dia contou, também, com entrada gratuita, sendo que quem não tinha pulseira para os três dias, podia entrar no recinto.
Ora, com estas indicações, seria de esperar que o recinto estivesse cheio, a “abarrotar” e sem espaço para uma folha. Na verdade, não estava, nem ao abrir de portas, nem perto do fim. Talvez pelo facto de ser um dia a meio da semana, ou por outra razão qualquer.
Fogo Frio
O primeiro concerto começou às 19 horas com uma banda natural de Caminha, Fogo Frio, que trouxe a claque, de familiares e amigos, vestidos a rigor e bem identificados com o símbolo da banda.
São uma banda com uma história ainda curta e, por isso, não marcaram no meio dos clássicos da noite. Com letras e músicas de certo modo vulgares, Fogo Frio, apresentaram as canções do seu reportório – ainda que pequeno – e tiveram o apoio de quem os conhecia. Para quem está em palco, às vezes, isto chega.
The Legendary Tigerman
Ia-se pondo o sol e juntavam-se os festivaleiros ao palco. Estava na hora de ouvir The Legendary Tigerman, nome artístico de Paulo Furtado, e toda a sua personagem misteriosa e do rock’n’roll. Acompanhado pela sua banda e pela sua guitarra vermelha, deu um concerto para um público pouco participativo. Ainda sim, que ia batendo o pé e abanando a cabeça, o que só pode ser um bom sinal.
Quem também brilhou, e muito, durante este concerto foi Sara Badalo, membro da banda, com uma presença e uma voz dignos de menção. Juntos dominaram o palco, num concerto misterioso, sexy e sensual, cheio de rock, não teria o artista uma música que diz “We need a fix of rock’n’roll”.
Perto do fim, Paulo Furtado desceu as escadas e percorreu o público, no corredor entre as grades, completamente dono de si e daquele momento, enquanto incentivava o público – agora mais solto e com mais vontade – a gritar “21st Century Rock’n’Roll”, numa espécie de apelo para não deixar o rock, e tudo o que este engloba, morrer. Depois disto, fiquei com a impressão de que estes festivaleiros não vão romper a promessa.
GNR
42 anos depois da primeira vez que estiveram em Vilar de Mouros, regressaram os GNR a este festival, com um Rui Reininho cheio de “macacadas” e sempre bem-disposto. Mal o concerto começou, o grupo já tinha o público todo na mão, com telemóveis no ar, abraços e um coro estrondoso.
“A Pronúncia do Norte” foi um momento de orgulho e de muita pronúncia nortenha a ecoar pelo recinto e, mal se entoou o verso “é como saltar a fogueira”, em “Sangue Oculto”, o concerto congelou num segundo de silêncio e respeito pela Madeira (devastada, atualmente, por várias frentes de fogo).
“Cuidado com o tsunami, tsunami GNR” afirma Reininho enquanto desce as escadas e percorre o corredor entre as pessoas. Não foram um completo furacão, mas ainda são bons, ainda pertencem aos palcos e, pela reação festiva do público, foram o ponto alto da noite. Encerram este espetáculo com “Dunas”, mítica canção que levou o público a uma loucura digna da história desta banda.
Amália Hoje
Após GNR, era difícil continuar com a energia “lá no alto”. Mais complicado foi fazê-lo com o concerto de Amália Hoje. Não me interpretem mal: foi um concerto bonito, de homenagem e muito amor a Amália Rodrigues, ao seu repertório e figura no nosso país. No entanto, não emocionou o público, que pouco vibrou.
Mas vamos começar do princípio. O projeto Amália Hoje teve início há 15 anos, liderado por Nuno Gonçalves (The Gift), com Sónia Tavares (The Grift), Paulo Praça (ex Turbo Junkie e Plaza) e Fernando Ribeiro (Moonspell). O álbum, de músicas de Amália, teve como single “A Gaivota”, e é mesmo nesta música que pretendo ficar, pois foi o auge deste concerto. Em uníssono, o público cantou palavra a palavra, acompanhado da magnífica voz de Sónia Tavares.
Os músicos subiram ao palco para honrar o Fado e fizeram-no com classe e qualidade. Foi pena a resposta “cá em baixo” não ser a desejada. Mais emoção foi conseguida após um discurso alusivo aos 50 anos do 25 de abril e à liberdade, onde se ouviram as palmas e os gritos em confirmação.
Foi um espetáculo com uma certa beleza, mas não conquistou o coração do público, que vinha cheio de energia de GNR e viu-se com necessidade de acalmar.
Delfins
Completamente diferente do anterior, foram os Delfins, grupo de 1981, que souberam cativar aqueles que, à uma da manhã, os esperavam. O recinto já não estava tão composto como nos concertos anteriores, mas isso não foi problemático pois, quem estava, sabia todas as canções e fez questão de o mostrar.
Num concerto de memórias, percorreram músicas como “Saber Amar”, “A Queda de Um Anjo”, “Não Vou Ficar” e “Num Sonho Teu”, mostrando que, quer nos clássicos, quer nos menos clássicos, os Delfins estão cá e renovados, muito teatrais e energéticos.
Tanto no público como no palco, o tempo parou e fica a sensação de que há de facto músicas e bandas que são intemporais e capazes de se manter frescas ao longo dos anos. Miguel ngelo, vocalista do grupo, até passeou de “hoverboard” entre o publico, mostrando a de linha ténue entre o novo e “velho”.
O festival continua até sábado, dia 24 de agosto, e o bilhete diário custa 50 euros. No cartaz estão artistas e bandas como The Cult, Ornatos Violeta, Xutos & Pontapés, Die Antwoord, The Darkness e muito mais.



















