O segundo dia de Vilar de Mouros arrancou esta quinta-feira numa onda bastante diferente, em comparação ao primeiro dia. O dia 22 de agosto começou com o metal de Ramp, seguindo-se Moonspell e Soulfly. Mais tarde, subiram ao palco Xutos & Pontapés e The Cult.
Às 18 horas foi a vez dos portugueses Ramp subirem ao palco para um público fiel e dedicado, que ia gritando algumas músicas ao som do thrash metal da primeira banda deste dia.
Ramp tocaram em Vilar de Mouros em 1996, em 2000 e, 24 anos depois, tornam a este festival para “relembrar a história destes anos”, afirma o vocalista Rui Duarte. Com 35 anos de carreira, puseram o público a saltar, de punho cerrado, braço no ar e a tentar fazer mosh.
Seguindo este alinhamento do metal, estiveram os Moonspell no palco de Vilar de Mouros, às 19 horas e 30 minutos. Vai-se juntando alguma gente, os que são fãs e cantam as músicas, e os que vieram pela curiosidade.
Fernando Ribeiro, vocalista desta que é uma das bandas de referência deste género musical em Portugal, vai pedindo ao público mais energia – “vamos ver o que valem, Vilar de Mouros” – mas a reação não é bem a desejada, sendo apenas o centro junto ao palco que corresponde com mosh pit.
Foi a vez de Soulfly de “partir a casa toda”, como se ouvia dizer no fim do concerto. Para quem gosta e vibra com metal, é de realçar a paixão e a devoção pela banda brasileira. O manto preto, de correntes, de lenços na cara a tapar a boca – devido à terra e poeria do recinto – são a demonstração de que o público estava pronto para ver, e viver, este concerto.
Os mais aventureiros estavam concentrados no mosh pit, saltavam, faziam crowdsurf, corriam pela ala da frente, entravam novamente para o público, compunham a roupa, apertavam bem o cinto das calças e regressavam à loucura. Foi este loop durante todo o concerto e, para quem o viveu – decentemente – foi o culminar dos três espetáculos de metal.
O relógio batia, agora, as 22 horas e 30 minutos; as bandeiras de Portugal e dos Xutos já balançavam com a brisa, que também já se sentia; no público, viam-se os lenços vermelhos na cabeça, no pescoço, nos braços: chegou a hora de Xutos & Pontapés.
“Vida Malvada”, “Quem é Quem”, “Gritos Mudos” e “Dia de S. Receber” fizeram parte do repertório de clássicos da banda mais intemporal deste país.
A celebrar 45 anos de carreira, tocaram para famílias, crianças, amigos, velhos e novos, para um público em uníssono que, de certa forma, agradeceu à banda pelo percurso construído até hoje.
Foi em “Maria”, “À Minha Maneira”, “Circo de Feras” e “Não Sou o Único” que se sentiu, com mais intensidade, o amor a Xutos. Como seria de esperar, durante o concerto, houve tempo e espaço para uma referência, quase obrigatória, a Zé Pedro – membro da banda que faleceu em 2017 – acompanhada de um incontestável aplauso por parte dos festivaleiros.
Ouviu-se, ainda, “Contentores” e “Sémen” e, após saírem do palco, tocaram “Avé Maria” e “A Minha Casinha”, dois momentos épicos e de grande euforia para todos os ouvintes. Muito perto do fim do concerto, a banda vai saindo de “cena” e ouve-se “Homem do Leme” a ecoar no recinto. Regressam, em modo acústico e, mal soam as primeiras notas, levantam-se os telemóveis, abraçam-se os amigos e caem as lágrimas dos mais emotivos: é o ponto alto da noite. O crime que seria se eles não cantassem esta música. Vinha aqui falar mal, isso era certo.
Para fechar a segunda noite de festival estiveram os The Cult, banda inglesa dos anos 80, para um público mais disperso. Após Xutos, ganhar a atenção da audiência foi o mais desafiante. Ian Astbury, vocalista do grupo, de 62 anos, com a sua pandeireta, parecia um jovem que começou no mundo da música há 10 anos. Cheio de energia e com uma postura de rock star, foi interagindo com um público pouco recetivo. E digo pouco recetivo pois Ian viu-se “obrigado” a dizer “It´s a Cult show, we’re not going to do it for you”. Durante este concerto, a sensação que fica é a de que o público disfrutou e gostou do concerto, mas que não vieram a Vilar de Mouros por The Cult, mas sim por Xutos.
Ian teve uma surpresa em palco: uma mulher saltou as grades e correu pelas escadas do palco para o abraçar. Enquanto cantava, retribuiu o abraço e recusou a ajuda de vários seguranças. Este momento deu azo a que outra corajosa subisse ao palco e procedesse da mesma forma. A certa altura, o cantor tinha, em cada braço, duas fãs sorridentes e incrédulas, a dançar. Desceram as escadas, calmas e realizadas, após um momento que vai ficar, sem dúvida, gravado nas suas memórias.
“Sweet Soul Sister”, “Mirror” e “Lucifer” constaram na setlist da banda, sendo que o culminar de emoção deu-se no fim, quando se ouviram os primeiros acordes de “She Sells Sanctuary”. Retira-se deste concerto que tudo é possível, que com mais de 60 anos, ainda se pode pisar um palco e dar uma performance como um rapaz novo.
O Vilar de Mouros continua durante sexta, sábado e domingo, com Capitão Fausto, Ornatos Violeta, Crystal Fighters, Die Antwoord, The Darkness, The Libertines, The Waterboys e muito mais. Os bilhetes diários custam 50 euros e o passe geral 95.




















