De negro vestido e com a boina a preceito, como sempre nos habituou, um jovial Vitorino Salomé entrou em palco ao som dos primeiros acordes de “Fado Alexandrino”. Bem disposto e com o “típico” copo de vinho tinto alentejano, para uma noite de canções, entre “amigos”, no Teatro Variedades em Lisboa.
E foi uma casa cheia (pela segunda noite consecutiva), que recebeu o músico do Redondo. Durante uma hora e meia, o artista provou porque é um dos músicos portugueses mais queridos dos portugueses, e apreciado por músicos de várias gerações. Intemporal, sem idade, assim é Vitorino Salomé.
Para o alinhamento dos concertos no Teatro Variedades, no Parque Mayer, Vitorino escolheu 19 temas que traduzem a sua essência, desde as origens alentejanas, ao seu lado mais romântico, passando pelo lado mais revolucionário, aos poetas e aos amigos de longa data.
“Alentejanas e Amorosas”, “Pontinha Por Ti”, “Circo”, e “Cravos Vermelhos”, numa homenagem a Florbela Espanca (nascida há 130 anos) e às poetisas alentejanas, levam-nos até ao seu Alentejo de origem.
Pelo meio, vai interagindo e falando com o público, conta histórias da sua terra e do seu Alentejo, como é ilustrativo o tema “Não Sei Do Que É Que Se Trata… Mas Não Concordo.”
Aproveitando o facto de estar no Parque Mayer, Vitorino traz o “Fado Da Liberdade Livre”, numa homenagem a Maria Vitória”.
Os amigos não podiam ficar de fora deste alinhamento especial, “Cão Negro” da autoria de Jorge Palma, e feito especialmente para Vitorino (que anda sempre de negro e se sente um “cão negro”, foi o tema que se seguiu, antes de uma pequena pausa para descanso, afinal já são quase 83 anos (a completar em junho).
É a vez de brilhar em palco a jovem Ines Vaz, em dois temas de homenagem a Carlos Paredes, adaptados da guitarra portuguesa para acordeão.
Segue-se nova homenagem, outro grande nome das letras: António Lobo Antunes. “Fado Da Prostituta Da Rua De Santo António Da Glória” e “Ana II” são as canções que ecoam.
Do poeta António José Forte, “Poema”, escrito para ele e para o seu irmão Janita. “Corto Maltese” é o herói que surge a seguir, com Vitorino a confessar que quando era miúdo, sonhava ser como Corto Maltese e viver inúmeras aventuras.
Para o fim ficaram guardados dois temas especiais. Numa homenagem ao “Mestre” Zeca Afonso, a “Morte Saíu À Rua”, traz o lado mais político e revolucionário de Vitorino, que contou com a companhia do público no icónico refrão.
A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Para encerrar o concerto, foi escolhido o intemporal “Queda do Império”, de 1983, e a despedido chegou.
Uma hora e meia passou rapidamente. E Vitorino foi um cicerone de mão cheia, na companhia dos seus amigos e companheiros musicais (alguns de muitos anos): Sérgio Costa, Tomás Pimentel, Paulo Gaspar, Rui Alves, Inês Vaz, Carlos Salomé, e Paulo Jorge Ferreira.
O público pediu e Vitorino não se fez rogado. A eterna “Menina Estás À Janela” e “Vou-Me Embora, Vou Partir” fizeram a despedida, entre palmas e o coro do público.
Vou-me embora, vou partir mas tenho esperançaDe correr o mundo inteiro, quero irQuero ver e conhecer rosa brancaA vida do marinheiro sem dormir
…………..
Eu hei-de ir, hei-de voltar com o tempo
Uma noite memorável, entre amigos, como afinal são todos os fãs e apreciadores de Vitorino Salomé, o alentejano sempre vestido de negro e com boina de lado, sem idade, e sem época…. eternamente intemporal!
Que parta, mas volte depressa, que nós gostamos muito de o ver e ouvir!




















