Os raios de música voltaram a brilhar junto à praia. Casa cheia, na primeira noite de festival O Sol da Caparica. Como é habitual, a festa da música lusófona fez-se com diferentes ritmos, com o hip hop a trazer as maiores enchentes. Os atrasos nos horários acabaram por arrastar os concertos pela noite dentro. Problemas no som e mais de três horas de diferença em relação ao previsto acabaram mesmo por inviabilizar duas atuações: Miguel Ângelo e The Legendary Tigerman.
Foi uma quinta feira mais agitada do que o habitual, na Costa da Caparica, mesmo sendo meio do mês de Agosto. O regresso do festival O Sol da Caparica, depois de dois anos de interrupção, devido à pandemia, era a razão para o congestionamento de transito – e até de pessoas, que entravam no recinto ao final da tarde.
Fernando Rocha abriu o palco comédia, com uma visível transformação física (mais magro). O humorista, aproveitando a juventude dos presentes, trouxe algumas piadas relacionadas o bullying e também a paisagem envolvente: praia.
Um atraso considerável marcou o início dos concertos que, não tendo sido recuperado, só foi aumentando ao longo da noite. A desorientação das pessoas que procuravam determinado artista num palco, à hora anunciada, e depois não o encontravam, foi uma constante ao longo deste primeiro dia. Jimmy P chegou ao palco principal cerca de uma hora depois do estipulado. A lógica dos concertos neste festival mantem-se. Cada artista tem cerca de uma hora para mostrar o que vale, sendo que os concertos acabam por concentrar os seus maiores êxitos. Jimmy P começou assim, em força, com o público a cantar com ele “Não tás a ver”. O músico conseguiu aquecer bem as pessoas que já se encontravam no recinto e juntou, pirotecnia e muitos confettis, à musica, dando um colorido especial ao concerto. “Contigo”, “Young Forever” e “Entre as Estrelas” integraram a atuação. Despediu-se com “Ano Novo”
Puro Rock, a banda de Palmela que trouxe um número visível de apoiantes, que se destacavam pelas t-shirts, animaram a entrada do festival. A Domingo Guerreiro, o carismático vocalista juntam-se Beto, na guitarra, Pedro Correia, na viola-baixo e Marinho, na bateria. Cantam rock em português e ainda trouxeram uma versão de “Rua do Carmo” dos UHF.
Depois de Jimmy P, chegou Virgul com o seu conjunto de ágeis bailarinas. “Quero dançar até ao amanhecer”, disse o cantor logo no início de espetáculo, depois de cumprimentar o público. A animação seguiu em crescendo, com conhecidos temas como “I Need This Girl” e “Rainha”. Natural da Caparica, Virgul mostrou-se contente de atuar na sua terra e dedicou “All We Need Is Love” à família presente. “Sejam felizes, Sempre!” disse antes de sair.
Se o público já estava desorientado com o atraso das atuações, não terá ajudado a alteração de ordem de Syro com Ive Greice. Muitos achavam que o artista revelação da música pop em Portugal já não marcaria presença no festival, mas o concerto acabou mesmo por iniciar já perto das 21h30 (estava agendado para as 19h). Diogo Lopes, que escolheu o nome artístico de Syro tem já uma sólida base de fãs, que marcaram presença nas primeiras filas e se estenderam pelo relvado. O olhar intenso aumentava o desconcerto de quem assistia e o cantor mostrou ainda os seus dotes de músico ao puxar um tambor para a frente palco, entrando no ritmo da música. “Perto de Mim” , “Deixa Passar” e “Acordar” foram temas que não podiam ficar de fora deste alinhamento.
Clã fizeram chegar o público mais maduro à frente de palco. Manuela Azevedo alinhou-se (literalmente) com os seus músicos. Lado a a lado com Fernando Gonçalves, Hélder Gonçalves, Miguel Ferreira, Pedro Biscaia e Pedro Rito, os elementos deste grupo musical trouxeram diferentes ambientes ao inicio de noite, no festival O Sol da Caparica. Todos cantaram em uníssono a versão de “Conta-me Histórias” dos Xutos & Pontapés, seguida de “Sopro do Coração”. Seguiu-se uma explosão de energia com “Corda Bamba”. “Muito obrigada Sol da Caparica. Até sempre!” despediram-se depois de um momento em que quase transportaram a maior zona do recinto para a tenda eletrónica.
Os intervalos de concertos eram sempre de grande movimentação de pessoas. Face ao elevado número de entradas no recinto, as habituais filas para a restauração ou wc tornaram-se ainda maiores e muitos aproveitavam esse intervalo para espreitar o palco dança, onde a animação era sempre garantida. Dancecoolture deram provas de grande coordenação e ritmo na sua apresentação, e os animadores do palco dança deixaram depois espaço a que a assistência dançasse também, num abanar de ancas coletivo.
A emoção tomou conta do público durante a atuação de Fernando Daniel. Com êxitos já bem consolidados nos ouvidos das pessoas, o cantor e compositor português – que se tornou conhecido ao participar no Factor X Portugal e ao vencer a 4.ª edição do talent show The Voice Portugal – conquistou o público desde o primeiro momento. “Cair”, “Nada Mais” e “Raro” marcaram o início da sua atuação.
Com concertos em simultâneo, a decisão fazia-se por estilos. E a opção dos adolescentes era clara: Julinho KSD no palco secundário. Com 24 anos, Júlio Lopes é já um nome de destaque no panorama nacional de rap. Trouxe a este concerto os temas do seu álbum de estreia, “Sabi na Sabura” e também muita vontade de agitar as massas. Julinho KSD canta maioritariamente em crioulo cabo-verdiano e português, e mistura ambas as línguas também com inglês. “Bandidas”, “Gansgta”, “Vivi Good”, “Hoji Nka Tá Rola” e “Kriolu” fizeram-se ouvir na Caparica, mas também um radical “Sentimento Safari” com direito a roda de moche a completar a festa.
A dupla musical de irmãos de São Tomé e Príncipe, com origem em Portugal, formada pelos dois irmãos António Mendes Ferreira e Fradique Mendes Ferreira tomou depois conta do palco principal. Calema trouxeram a ondulação especial da costa africana para a Caparica e o público navegou nos seus conhecidos temas.
Com um atraso já de três horas, Miguel Ângelo fazia o possível por animar um público cansado pelo adiantado da hora, numa noite de semana. Era quase uma da manhã, quando tocava “Sou como um rio”, no início do concerto e houve um blackout. Com o público a aguardar serenamente o regresso, a banda acabou por descer à grade, pedir muitas desculpas pela interrupção e assim se despediram, sem condições para continuar. Por concretizar ficou também o concerto de The Legendary Tigerman.
Os reis da noite foram os Wet Bed Gang. A banda conhecida por levar o público à loucura, não desiludiu. O grupo português de rap da Vialonga, conta com Gson, Zara G, Kro e Zizzy no núcleo duro. O projeto começou em 2014 e, desde então, tem conquistado os portugueses. Com milhões de visualizações no Youtube, já ultrapassaram os 350 mil ouvintes mensais no Spotify. Em 2021 lançaram o álbum “Ngana Zambi” , que bateu o recorde do álbum português mais ouvido no Spotify no espaço de uma semana e tornou-se o quarto álbum mais ouvido pelos portugueses nesse ano. Já haviam provado a sua popularidade no Sol da Caparica, na edição anterior, quando praticamente deitaram abaixo o palco secundário e tiveram agora oportunidade de atuar para uma multidão ainda maior. Abriram com “Mesa 8”, “300”, “Irresponsável” e “Faço a minha”. Estão constantemente a interagir com o público e conseguem que cada concerto seja único e personalizado para “cada um dos irmãos” que assiste. Há quem tenha vindo atrás do tema mais conhecido “Devia Ir”, que fechou a noite, mas ninguém fica indiferente à explosão de energia e a boa vibe que os Wet Bed Gang trazem para o palco.
O Sol da Caparica volta a abrir portas esta sexta-feira. Estão previstas as atuações de Anna Joyce & Rui Orlando, Bonga, Djodje, HMB, Piruka e Riche Campbell (palco principal), Alcoolémia, Mão Morta, Nowhere to be found, Ricky Man, Vado Más Ki Ás e Zeca Sempre (palco secundário), Deejay Kamala, Danni Gato, Hugo Tabaco e Mandas (na tenda eletrónica), Diana Nogueira, Gimário Vemba e João Pinto (palco comédia), Jazzy Dance Crew, Kriss Kross Crew, Mgboos e Starfyah Crew (palco dança). Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e custam 22 euros (bilhete diário)


















