Zebrahead No Lisboa Ao Vivo – Noite De Festa, Na Cidade Das Sete Colinas

Por Diana Silva (Fotografias) e João Barroso (Texto)

Quase três décadas depois de terem iniciado atividade, os norte-americanos Zebrahead estrearam-se em território nacional, promovendo uma autêntica festa no Lisboa ao Vivo, à qual não faltou um mini-bar instalado no palco, e oferecendo ao público lusitano um espectáculo intenso e divertido.

O projecto Zebrahead surgiu em 1996, na pequena cidade de La Habra, sita no condado de Orange County, Califórnia, e cedo se destacou pela originalidade das suas composições, uma mescla entre punk, pop e rap. Ao longo dos 30 anos que nos conduziram até aos dias de hoje, e apesar de algumas mudanças que foram ocorrendo na sua formação, a banda foi construindo uma carreira sólida, alicerçada na sua atitude irreverente e descontraída, o que lhe permitiu conquistar uma sólida base de fiéis seguidores. Agora, era chegada a hora dos fãs portugueses terem um primeiro contacto com a formação californiana.

Antes, porém, a abertura de hostilidades esteve a cargo dos portugueses Det-saW Coyote, grupo fundado na cidade das Caldas da Rainha, em 2017 e um dos nomes emergentes do cenário punk rock português. No bornal, o conjunto nacional trouxe o EP Caos, Suor e Desacato, as premissas com que regem a sua arte e com as quais pretendiam aquecer o Lisboa ao Vivo. Missão cumprida!

Zebrahead

Quando o relógio da rotunda bate as 10 badaladas, Zebrahead entra em cena, a todo o vapor.

I wanna see a circle pit, right here, right now!“, escutamos, enquanto Ali Tabatabaee (voz), Ben Osmundson (baixo), Ed Udhus (bateria), Dan Palmer (guitarra) e Adrian Estrella (voz e guitarra) ocupam todos os cantos do palco, deixando apenas espaço para um pequeno bar, onde um amigo do grupo vai servindo todo o tipo de bebidas.

Let’s fucking jump!“, sugere Ali, assim que os acordes iniciais de “The Perfect Crime” invadem o recinto lisboeta. De imediato, o caos toma conta da sala. Corpos aos saltos, numa dança desgovernada. Vozes que gritam cada verso, de cada estrofe. Escutam-se palmas a compasso.

“We’re Not Alright” chega com estrondo, mas está tudo bem! “Everybody dancing on this one!“, exige o vocalista. Depois, faz jus ao estatuto de mestre de cerimónias, aponta o microfone para a plateia, convocando o coro do Lisboa ao Vivo, e conduz a coreografia levada a cabo pela audiência. A canção é curta, mas a viagem parece interminável. Agora, pede-se que todos se coloquem de cócoras, para que, no instante seguinte, obedeçamos à voz de comando: “let me see you jump!“.

A primeira pausa serve para respirar e para que Adrian se dirija à plateia. Pergunta quantos dos presentes já tinham experimentado um concerto de Zebrahead e conta que nunca antes haviam passado por Portugal, país em que se encontram há dois dias. “We love your country!“, confessa, ainda que se queixe de ter encontrado demasiados compatriotas, pelas ruas de Lisboa. “Obrigado!“, agradece, antes de introduzir “Hello Tomorrow”.

Seguem-se “Homesick for Hope” e “Lay Me to Rest”, canções do EP III, de 2021, o primeiro a contar com a participação de Adrian Estrella, como faz questão de assinalar Ali Tabatabaee, um dos três membros fundadores que se encontra em palco, para além do baixista Ben Osmundson e do baterista Ed Udhus.

Apesar de estarmos num concerto de punk rock, estilo caracterizado por melodias menos complexas, não deixa de haver espaço para o virtuosismo, cortesia do guitarrista Dan Palmer, que nos vai oferecendo alguns solos inebriantes. Também ele entrou mais tarde na banda (em 2013, para sermos mais precisos) e, para além da técnica musical apurada, trouxe um toque de requinte ao conjunto: o seu bigode à Salvador Dali, uma espécie de adorno à arte que pratica.

Beautiful!“, atira, embevecido, Adrian, ao ver a forma como o Lisboa ao Vivo canta, em uníssono, as músicas que vão jorrando do palco. “Put your devil horns in the sky!”.

O próximo tema a ecoar pela sala é “Rescue Me”, canção retirada do MFZB, disco de 2004 e um dos mais revisitados da noite. É neste momento que um jovem se lança às vagas provocadas pela mole humana em ebulição, abrindo a temporada de crowdsurf. Pequena em tamanho, mas enorme em coragem e atitude, a criança é suavemente transportada pelas vagas, sob o olhar atento de alguém que julgamos ser o seu pai e imune ao ruído envolvente, protegida pelo seu par de headphones cor-de-rosa.

Lisbon, sing with me!“, pede Ali, como se isso fosse necessário.

Entretanto, chegam “Postcards from Hell” e “When Both Sides Suck, We’re All Winners”. Dan salta até à plateia e embala-nos com mais um dos seus solos, fazendo parecer que as notas passam directamente das cordas da guitarra para os nossos ouvidos. Uma espécie de osmose.

Segue-se “No Tomorrow” e o Lisboa ao Vivo comporta-se como se não houvesse amanhã, de facto. A música tem o condão de fazer surgir um circle pit no seio da audiência, transformando-a no olho do furacão.

A próxima sequência transporta-nos até ao Phoenix, obra de 2008. Escutamos “Mike Dexter is a God,…” e “Hell Yeah!”, sendo que, pelo meio, assinalam-se os aniversários de dois elementos do público e do próprio Adrian Estrella. Para celebrar, é-nos pedido que façamos um “on the shoulders circle pit“. A plateia não desilude, e várias são as pessoas que se colocam às cavalitas do parceiro mais próximo, partindo estes numa correria desenfreada, ao mesmo tempo que, no palco, Ben Osmundson e Dan Palmer vão ensaiando uma estranha coreografia.

Did you guys come to party?“, pergunta Ali, no instante em que se ouvem os primeiros acordes de “Fight for Your Right”, um original dos Beastie Boys. Porém, o tema é interrompido abruptamente, para dar lugar a “Who Brings a Knife to a Gunfight”, promovendo uma festa ainda maior.

Entretanto, dois fãs são convidados a subir ao púlpito e a provar as bebidas do bar de Zebrahead. Enquanto brindamos, escutamos “Drink Drink” e mais um circle pit emerge do coração do Lisboa ao Vivo. Seguem-se “Sink Like a Stone” e “Worse Than This”, e “Call Your Friends” é dedicada a todos os presentes, “because we are all friends“, como faz questão de sublinhar Adrian. No meio da canção, o grupo introduz um pequeno trecho do clássico “Basket Case”, de Green Day. Chega a ser redundante continuar a dizer que se canta a uma só voz, mas é o que, de facto, acontece!

“Obrigado, Portugal!”, agradece Ali Tabatabaee. “We only have one more song to play and I would like to see a circle pit around me!“, continua, enquanto desce até à plateia e mergulha no mar de gente. No palco, a banda toca “Anthem” e a música é entoada pelo coro lisboeta como se de um verdadeiro hino se tratasse. Porém, este não é o ponto final…

Após breves segundos de ausência, Zebrahead regressa, informando que tem mais um par de temas para nos oferecer e que, depois, será hora de ir beber tequilla para o bar.

Alguém grita por “Falling Apart” e o desejo é concedido, não sem que, antes, a sala seja dividida em dois, para que seja promovido um “wall of death“.

You guys are awesome!“, exclama Adrian. Depois, chegam as despedidas e o desejo de que o reencontro entre Lisboa e Zebrahead aconteça em breve.

O epílogo é escrito ao som de “All My Friends Are Nobodies” e o momento resume, em algumas cenas, tudo aquilo que vivemos, ao longo do concerto. Enquanto o público se apodera do papel de vocalista, o barman da banda surfa sobre a audiência, com a ajuda da mala de uma guitarra, e Ali ajoelha-se, hipnotizado pelo último solo sacado da mente criativa de Dan Palmer, em conjunto com o seu imponente bigode.

No final, uma certeza: o primeiro encontro entre os californianos e a cidade das sete colinas acendeu uma chama que dificilmente se apagará!

Amor à primeira vista.

Artigo anteriorRui Veloso Celebra 45 Anos De Carreira Com Dois Concertos Especiais
Próximo artigoNovo Cardume Das Sardinhas Bordallianas Já Chegou À Lota

Deixe uma Resposta

Por favor digite seu comentário!
Insira o seu nome