
A Festa apresentou grandes nomes do panorama musical português, desde bandas em ascensão como Quartet of Woah a outras já consagradas como Deolinda ou Xutos & Pontapés, passando por grupos de fusão de músicas do mundo como Kumpania Algazarra e fadistas como Gisela João – mas na realidade, poucos são os que lá vão “pelo cartaz”. Convívio, gastronomia regional, exposições, teatro, cinema,… e claro, “camaradagem”: um conjunto de características que distingue esta festa construída por militantes voluntários de outros eventos musicais.
No primeiro fim-de-semana de setembro, tudo coube na Quinta da Atalaia, da política à música, da cultura à amizade, dos jovens curiosos aos velhos camaradas. Trocas de ideias, de piadas, de copos, em três dias solarengos à beira-Tejo. Ao local acorreram milhares de pessoas, e além da música – onde a nacional é rainha mas deixa também espaço para a de outros países – houve lugar para debates, exposições, mostras de artes, desporto ou ciência, e as habituais feiras do livro, do disco, e de coleccionador.
Na noite de sexta-feira, o Palco 25 de Abril foi reservado à música clássica, tendo contado este ano com mais um concerto da Orquestra Sinfonietta de Lisboa. Para além da música no Auditório 1º de Maio e restantes palcos, foi possível ver outra arte no Avanteatro, com a versão estilo Commedia Dell’Arte de um clássico de Shakespeare em “Julieta”, ou com o original espectáculo “Miss E@sy”.
No sábado, o início da Festa coube a Quartet of Woah e The Godspeed Society, que dividiram as atenções entre os dois principais palcos. Durante todo o dia foi possível aos visitantes assistir a diversas modalidades no Polidesportivo, participar em jogos de xadrez ou matraquilhos, fazer escalada ou slide, assistir a curtas e longas metragens no CineAvante, visitar o Espaço Central (este ano dedicado ao centenário do nascimento de Álvaro Cunhal), da Criança, ou da Ciência, e os Pavilhões da Mulher, da Emigração, e dos Imigrantes.
Ao final da tarde, as atenções viraram-se primeiro para Skalibans, com o seu ritmo acelerado e enérgico, e depois para Dazkarieh, com a sua sonoridade folk, puxando pelos corpos dançantes presentes no recinto.
Como não só de cultura se alimenta um camarada, por entre concertos é possível fazer uma autêntica viagem gastronómica nacional através dos inúmeros restaurantes presentes, com pratos como Feijoada à Transmontana, Açorda à Alentejana, Rojões à moda do Minho, Leitão da Bairrada, Bacalhau à Braga, Sopa de Cação de Évora, Arroz de Marisco do Algarve, Ensopado de Borrego de Beja, ou Francesinhas do Porto. Servem-se ainda hambúrgueres e até pizzas, em quase qualquer stand se pode comer uma bifana por 1,85 euros, e também não existe qualquer oposição a trazer comida de fora do recinto.
No domingo, a plateia frente ao palco principal era escassa mas satisfeita, com os Boca Doce a puxarem pela nostalgia de todos. Com um reportório que vai de Variações a Ágata, passando por Doce, Cid, Veloso e até Ana Malhoa, conquistam o público com sentido de humor e criatividade. Seguiram-se os veteranos UHF e Kalú com o seu projecto a solo, disputando atenções com a versátil Kumpania Algazarra noutro palco.
Às 18h00, o habitual comício. Pelo recinto, inúmeros camaradas de bandeira em punho, senhoras de cravos ao peito, e os integrantes de Tocá Rufar ou Bardoada a animarem a marcha. Em palco, palavras de apreço pelos militantes que põem a Festa de pé, saudações a todos os visitantes, e comentários sobre a situação política e socioeconómica do país.
Por fim, aqueles que seriam talvez dos concertos mais aguardados do fim de semana. Os muito nacionais Deolinda que chegaram e conquistaram, continuam a mover um vasto público, contagiando-o com a sua alegria e sonoridade tradicional com um toque moderno. Quanto a Xutos & Pontapés, palavras para quê? É rock “tuga” incontornável, e quer se seja um fanático vestido a rigor, com cartaz dedicado e pulsos cruzados no ar, ou alguém que nunca iria a uma actuação da banda em nome próprio, é complicado não gostar. A partir do momento em que se está num concerto de Xutos, a atmosfera envolve, os refrões repetem-se, e os pés saem do chão, com as mais variadas gerações sabendo as letras de cor.
A “Carvalhesa”, repetida diversas vezes ao longo da Festa, sempre faz pular e dançar, mas nada como a última, que encerra o evento acompanhada de fogo-de-artifício. Quem não aprecia a confusão que se afaste, porque a bem ou a mal, tem de saltar, durante este extâse que antecede o fim.
Por entre inúmeros concertos, num recinto lotado que dificulta a circulação, repleto de diferentes espaços a explorar, actividades a usufruir, e com um relvado à beira-rio que chama por nós, é impossível assistir a tudo. Mas a Festa é mesmo assim. Vê-se o que se pode, ou o que se quer, com descontração e boa companhia. Até para o ano, Avante!