Born Of Osiris No Lisboa Ao Vivo – Amor À Primeira Vista

Por Diana Silva (fotografia) e João Barroso (fotografia)

Born of Osiris
Born of Osiris

Depois de se terem estreado em Portugal no primeiro dia de junho, no Hard Club, no Porto, os norte-americanos Born of Osiris subiram ao palco do LAV, em Lisboa, para apresentar o seu novo registo, cuja edição está prevista para o próximo dia 11 de julho. Apesar da inesperada e repentina saída do guitarrista Lee McKinney, há poucos dias, os restantes elementos do grupo não se renderam, assegurando a continuação da tour em formato power trio. A acompanhar o conjunto de Chicago estiveram os seus compatriotas Entheos, os britânicos Ingested e os portugueses The Voynich Code, as bandas com quem têm partilhado o palco, ao longo desta digressão pela Europa.

The Voynich Code

As honras de abertura cabem aos portugueses The Voynich Code, nome que remete para o célebre manuscrito do século XV, cuja origem, propósito e autoria permanecem por decifrar.

Apesar da hora vespertina, o conjunto lisboeta não deixa uma gota de suor por gastar, entrando, a todo o gás, ao som de “Cage of Innocence”, single de 2019. “Gimme some more!”, pede o novo vocalista, o britânico Jack Kinsey, enquanto a sala vai ficando composta.

Segue-se uma passagem pelo álbum Insomnia, de 2023. Escutamos “Slaves to a Machine” e “A Flicker of Life”, ao mesmo tempo que o incansável Kinsey vai incentivando a audiência, cada vez mais numerosa: “let’s keep insanity!”, pede. A sala é tomada pelo caos. Abre-se um circle pit e os solos que se escutam têm o condão de promover um headbang coletivo.

“We are The Voynich Code from Lisboa, Portugal!”, informa o frontman, antes de nos introduzir o próximo tema. “This is a new one! It’s called Serpents Meridian.” A banda entrou numa nova fase, recentemente, com a saída de Nelson Rebelo, anterior vocalista e membro fundador do grupo, sendo que esta música, a primeira gravada com Jack Kinsey, é uma espécie de levantar do véu do que poderemos esperar no futuro.

Antes do final de uma atuação curta, mas intensa, Kinsey agradece a Entheos, Ingested e Born of Osiris, as bandas com que continuarão a partilhar o palco, até ao terminus da tour (no dia 8 de Junho, em Aarau, na Suíça), e anuncia uma surpresa: Nelson Rebelo junta-se, uma última vez, aos seus companheiros, para interpretar “The Last Grain”, juntamente com Jack Kinsey. Momento simbólico, que representa o fechar de um ciclo e a última dança do homem que, ao longo de uma década, deu muito mais que a voz, ao projeto The Voynich Code.

Entheos

Segue-se Entheos, formação originária de Santa Cruz, na Califórnia, cidade onde deram os primeiros passos, corria o ano de 2015.

“All for Nothing” é a primeira faixa que se faz ouvir. “Lisboooon!”, grita a vocalista Chaney Crabb, enquanto observa o efeito que a música tem sobre a plateia. “How are you doing, tonight?”, pergunta, no final da canção e antes de se lançar ao próximo tema. “This one is called Absolute Zero and I’d like to see a mosh pit!”. Lisboa faz-lhe a vontade. Corpos cruzam-se, de forma desgovernada, enquanto as notas que exalam do palco vão tomando conta dos quatro cantos do recinto.

A performance dos norte-americanos, divide-se entre os dois registos mais recentes: An End to Everything, EP lançado em outubro de 2024, e Time Will Take Us All, álbum de 2023. Ouvimos “An End to Everything” e “I am the Void”, canção que nos oferece uma sonoridade mais doom e em que somos convidados a saltar pela carismática Chaney, cujo alcance vocal vai de uma voz doce e delicada a um timbre maléfico, capaz de provocar arrepios ao mais audaz dos presentes.

Entretanto, continuamos ao ritmo de “Life in Slow Motion” e “A Thousand Days”, e dos seus inebriantes solos. Por esta altura, o público já está rendido e é generoso nos aplausos.

“Thank you for being such a good crowd!”, agradece, genuinamente, Chaney Crabb. “This is going to be the last song.”, avisa, antes de mergulhar em “The Sinking Sun”, a derradeira música que nos é oferecida por Entheos. Depois, como se de uma maestrina se tratasse, dirige a atuação da plateia, até que cai o pano sobre o espetáculo dos californianos.

Apesar da queda generalizada das temperaturas, o ambiente está quente, no Lisboa ao Vivo.

Ingested

Assim que entram em cena os britânicos Ingested, as vagas musicais geradas pela brutalidade da sua música invadem a sala lisboeta.

A sequência inicial é formada por “Titanomachy” e “Endgame”, malhas retiradas do EP Revered by No-One, Feared by All, de 2013. “How does it feel?”, pergunta o vocalista Josh Davies, enquanto pede que o circle pit não pare de rodar. “I need chaos!”, confessa.

Entretanto, Davies fala do novo single da banda. É o primeiro registo em que participa, já que é recente a sua entrada no grupo, para substituir o anterior frontman, Jason Evans. “This is called Altar of Flesh!”, anuncia. Seguem-se “Impending Dominance” e “Invidious”. O conjunto oriundo de Manchester soma quase duas décadas de existência e a sua discografia é vasta, porém, opta por recuperar temas mais antigos, em detrimento de canções mais recentes, sendo que a excepção é a referida – e recém forjada – “Altar of Flesh”.

Durante as músicas, Josh Davies vai incentivando a plateia, não permitindo que esta descanse um segundo. “Everybody in the room put the hands in the sky!”, ordena. Lisboa obedece, com prazer, e imerge nas ondas de Brutal Death Metal que se erguem desde o palco.

A recta final transporta-nos até 2009, altura em que Ingested editou Surpassing the Boundaries of Human Suffering, o álbum de estreia. Primeiro, escutamos “Copremesis”. Depois, ficamos com “Cremated Existence”. “Are you having a good time?”, pergunta Davies, antes de fazer um pedido: “a wall of death!”.

“Skinned and Fucked” é a última canção dos britânicos que se faz ouvir, ilustrada pela saudável desordem que se verifica na audiência. No final, o caos prevalece.

Born of Osiris

Muitos são aqueles que aguardam para ver, pela primeira vez, Born of Osiris, cujo nome é uma referência ao deus egípcio e ao mito do nascimento do seu filho Hórus. A banda norte-americana estreou-se em solo nacional no primeiro dia de junho, no Porto, sendo que, hoje, é Lisboa quem aguarda, ansiosa, pelo encontro com o conjunto de Chicago.

“Portugal!!”, saúda o vocalista Ronnie Canizaro, assim que sobe ao púlpito. Há poucos dias, em plena digressão, a saída do guitarrista Lee McKinney apanhou todos de surpresa, mas os restantes elementos do grupo não se renderam, apresentando-se, agora, em formato power trio e garantindo que não deixarão de cumprir o que resta da tour.

“Open Arms to Damnation” e “Bow Down” são as primeiras canções que se fazem ouvir. Ambas fazem parte do registo de estreia da banda, o EP The New Reign, e funcionam como catalisador para que o caos volte a instalar-se no seio do Lisboa ao Vivo. Uma autêntica pedrada na mente do mais incauto dos presentes.

What’s up, Lisbon?“, pergunta Canizaro. “I wanna see a circle pit!“, pede. Seguem-se “Elevate” e “A Mind Short Circuiting”, temas que farão parte do álbum Through Shadows, cuja edição está prevista para o próximo mês de julho. O alinhamento escolhido pelos norte-americanos debruça-se, sobretudo, sobre os dois pólos que marcam os extremos opostos da sua carreira: o trabalho mais antigo e o disco que se encontra na iminência de sair da forja. É audível a diferente abordagem sonora entre os dois registos. Nota-se evolução, sem que se perca a coerência. Como se passado e presente se tocassem, numa perfeita alquimia.

“Let me see those hands in the air!”, diz o vocalista, ao mesmo tempo que corpos vão boiando, à deriva, sobre o mar de gente que se acumula junto ao palco. “Are you having a good time?”. A resposta é desnecessária. A coreografia desenhada pela plateia fala por si. “Portuguese headbang!”, exclama, embevecido, Canizaro.

“Divergency”, “White Nile” e “Ascension” marcam as passagens pelos álbuns Tomorrow We Die Alive (2013), Angel or Alien (2021) e The Discovery (2011), mas rapidamente voltamos a virar agulhas para os dois registos mais celebrados da noite. Primeiro, escutamos o clássico “Empires Erased”. Depois, as novas “In Desolation”, “Through Shadows” e “Torchbearer”, não sem que, antes, Canizaro se tenha referido ao disco que sairá brevemente e ao facto de esta ser a primeira visita de Born of Osiris a Lisboa.

Continuamos com “Abstract Art” e “Brace Legs”, enquanto a mole humana salta, atendendo ao desejo do baterista Cameron Losch, o único elemento fundador que se mantém na formação de Chicago e para quem o frontman, Ronnie Canizaro, pede um enorme aplauso. Na recta final, “The War that You Are” e “Rosecrance” desfilam pela sala e atende-se ao apelo feito por Born of Osiris: “keep the mosh pit going!”.

“We have one more song for you, Lisbon!”, avisa Canizaro, antes de sugerir uma ovação para Ingested, Entheos e The Voynich Code, os grupos com que têm partilhado o palco, ao longo desta tournée pela Europa.

Aos primeiros acordes de “Machine”, a plateia responde com entusiasmo, juntando-se aos músicos, com o instrumento que tem à mão. Palmas. “Portugal, we love you!”, declara-se o vocalista, ao mesmo tempo que o Lisboa ao Vivo se transforma num autêntico coro. Banda e público fundem-se num só corpo. Canta-se a uma só voz.

Quando desce o pano, Born of Osiris não sai de cena. Desce do púlpito e abraça os fãs, prolongando este primeiro encontro com Lisboa. Duas décadas depois de ter iniciado atividade na periferia de Chicago, o conjunto norte-americano cede aos encantos de Portugal. E vice-versa.

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