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Imagine Dragons No Estádio Da Luz Com Um Espetáculo À Escala Dos Seus Maiores Êxitos

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Imagine Dragons

Há concertos que se ouvem. Outros que se vivem. E há os que nos atravessam, até ao coração. O que os Imagine Dragons trouxeram ontem ao Estádio da Luz foi tudo isso com som, luz, suor e memória. Um concerto de estádio não se limita à música. É uma espécie de ritual pagão, partilhado por milhares de almas em êxtase, onde a música deixa de ser só canção e passa a ser vivida como uma espécie de verdade pessoal e coletiva.

Com uma carreira carregada de êxitos, muitos dos quais foram descarregados, um a um, como bombas emocionais sobre a plateia, os Imagine Dragons mostraram porque é que pertencem à liga dos grandes. Num alinhamento que atravessou a sua discografia, da intensidade de “Radioactive” à energia contagiante de “Thunder”, não houve refrão que não fosse gritado a plenos pulmões, nem corpo que ficasse imóvel.

E, porque a grandeza de um concerto de estádio se mede também pela ambição do espetáculo, não faltaram explosões de confettis, lança-chamas, muralhas de luz e uma cenografia que fez tremer a noite lisboeta. Desde o primeiro segundo, ficou claro que não vinham apenas tocar: vinham incendiar.

Imagine Dragons
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A noite começou com uma intro instrumental quase tribal. Os quatro músicos apareceram numa plataforma superior, recebidos por um histerismo coletivo que abalou as fundações do estádio. O primeiro tema foi “Fire in These Hills”, do álbum Loom (lançado em junho de 2024), uma canção com uma melodia melancólica e letra introspetiva sobre luto, memória e as feridas que ficam. Mas a interpretação foi tão cheia de energia que transformou essa dor numa mensagem de força. E como se fosse necessário sublinhar o tom de celebração da noite, os primeiros confettis coloriram o ar, marcando logo o tom de todo o concerto.

Seguiu-se “Thunder”, que manteve o ritmo em alta, agora com o apoio de pirotecnia e uma verdadeira orgia visual. Em “Bones”, foi o público que tomou conta do refrão, num daqueles momentos em que os artistas se limitam a assistir à comoção coletiva que criaram. Dan Reynolds corria, saltava, girava numa espécie de sessão de cardio, num frenesim contagiante que encontrava eco num público já rendido.

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“Take Me to the Beach” começou com um solo de guitarra e Dan regressou ao palco em tronco nu, a exibir uma forma física que não passou despercebida. Boa parte da atuação desenrolou-se numa passadeira no meio do relvado, o que garantiu proximidade com o público e deu o mote para o lançamento de bolas gigantes insufláveis, como se estivéssemos, de facto, numa praia.

Com “Shots”, ficou clara a qualidade dos ecrãs e do design visual: imagens ao vivo dos músicos surgiam emolduradas por gráficos de terracota, como janelas medievais abertas para o presente. O ambiente de festa intensificou-se. “Love you, Lisbon! Obrigada!”, gritou Dan.

“I’m So Sorry” arrancou com um solo de baixo. Houve tempo para apresentar a banda. O guitarrista com um coração arco-íris na guitarra e um “Somos de Las Vegas, obrigado, thank you” que arrancou aplausos. Em “Whatever It Takes”, Dan lança mais um apelo ao público: “Cantem conosco!” E o estádio obedeceu.

Foi então montado um pequeno palco acústico no meio do público. Foi aí que interpretaram “Next to Me” e “I Bet My Life”. Dan chegou a descer ao fosso, envolvendo-se ainda mais com quem estava nas primeiras filas.

Uma nova pausa no concerto, com belas imagens que mostravam uma onda a formar-se nos ecrãs, fizeram a transição para “Bad Liar” e “Wake Up”.

“Radioactive” foi um dos momentos mais intensos. Com dois kits de bateria no palco, Dan assumiu um deles, no nível superior, para um duelo de percussão, a deixar o público a aplaudir com entusiasmo.

“Demons” começou com Dan ao piano, numa entrega emocional que logo depois se estendeu ao espaço mais próximo do público. Seguiu-se “Natural”, com corredores de fumo a percorrerem a passadeira que dividia o relvado. Mais um exemplo do cuidado cénico e do impacto visual de todo o espetáculo.

A meio do concerto, Dan abrandou, mas só na velocidade. Falou de saúde mental, de ansiedade, da importância da música como refúgio e ferramenta de cura:
“Se estiveres a passar por isso, não estás sozinho. Há pessoas à tua volta. Fala. Há terapia. A tua vida vale sempre a pena ser vivida.”

Depois dessa pausa necessária, regressou a intensidade com “Walking the Wire”, “Sharks”, “Enemy” e “In Your Corner”, canção sobre lealdade, onde Dan deixou o conselho:
“Se encontrarem alguém verdadeiramente leal, fiquem com essa pessoa.”

“Birds” trouxe mais um momento de encontro, mas foi com “Believer” que tudo explodiu. O encerramento foi feito com toda a potência que se esperaria de um hino da banda: fogo, luz, cor, som — e milhares de vozes que se recusavam a despedir-se.

No final, ficou no ar aquilo que só um concerto de estádio pode deixar: a sensação de que a vida, por vezes, faz sentido quando é vivida ao ritmo das canções que nos acompanham, nos levantam e nos ligam uns aos outros.

Declan McKenna Aqueceu o Público Antes de Imagine Dragons

A abrir o concerto dos Imagine Dragons, o músico britânico Declan McKenna trouxe ao Estádio uma sonoridade marcada pelo indie rock e pelo pop alternativo. Ainda com o sol alto no céu, o público começava a encher as bancadas e a ocupar os melhores lugares no relvado, num vaivém típico de quem chega com tempo para se ambientar e aproveitar o cartaz completo.

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Conhecido pelo seu álbum de estreia What Do You Think About the Car?, editado quando tinha apenas 18 anos, McKenna apresentou-se em palco com uma banda coesa e bem oleada. Entre os músicos, destacou-se a guitarrista portuguesa Isabel Torres, que fez questão de saudar a audiência com entusiasmo: “Olá! Vamos provar que somos a melhor audiência!” — uma frase que arrancou palmas e sorrisos cúmplices dos primeiros milhares de fãs a chegar ao recinto.

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Durante o alinhamento, a banda passou por temas como “Beautiful Faces”, um dos seus maiores êxitos, “The Key to Life on Earth” e “Nothing Works”, demonstrando uma presença em palco segura, ainda que mais contida do que a dos cabeças de cartaz. Um dos momentos mais marcantes da atuação foi a interpretação de “Heroes”, o clássico de David Bowie, que serviu de homenagem e ponte emocional entre gerações.

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