Foi com a imponência de dois guindastes amarelos, uma passarela em T que rasgava o público ao meio e um jogo de luzes e vídeo digno dos maiores palcos mundiais que Tate McRae deu início à sua digressão europeia Miss Possessive, esta quarta-feira, na MEO Arena, em Lisboa. A cantora canadiana, que se afirmou como uma das figuras mais influentes da nova geração da pop, apresentou um concerto onde a alta tecnologia, a performance física e a sensualidade se fundiram num espetáculo que não desiludiu os fãs.
Tate McRae tem apenas 21 anos, mas já carrega uma carreira impressionante: começou como bailarina profissional, aos 13 foi finalista no programa So You Think You Can Dance, e tornou-se viral no YouTube em 2017 com “One Day”. Desde então, assinou com a RCA Records, lançou três álbuns — o mais recente, So Close to What, saiu em 2025 — e conquistou os tops internacionais com temas como “Greedy” e “Sports Car”. Lisboa foi o ponto de partida para 50 concertos agendados entre a América do Norte e a Europa, e os fãs portugueses foram os primeiros a assistir ao novo alinhamento e a múltiplas estreias ao vivo.
Antes do espetáculo, os altifalantes deixaram clara a faixa etária do público, maioritariamente adolescente, que cantaram os temas de Olivia Rodrigo (“So American”) e Gracie Abrams (“Close to You”). Quando as luzes se apagaram, surgiu no ecrã uma regie a mostrar imagens do público em direto. No backstage a silhueta de Tate observava tudo e enfurecia-se com a proximidade de alguns bailarinos. Subiu então a uma plataforma elevada e iniciou o concerto com a enérgica “Miss Possessive”, seguida de “No I’m Not in Love” — dois temas apresentados ao vivo pela primeira vez.
Em palco, além dos bailarinos, estavam apenas um baterista e um guitarrista. A artista canadiana surgia vestida com um corpete de cetim branco, entre fumo, luzes e coreografias cheias de energia. Manteve o ritmo com “2 Hands” e “Guilty Conscience”, esta última acompanhada de um vídeo provocador que mostrava Tate ao telefone numa varanda, despindo-se até ficar em roupa interior. Um dos momentos mais sensuais da noite foi a interpretação de “Purple Lace Bra”, que contou com um número de pole dance, seguido de “Like I Do”, “Uh Oh”, “Dear God” e “Siren Sounds”.
Um dos momentos mais memoráveis aconteceu quando Tate se deslocou para um pequeno palco no fundo da arena. Os fãs, preparados, acenderam os ecrãs verdes dos seus telemóveis para o tema “Greenlight”. A euforia foi tal que, no final da canção, a gritaria atingiu níveis ensurdecedores. Ainda neste palco secundário, que se elevou no ar, estreou mais um tema: “Nostalgia”, num ambiente mais íntimo, iluminado pelas luzes dos telemóveis.
Num dos segmentos mais emotivos da noite, a artista sentou-se ao piano e revelou um lado mais cru da sua arte. “Vou fazer uma coisa que nunca fiz”, anunciou. Partilhou memórias da adolescência e das primeiras composições que agora ganhavam vida ao vivo, pela primeira vez. Tocou “That Way” canção que escreveu aos 17 anos, “Chaotic” que acompanhou a sua mudança para Los Angeles aos 17 anos e “One Day” a primeira que publicou online.
A ligação com o público intensificou-se quando pediu para levantarem os telemóveis antes de “You Broke Me First”, um dos seus maiores êxitos, seguida de “Run for the Hills”. A artista regressou depois ao palco principal, e continuou com a sua atuação de espetáculo pensado para ecrãs: planos coreografados, molduras de luz a destacar os bailarinos e teatralização constante.
O alinhamento final incluiu “Exes”, “Bloodonmyhands”, “She’s All I Wanna Be”, “Revolving Door” e “It’s Ok I’m Ok”. O clímax foi anunciado por uma contagem decrescente de um minuto, seguida de solos individuais dos bailarinos e uma explosão de energia em palco. O fecho do espetáculo trouxe os temas mais esperados: “Sports Car”, interpretado num sussurro que atravessou a arena como uma confidência, e o hino pop “Greedy”, que terminou entre ventoinhas, cabelos ao vento e gritos de histeria.
Lisboa recebeu, em primeira mão, um concerto que traz música, mas também dança e uma forte componente cinematográfica.
Para os milhares que encheram a MEO Arena, esta foi uma noite em que se assistiu, ao vivo, ao futuro da pop a ganhar forma.



















