Segundo dia de Marés Vivas ficou marcado pela chuva, pelas canções sobre o amor e pelas guitarras de Ben Harper. Marisa Liz, Rag’N’Bone Man e James Arthur subiram ao palco principal com um mar de gente mais acentuado do que no primeiro dia.
A tarde começou quente, embora de céu nublado e, no Moche Stage, ouvia-se Soraia Tavares, antiga concorrente do programa The Voice, que abriu este primeiro dia de festival. De botas cowboy e uma saia feita de slides dos anos 90, a cantora mostra a postura de pop star, mas é a sua voz que se destaca.
Entre danças sensuais, foi passeando pelo palco, sempre de sorriso rasgado, a divertir-se, o que rapidamente contagiou os que a ouviam. Trouxe ao palco o seu álbum A Culpa é da Lua, e arriscou com um novo tema, “Acelera”, que pôs todos a cantar o refrão. Para além disso, ainda cantou em crioulo. Tem alma e presença de artista, e a cereja no topo do bolo: uma voz inconfundível.
Perto das 18h30, junto ao palco principal, os fãs já esperavam por Marisa Liz. Em comparação com a primeira noite, a concentração de pessoas era maior para assistir ao concerto da artista que cantou o seu mais recente álbum, Girassóis e Tempestades.
A verdadeira mulher do rock entra em palco com um vestido branco onde se lia, à frente, “Free” e, atrás, “People”, (Libertem as pessoas). A mensagem de amor e paz foi-se prolongando durante todo o concerto.
O público começa a soltar-se quando a cantora canta um tema mais recente, “Garota”, uma colaboração com Maninho, seguindo-se de “A Noite”, música que partilha com Carlão e Stereossauro e, ainda, “Um Dia de Domingo”. Dentro do leque de duetos, surge um dos momentos mais emocionantes do concerto: entra Beatriz, filha da artista, de 16 anos, para partilhar o palco com a mãe ao som de “Contigo”. A reação é calorosa, todos aplaudem a jovem menina que, de olhos postos na mãe, mostra que sabe cantar. E bem!
Depois do momento emocionante vivido no festival, o palco vira uma autêntica festa quando entram em palco quatro Drag Queens, vestidas de prateado metálico e brilhante. A plateia está ao rubro e soltam-se os confettis amarelos.
A aproximar-se do fim, Marisa cantou um cover de Xutos & Pontapés e “Guerra Nuclear”, música composta por António Variações e cantada pela artista. Marisa pede “palmas bem alto pela Paz” e o público, não só cumpre, como eleva a fasquia e canta a música do início ao fim.
Terminado o concerto, a banda agradece e surgem cartazes no palco que ditam “Cease the fire now. Stop the war on children” (Cessar-fogo agora. Parem a Guerra contra as crianças). Se a mensagem não estava clara até agora, este foi o ponto final: “Amem para sempre”, profere a cantora. E sai do palco. A Marisa Liz é um furacão e quem lá esteve pode confirmar.
O dia começava a escurecer e o público foi surpreendido por uma chuva que parecia infindável. No entanto, estava na hora de ver e ouvir Rag’N’Bone Man, o artista britânico, conhecido por todos pelo seu vozeirão.
Entrou em palco às 20h00 e rapidamente agradeceu ao público por estar ali, mesmo com a chuva. “We can wait a little bit for the rain to stop” – Podemos esperar que a chuva pare – declara o cantor. Apesar dos impermeáveis e de se refugiarem junto às árvores, o recinto continuava pronto para o ouvir.
Detentor de vários temas de sucesso, é em “Skin” que o artista recebe uma reação mais calorosa. Cantou êxitos do álbum que ainda não saiu, cantou baladas, pôs tudo a dançar com “Lovers In a Paste Life”, tema com Calvin Harris.
Perto do fim, é em “Human” que o músico recebe uma incontestável reação. Soam os primeiros acordes, ouvem-se os gritos a ecoar pelo festival: é inevitável, esta música era o momento mais ansiado por todos.
Dizem que a chuva traz magia aos concertos. Acredito que essa magia se condensou durante “I’m only human after all”, frase que se ouvia de uma ponta a outra, até mesmo depois do concerto terminar. Este tema é o seu maior sucesso e toda a gente concorda.
“Vim pelo James Arthur. Já o vi antes e correu sempre bem, espero que hoje seja igual ou melhor”, contam duas fãs junto ao palco; “Sabemos as músicas todas, estamos prontas para cantar tudo” relatam três jovens de 16 anos. O entusiasmo era tanto que, na frontline, as lágrimas iam caindo à medida que o cantor-compositor entrava em palco, às 21h45, agarrado à sua guitarra pronto para cantar as suas “cartas de amor”.
James Arthur ganhou nome após ganhar o programa The X Factor em 2012 com “Impossible”. Sendo esta a segunda música do concerto, os festivaleiros, sem vergonha e de vozes bem afinadas, mostraram ao artista que sabiam as letras, do início ao fim. “Can I Be Him”, “Empty Space”, “Rewrite the Stars” e “Naked” forma alguns dos êxitos que realçaram o coro do Marés Vivas.
Durante o seu espetáculo, o artista salientou a sua preocupação e mostrou ser uma uma voz relevante na discussão sobre a saúde mental. “Be vulnerable. If you have a hard time, speak to your friends and family” – sejam vulneráveis e falem com amigos e famílias se estiverem a passar por momentos difíceis – deu o mote para a canção “Train Wreck”.
Cartazes e uma emoção contagiante, este concerto foi um dueto entre o cantor e o público, o que levou a que James caracteriza-se a plateia como “best crowd ever”.
Termina o concerto com o êxito “Say you won’t let go”. O público não queria “deixar ir” e James Arthur também não.
Pelas 23h00, o público do Moche Stage começava a dançar ao som do ritmo latino de Pedro Capó. De bandana vermelha na cabeça, o porto-riquenho encantou com as suas rimas, que animaram uma noite de letras sofridas. Dono do êxito “Calma”, conquistou o público que não parou de dançar um segundo.
Termina o concerto de James Arthur e vê-se o movimento das pessoas: sentam-se os filhos e levantam-se os pais para o concerto do grandioso Ben Harper.
Com 16 álbuns de estúdio, ele é um músico de excelência e quem o aprecia sabe. Não há palmas e não há coros, mas há olhos atentos neste artista que, sempre acompanhado da sua guitarra, vai cantando e encantando com a sua voz tranquilizante.
A sua banda não desilude e Ben Harper dá protagonismo a cada músico no palco. Apesar da pouca interação, o artista sente cada nota que toca na guitarra. “Don’t Give Up on Me Now”, “Finding our Way” ou “Steal my Kisses From You” foram alguns dos temas que provocaram reações nos amantes de música que se concentravam junto ao palco. O ponto alto desta noite foi, definitivamente, o tema “Good Luck/Boa Sorte”, com a artista brasileira Vanessa da Mata. O público cantava a parte da cantora e o dueto foi quase perfeito.
Sentado, deslumbrava os ouvintes com a guitarra haviana, em inglês lap steel guitar, tocada com uma palheta “especial”.
Sai do palco e ninguém se mexe: não querem ir embora e pedem “more, more, more”. E Ben Harper regressa ao palco com uma camisola do equipamento do Futebol Clube do Porto. Foi o delírio.
Volta para cantar mais duas músicas e ainda um pequeno cover de “Knockin’ on Heaven’s Door”. Por último, num ato corajoso, termina o concerto sozinho e com a sua guitarra. Quem gosta de Ben Harper, gosta dele por isto mesmo.
“Faltou uma música, mas não estou desiludida, foi incrível. Um sonho tornado realidade. Isto é música” explica fã no final.
Não conhecendo o reportório, eis o que retiro deste espetáculo: um artista que transborda talento e que não precisa de muito para bilhar. Quem esteve lá sabe e quem, não esteve, não faz ideia do momento que perdeu.
Quando termina um concerto no palco principal, o público do Marés já sabe para onde ir. No Moche Stage, logo após o último artista, a poeira do recinto voltou a levantar com os Insert Coin, duo de João Paulo Sousa e Joel Rodrigues, que soube perfeitamente chamar o público com a música “I Got a Feeling”.
“Até nas barracas se dança. Quem diria que depois de Ben Harper íamos estar aqui. Obrigada, malta”, grita a dupla. À medida que os hits iam passando, tornava-se obvio que a festa de fim de noite é no palco Moche.
Este segundo dia contou com mais nomes no Palco Comédia, desde Kenny Simões/Jonas logo às 16h30, Dagu às 19h30 e, por último, JEL às 21h15. Entre concertos, a espera nunca é um aborrecimento.
No Palco Coca-Cola estrearam-se os 5DM, às 19h30, quatro jovens rappers e mais um DJ, que vão saltitando pelo palco, ao som do trap português, todos de preto e amarelo.
Mais tarde, neste mesmo palco, pelas 21h15 e, depois às 23h00, voltou a atuar o grupo OnStage, já conhecidos por quem foi ao festival no primeiro dia. Continuaram nos covers de músicas bastante conhecidas, desde o rock ao pop. São uma boa surpresa deste Marés Vivas.
O terceiro e último dia do festival arranca, no Palco MEO, com António Zambujo (18h30), continua com a banda Ornatos Violeta (20h00), Louis Tomlinson (21h45) e, para encerrar esta edição, Snow Patrol (23h45). No Moche Stage, para começar o dia, sobe ao palco Diana Castro (17h30), de seguida Jüra (23h00) e, por último, Mundo Segundo & Convidados (01h15).
O Palco Comédia conta com Canta-me Uma (16h30), História (19h30) e David Antunes e Emanuel Moura (21h15). No Palco Coca-cola, vão atuar Ned5 (19h30) e OnStage (21h15/23h00).




















