Depois de atuar em Lisboa, integrado num festival, no final de 2018, ficou prometido um regresso, em nome próprio, nos meses seguintes. Mas a realidade sobrepôs-se à vontade, e os bilhetes comprados para essa data só este sábado foram validados. Longa espera? Sem dúvida. Mas as expectativas não foram sequer beliscadas. O Campo Pequeno recebeu Michael Kiwanuka com um grandioso silêncio de respeito e admiração.
Sala esgotada, para receber um dos nomes grandes da soul, da atualidade. O magnetismo da voz do cantor britânico, combinado com um forte jogo de luzes, deixou o recinto em silêncio. Reinou o respeito pelo talento, mesmo quando os focos de luz deixavam apenas ver o recorte das silhuetas dos músicos, em palco. Como se recomendassem que os sentidos não se dispersassem na imagem e se focassem na força da música.
Uma bola de espelhos colocada no centro do palco intensificou esse efeito, criando momentos quase psicadélicos, obrigando a um piscar de olhos, a quem insistia em mantê-los abertos. Musica tocada com alma, direta às emoções de cada uma das pessoas no Campo Pequeno. Abriu com “Piano Joint (This Kind of Love)”, sozinho a espalhar a voz por todos os cantos da sala. Só quando os restantes músicos começam a tocar é que o público sente que tem autorização para aplaudir. E fá-lo de forma ruidosa.
Seguem-se “One More Night”, “You Ain’t the Problem”, “Rolling” e “I’ve Been Dazed” sem paragens, só com um abrandar de ritmo no final de cada um deles, e mudança de melodia. Em “Black Man in a White World” começa a cantar apenas o refrão e o público acompanha-o a bater palmas, antes de continuar em força pela música fora. Só depos de “Rule the World” é que pára para cumprimentar o público “How are you feeling, Lisbon?”. Lisboa não tem dúvidas de que fez a aposta certa para uma noite inesquecível.
O concerto alterna entre momentos intimistas, em que se destaca a voz de Michael Kiwanuka e outros mais elétricos, com as guitarras em evidência. O alinhamento indice sobre “Kiwanuka”, o album lançado em 2019. “Hero”, “Hard to Say Goodbye” e “Light” são alguns desses temas. Sobre este último, Michael Kiwanuka refere que é um dos seus preferidos. Acrescenta a comentário que fazem todos os artistas que viram os seus concertos adiados “Passámos tempos malucos”. Na cauda de light apresenta um a um, os membros da banda. “Final Days” é mais outro dos momentos para smplesmente ouvir e desfrutar e a banda despede-se por breves momentos depois de “Solid Ground”.
Para o encore deixou as canções mais antigas e também as mais conhecidas, fazendo a sua despedida em grande, com a sequência incrível de “Home Again”, “Cold Little Heart” e “Love & Hate”. Só nesta última é que o público da bancada deixou os lugares, para devolver gratidão a esta noite especial: “Standing now/ Calling all the people here to see the show/ Calling for my demons now to let me go/ I need something, give me something wonderful”.
A primeira parte foi assegurada por Mychelle. Concerto que decorreu com as luzes acesas, o que fez com que as conversas paralelas se mantivessem, sem grande atenção à boa voz que atuava no palco. Apresentou alguns temas seus, na meia hora que teve disponível, onde inseriu uma cover de “Is This Love?” de Bob Marley.



















