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Noite The Cult(o) No Recreio Lisboeta

Reportagem de Diana Silva (fotografia) e João Barroso (texto)

Ao ocaso do dia 17 de julho, a Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, vestiu-se de negro, para receber The Cult, uma das bandas pioneira do movimento post-punk e cuja postura pró-experiencialismo ajudou a abrir fronteiras entre diferentes géneros musicais.

Quatro décadas depois de terem aberto atividade e do lançamento do seu primeiro álbum, o Dreamtime, em 1984, os britânicos decidiram embarcar numa tour de celebração dos seus 40 anos de carreira, a The 8424 Tour, cujo alinhamento inclui temas da maioria dos 11 registos de longa-duração que o conjunto editou ao longo da carreira, para além de outras pérolas.

À primeira vista, não faltavam jovens e havia heterogenia de gerações, mas a noite era da velha guarda, sobretudo daqueles que, em 1993, marcaram presença no Estádio José Alvalade, para assistir a um evento que ficou para a eternidade e que contou com atuações de Suicidal Tendencies, Metallica e, claro, The Cult.

The Cult
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Esta seria uma noite de culto e, para muitos, de regresso ao passado.

Os primeiros acordes transportaram-nos até 1996, altura em que saiu a compilação High Octane Cult, registo que incluía ‘Into the Clouds’, canção nunca antes editada. Mal podíamos adivinhar que seria “nas nuvens” que seguiríamos, ao longo da próxima hora e meia…

A sequência seguinte passaria por três décadas distintas, mostrando que a formação de Bradford pretendia, efetivamente, fazer uma viagem por toda a sua história: ‘Rise’ (2001), ‘Wild Flower’ (1987) e ‘Star’ (1994) foram as malhas que se ouviram, num só fôlego.
Pausa para respirar.

“Obrigado! How are you doing?”, foram as primeiras palavras, não cantadas, proferidas por Ian Astbury. Sem demora, seguimos para bingo, que a noite é de rock’n’roll e não de conversa.

‘Mirror’, extraída do disco Under the Midnight Sun (2022), foi a próxima música, para nos relembrar que esta terceira vida da banda também gerou bons frutos. Seguiram-se ‘The Witch’, tema editado com Sounds from the Cool World, banda sonora do filme Cool World, de 1992, e ‘Phoenix’, primeira incursão pelo clássico álbum Love, o mais revisitado da noite.

“I’m on fire!”, cantava-se, em uníssono, enquanto os camarotes suavam em bica e os The Cult incendiavam o palco, em grande forma, como uma fénix (mais uma vez) renascida…
“Ô-ééé, ô-é, ô-é, ô-ôôô…”, incentivava Ian. “Bonito!”, disse, quando correspondido pelo público. Depois, ‘Resurrection Joe’, single de 1984, e uma alusão a Cristiano Ronaldo, “embaixador da cultura portuguesa”, segundo o frontman que, não poucas vezes, imitou o célebre festejo do jogador.

Entre pedidos de palmas e a queixa de que “it’s pretty hot in here”, continuamos para ‘Sonic Temple’, registo de 1989, e embarcamos num momento acústico, ao som de ‘Edie (Ciao Baby)’ e embalados pelo coro do Coliseu dos Recreios. Segue-se ‘Sweet Soul Sister’, do mesmo disco, uma das canções mais aplaudidas e que incluiu um longo interlúdio e uma referência especial a “Mr Bass Man”, fosse ele o cantor norte-americano Johnny Cymbal ou o baixista Charlie Jones que, em palco, fazia vibrar todas as paredes da sala…

Entretanto, regressamos ao século XXI, com a bênção de ‘Lucifer’, momento em que Ian Astbury se ajoelha e gatinha pelo chão, como que clamando pelo Senhor das Trevas, e damos de caras com a incontornável ‘Fire Woman’: “smoke on the horizon!”, grita-se.
Bastaram soar as primeiras notas para que o êxtase tomasse conta da audiência, da plateia às galerias, passando por bancada e camarotes.

Depois, sem que estivéssemos preparados e ao contrário das previsões meteorológicas, ‘Rain’. “Here she comes again”, escuta-se. Mas é uma chuva de aplausos que acompanha a música e que nos conduz até ao álbum de estreia dos The Cult, Dreamtime, de 1984.

O tema ‘Spiritwalker’ tem 40 anos, mas, como nos confessa Ian, ao mesmo tempo que pede desculpa por não falar português, “it’s still magic!”. E é. Soa ao melhor que o post-punk nos pode oferecer e funciona como um catalisador para que, como que por magia, milhares de pessoas regridam no tempo, até aos anos da primavera da vida…

Voltamos ao Electric, de 1987, e entramos na ‘Love Removal Machine’, altura em que o amor e o calor que se fazem sentir na atmosfera obrigam Ian Astbury a despir o casaco.

Durante a música, um fã é chamado ao palco e presenteado com uma pandeireta, com a qual, sob as luzes da ribalta, dança como se não houvesse amanhã. Haveria?
‘Lil’ Devil’ encerra este capítulo, mas ainda seríamos agraciados com um encore feito de ‘Love’…

Primeiro, a balada ‘Brother Wolf’, Sister Moon’. Depois, a inesquecível ‘She Sells Sanctuary’. Final apoteótico, que transformou o Coliseu dos Recreios no epicentro de uma réplica do Grande Terramoto.

Ao cair do pano, Ian, pegou numa bandeira portuguesa, agradeceu a presença e o apoio do público e apresentou os restantes elementos da banda (Billy Duffy, na guitarra, John Tempesta, na bateria, e Charlie Jones, no baixo), sendo que o guitarrista, indefetível adepto do Manchester City, ainda esboçou um “thank you for Bernardo Silva!”, não sem que, antes, tivesse pedido um aplauso para o próprio Ian Astbury, terminando com um sentido “obrigado!”.
E ficámos ali, a olhar-nos, com as palavras de ‘She Sells Sanctuary’ a ecoar-nos na mente.
“The fire in your eyes keeps me alive”…

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