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O Concerto Coreografado De Feist Em Dois Atos

Reportagem de António Silva (fotografia) e Tânia Fernandes (texto)

Feist no Coliseu de Lisboa

Foi um longo espetáculo, de cerca de duas horas e meia, o que Feist trouxe ao Coliseu de Lisboa, esta quinta-feira. Cheio de surpresas e improvisos.

A apresentação de Multitudes, o álbum lançado este ano, dividiu-se em dois palcos. Primeiro, num espaço montado no centro do Coliseu, depois, já com a banda, no palco habitual.

Não é a primeira vez que Leslie Feist, a cantora canadiana mais conhecida pelo nome de Feist surpreende os portugueses. E foi mesmo isso que quis saber, quando entrou no Coliseu. Quem é que tinha estado no concerto anterior, na Aula Magna. E quem estava a vê-la pela primeira vez.

Feist brindou-nos com uma entrada diferente, surpreendente, quase coreografada.

Assim que as luzes se apagaram, a imagem na tela de fundo ganhou vida. O Coliseu assistia, ao vivo, à deslocação de alguém do back stage, pelos corredores do edifício.

Feist entrou pela lateral, agachada, de telemóvel na mão, a filmar o percurso, detendo-se ocasionalmente em algumas curiosidades como roupas, malas, sapatos ou mesmo a ausência deles!

Ao chegar ao microfone entregou um rasgado sorriso com “É bom voltar a ver-vos!”.

Sozinha no centro do Coliseu, rodeada de calor humano, encostou o telemóvel a um canto, com a câmera a apontar para os pés e ainda a transmitir.

Feist
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Abriu a noite com “The Bad in Each Other”. Voz limpa, acústica perfeita, recinto longe da lotação, mas aconchegante. Almas unidas pelo amor à musica, a cantar o refrão, logo desde a primeira canção.

Há concertos nos quais se consegue medir o sucesso logo pelos primeiros minutos. Este foi um desses casos.

Agradeceu os muitos aplausos desta entrada com um “Obrigada!” em língua local. Recolocou o telemóvel em frente à sua guitarra, brincou com os presentes e ao longo da noite mostrou-se muito comunicativa. Avisou que íamos entrar na máquina do tempo, “até ao tempo em que nos conhecemos” e deu-nos “Mushaboom” do álbum Let It Die.

Pergunta depois se alguém quer integrar a banda e segurar-lhe no telemóvel, fazer uns planos enquanto ela canta e toca. Aos mais entusiastas ela responde com graça, que não pode ser, ou teríamos uma imagem sempre aos solavancos. Opta por um rapaz, de pose semi-timida, com um braço semi-fletido no ar. O telemóvel é entregue a Jeremy, um canadiano, que parte em busca dos melhores ângulos. Não só de Feist, como do público.

Antes de voltar à musica, a cantora falou sobre os tempos difíceis em que achou que este momento não ia voltar a ser possível.

Jeremy, o designado camera man circula pelo público e vai transmitindo fotografias que as pessoas lhe mostram nos telemóveis. Feist havia pedido que mostrassem imagens de pessoas e momentos que deram ânimo e esperança dos momentos mais dificeis da pandemia. Crianças e animais de estimação foram os clichés, mas há sempre os mais criativos a proporcionar pequenos momentos de boa disposição.

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De forma descontraída, Feist trouxe-nos uma nova forma de entretenimento, centrada na sua música, mas com uma interessante componente visual.

Seguiram-se “Century” e “Forever Before”. Acompanhámos o espetáculo de folk em que Feist recorre ao pedal de loop para se harmonizar consigo própria.

Entregam-lhe depois um ramo de rosas brancas e enquanto a cantora pediu uns minutos para afinar a guitarra o público, de forma espontânea cantou o “Malhão Malhão”.

As imagens de vídeo tornaram-se mais psicadélicas, a voz intensificou em “Become the Earth” e o público acompanhou-a. Mas está também de olho no que a câmera de Jeremy revela e somos levados nesta encenação que se percebe ser mais coreografada do que improvisada.

“A Man Is Not His Song” é o poema que chega de um caderno, aparentemente “despejado” de uma mala e tivemos o momento de poesia da noite. Só palavras, sem música.

“I Took All Of My Rings Off” marca a transição deste plateau no centro do recinto para o palco principal, onde cai finalmente a tela do vídeo. Não só vemos como sentimos a banda que a acompanha.

Segue-se mais uma hora e meia de rock poderoso, que viaja dos tempos mais antigos com os grandes êxitos “I Feel It All” ou “1234” de The Reminder (de 2007) a “Hiding Out in the Open” ou “In Lightning” do mais recente trabalho. Trouxe uma verdadeira descarga elétrica a este segundo ato.

Lisboa foi a última noite desta digressão e a cantora despediu-se depois de dois encores: “Of Womankind” e “Love Who We Are Meant To” e depois “Gatekeeper” de volta à proximidade com o público.

Foi uma noite surpreendente, quase com dois concertos da mesma artista. Registos diferentes que encontraram complementaridades no grande reino da Arte.

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