Seria impensável não usar a “Pronúncia do Norte” numa noite que se vestiu de invicta. O Rock à Moda do Porto, numa organização da Vibes & Beats, aconteceu no dia 22 de outubro, na Arena Super Bock – Pavilhão Rosa Mota e foi “do carago”!
A difícil tarefa de inaugurar a noite coube aos Três Tristes Tigres, às 19h30, de um fim de tarde que convidava a casa e noite de pijama, tal era a chuva e o vento que fustigavam os intrépidos transeuntes. Porém, a construção de memórias fantásticas exige sacrifício e coragem: foi o que aconteceu na Arena – uma noite inesquecível, ímpar e extraordinária ao som do bom rock do Norte e de bandas que deram, dão e darão cartas no panorama nacional. Nas palavras de Pluto : «Vamos ver o sol / Ver o mundo a morrer / Lá fora não nos faltam filmes para ver e fazer».
A inconfundível Ana Deus e os Três Tigres Tigres, “entre o poético e o corrosivo”, brindaram o público com alguns dos temas do novo albúm Mínima Luz, editado no ano 2020, como “Curativo” e “Estado de Espiríto”. Na algibeira alguns sucessos de Guia Espiritual, 1996 e Comum, 1998, que o público não esquece.
A grande Manuela Azevedo mostra em palco a garra de mulher do Norte e, entre a energia dos seus saltos e das suas danças, aliada a um voz única, um carisma hipnótico que prende (e cativa) o público, do primeiro tema “Armário”, do álbum Véspera, lançado em 2020, ao último “Fahrenheit”, de Lustro, 2000, os Clã receberam algumas das maiores ovações da noite.
O espetáculo “roqueiro”, com temas como “GTI” e “Tira a Teima”, dá lugar a «uma música mais calma para recuperar o fôlego», confessa a vocalista, que «isto do rock dá cabo de uma mulher de 52 anos». Vejo-me obrigada a discordar (estou certa que todos aqueles que estiveram no pavilhão concordarão comigo!) e dizer apenas que “a mulher de 52 anos continua a dar cabo do rock!”. E de que forma tão sublime!
Seguem-se temas do vasto repertório dos Clã, pontuado com alguns temas de outras bandas, como “Deus me dê Grana”, dos Dead Combo ou, num registo completamente diferente, “O Navio Dela”, de Manel Cruz. De “A Paz Não Te Cai Bem” ao “Problema de Expressão”, passando pelos temas “Tudo no Amor”, “Dançar na corda bamba”, “Asas Deltas” e “O Sopro do Coração” os Clã trouxeram «outra cor aos olhos».
Passavam 20 minutos das 22h00, quando os GNR subiram ao palco do “Rock à Moda do Porto” e o “sui generis” Rui Reininho, numa noite inspirada e inspiradora, falou dos «125 paus do Costa», do género «pop e rock ou rock e pop» da banda e trouxe ao palco uma bandeira errada, numa alusão ao espetáculo de Anitta no Rock in Rio.
Já o Rock à Moda do Porto dos GNR fez-se dos inúmeros sucessos intemporais da banda que festeja 40+1 anos de carreira. No alinhamento “Aos 16”, “Vídeo Maria”, “Cadeira Elétrica”, “+ Vale nunca”, “Usa”, que o público sabe de cor. Segue-se a incontornável “Pronúncia do Norte”
E as teias que vidram nas janelas
Esperam um barco parecido com elas
Não tenho barqueiro nem hei de remar
Procuro caminhos novos para andar
Rui Reininho e os GNR sabem percorrer caminhos antigos, ao som de “Nova Gente”, do álbum Psicopátria, 1986 e, ainda assim, encontrar novos caminhos, com temas como “Quero Que vá tudo pro inferno”.
A noite segue, com temas como “Morte ao Sol”, “Las Vagas” e “Efectivamente”, com a banda a abandonar o palco, para um regresso ovacionado ao som de “Sangue Oculto” e do ícone “Dunas”, do álbum Os Homens Não Se Querem Bonitos, 1985.
Os GNR são Porto e são Rock: uma simbiose perfeita do que o Rock à Moda do Porto deve ser – e foi!
Sobem ao palco, pelas 23h45, os Zen, para um espetáculo completamente alucinante e Rui Silva, aka Gon, foi, uma vez mais, um verdadeiro animal de palco, com uma energia inesgotável, ao som dos temas do álbum The Privilege of Making the Wrong Choice, 1998 e reeditado em 2018, com “Trouble Man” e U.N.L.O. (The Urgency Of The Need Lingers On) a levar a Arena ao rubro.
A fechar a noite os Pluto, a banda de Manel Cruz e Peixe. Que dizer? O vocalista nunca desilude: nos Ornatos, nos Pluto, nos Supernada ou a solo, Manel Cruz nasceu para o palco e para o rock. A banda revisita os temas do seu primeiro e único álbum Bom Dia, 2004, como “Só Mais Um Começo”, “Entre Nós” ou “Bem vindo a Ti” e, ainda, alguns originais que nunca foram editados.
Estamos de volta ao teu bom humor
Sempre essa ideia na mente
É para lembrar o motivo
É que hoje eu sinto-me vivo
E seja porque motivo for
Porque motivo for
Por cá, e contrariando o último verso da música “Só Mais um Começo” («Eu não sei o que eu quero e é por isso que eu procuro»), a procura terminou, porque o segredo de uma boa noite de música, de uma boa noite de rock, foi ontem desvelado: nas bandas e nas gentes do Norte, numa primeira – de muitas espera-se – edição de Rock à Moda do Porto.
