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O Sol Da Caparica 2025 – O Hip Hop Tuga Em Noite De Festival Cheio

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Plutónio - Sol da Caparica

Primeiro dia, primeira casa cheia. Trinta e cinco mil pessoas a preencher o Parque Urbano da Costa da Caparica e a sentir o mesmo calor. O Sol da Caparica abriu as portas e, num sopro, esgotou. No cartaz, três pesos pesados da língua e do beat nacionais: Julinho KSD, Dillaz e Plutónio. A certeza de que o hip hop tuga não é apenas uma moda: é o idioma oficial de uma nova geração. Cada um com o seu sotaque, o seu pulso e o seu código, mas todos a falar diretamente ao coração (e ao telemóvel) dos mais novos.

Houve cruzamentos e cumplicidades a marcar a noite. Julinho KSD saltou para o set de Dillaz para largar “Nota 100” e, mais tarde, Dillaz devolveu a visita, recebido com euforia, no horário de Plutónio para disparar “Alô”. No palco, a teia foi-se tecendo como um bordado de beats e vozes; cá em baixo, a plateia respondeu como quem sabia de cor cada ponto dessa malha.

Neyna

A tarde ainda estava a ganhar sombra quando Neyra abriu o palco principal. Vinda de Cabo Verde, a artista estreou-se no Sol da Caparica com um alinhamento em que a kizomba corria como água morna sobre areia.

Neyna - Sol da Caparica
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Um sorriso tímido, mas seguro, e um “primeira vez no Sol da Caparica” que soou como quem entra numa sala cheia e sabe que vai ser bem-vinda.

David Carreira

Depois, branco sobre branco, David Carreira ocupou o palco como quem chega a casa. Colete com ombreiras largas, quase tivemos uma visão de Michael Jackson filtrado pelo século XXI. “Forte aplauso para os mais galácticos. Já não venho ao Sol da Caparica há seis anos, mas venho muito a estas praias, a família toda é desta margem. Estamos em casa. Posso dizer que a vista daqui está linda! ”
Lançou de seguida o primeiro desafio: “Há homens hoje? Há mulheres hoje?”. Pediu aos homens que cantassem para as mulheres “Anda comigo”.
As referências a um momento Coldplay vieram com a entrada um um cameramen em palco, para uma liveinsta, para a qual pediu sorrisos e telemóveis a fazerem constelações improvisadas.

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Desceu ao fosso para cantar com as fãs, e convidou o público a ajudar em “Tu e eu”. Recuou depois até ao tempo dos Morangos com Açúcar para recordar “Só Tu”, escrita ainda com cheiro a adolescência. A meio, trouxe a família ao palco: a mulher e o filho Lucas, sorriso de quem sabe que joga em casa. “Festa” parecia ser o fecho perfeito, mas o concerto terminou de forma brusca quando os bombeiros entraram para socorrer alguém na plateia.

Julinho KSD

Julinho KSD pegou no fio da noite com energia e ginga. “Hoji Sa Tá Vivi” fez o chão tremer. Pediu luzes no ar para “Hoji n’ka tá rola” e mostrou que “Sometimes” (do ano passado) já é hino. Chamou Bluay para “Faz bem” e ouviu o público gritar “2725” como quem diz um código secreto.

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Julinho KSD, com raízes cabo-verdianas, trouxe uma lufada de ar fresco ao hip-hop tuga com o seu estilo único, misturando crioulo, português e até uns toques de inglês.

Sabi na Sabura é uma obra-prima que não só bateu platina como mostrou a alma de um artista que vive cada verso com paixão. É um storyteller que carrega a cultura lusófona no peito e faz qualquer um dançar e sentir.

Fechou com dois murros certeiros: “Sentimento Safari” e “Crioulo”.

Dillaz

Seguiu-se Dillaz, o rapaz de Alcabideche que, com a língua afiada e o coração na boca, transformou o Sol da Caparica num mar de mãos no ar e cabeças a balançar. André Filipe Chapelas Neto, nascido a 5 de maio de 1991, é um contador de histórias que faz do hip-hop tuga um espelho da alma e da rua.

A noite começou com “O Clima”, como quem abre as portas de uma casa onde todos são bem-vindos. O beat, denso e envolvente, trouxe o público para o centro da narrativa de Dillaz. “Caparica” estava na ponta da língua, do artista, que não se cansou de o repetir numa clara aproximação a que o acompanhava esta noite.

Quando “Não Sejas Agressiva” ecoou, o ambiente mudou de tom e o flirt descomplicado da letra trouxe um brilho cúmplice aos olhos do público. Dillaz, com o carisma de quem sabe o que faz, comandava o palco como um maestro de rua, misturando introspeção e descontração. Depois vieram “Hennessey” e “Colãs”, e aí ninguém ficou parado. Com os pés a marcar o ritmo, o calor da noite parecia subir com cada verso cuspido com precisão.

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O ponto alto, porém, veio na despedida. “Saudade” caiu sobre a plateia como uma confissão sussurrada, um momento de pausa que parecia dizer tudo. Mas Dillaz não é de deixar o público a meio gás. “Habibi” e “Mo Boy” entraram em cena como um novo salto de energia, a deixar a Caparica sem fôlego, com os graves a pulsar no peito e a multidão a pedir mais.

Plutónio

Quando Dillaz deixou o palco, houve apenas tempo, para o público se juntar ainda mais frente ao palco principal.

O concerto de Plutónio abriu de forma inesperada e íntima, com a filha Francisca ao violino a desenhar as primeiras notas, antes do rap tomar conta do palco. Plutónio entrou como quem acende outra fogueira na mesma noite, sem pedir licença, mas com aquele sorriso cúmplice de quem conhece cada metro daquela plateia.

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Trouxe ao Sol da Caparica as deixas de quem sabe lidar com multidões: “Quero a ajuda de toda a gente para fazer uma festa do cacete” e “Até vou tirar os óculos, que é para ver toda a gente”. De “Lucy Lucy”, “País das Maravilhas” a “Casa Melhor”, passando pela reflexão em “Verdade é ilusão”, foi puxando fios entre os temas mais antigos e o mais recente álbum Carta de Alforria. A filha Francisca regressou ao palco, agora de guitarra em punho, para acompanhar o pai em “Acordar”. Foi recebida com um carinho que encheu o espaço como um aplauso prolongado.

Os tiros foram certeiros, medidos pelo entusiasmo do público, com “FDP” e “Por enquanto”. Ainda ensinou geografia com “Mapa Cor-de-Rosa”, lançou “Deja Vu” e pediu luzes no ar para “Meu Deus”. Quando disse “Última vez”, não era só a música, era mesmo a forma certa de puxar ainda mais por um público que não se cansou de o acompanhar.

“Cafeína” foi o último gole da noite. Intenso, viciante e impossível de deixar a meio. Ao soar, o Sol da Caparica despediu-se com a energia no pico, como se ninguém quisesse ir embora.

Esta edição, a decisão de encerrar a noite com o último artista apenas no palco principal trouxe um efeito colateral difícil de ignorar: à hora da despedida, o festival transformou-se numa maré humana a tentar sair em simultâneo. Um final concentrado, mas que trocou a fluidez pelo caos.

O Sol da Caparica volta hoje a abrir portas, com o seguinte programa:

Dia 15 de Agosto de 2025

Palco Sagres
18h00 – Bia Caboz
19h15 – Matias Damásio
20h45 – Menos é Mais
22h15 – Nininho Vaz Maia
00h00 – Richie Campbell

Palco Bandida
17h15 – Mariana Pereira
18h00 – VINYL
20h00 – Miguel Carmona
21h30 – Chá de Funk
23h30 – Deejay Rifox

Palco Digital / Anfiteatro
17h00 – Plágio

Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais, pelo valor de 30, 41 euros (bilhete diário).

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