
Com a apresentação da trilogia de vinhos Hot Lips, The Grape Escape e In The Flesh, que traduzem a aliança entre a vinificação e a ficção inspirada em pulp fiction, aqui mais no sentido de literatura de cordel fértil em policiais e personagens complexas, o mercado ganha uma nova forma de ver o mundo vínico, com arte e fora da “caixa”, numa quebra do convencional, ainda mais quando se fala de vinhos DOC Douro.
A ilustração das três garrafas de um litro cujos rótulos se apresentam como capas de livros, repletas de design, de pop art e de referências às publicações que animaram os Estados Unidos e a Europa durante a primeira metade do século XX são obra de Mário Belém e o conteúdo, uma criação do enólogo João Menezes da Quinta do Pôpa.
HOT LIPS tinto 2012 . DOC Douro
Querido, este vinho não é o que estás a pensar.
Uma história que tanto sussurra segredos, como uiva de prazer, com um argumento de faca na liga, de corpo redondo, com sangue e lágrimas. ‘Hot Lips’ é um vinho quente que apresenta intensidade na fruta vermelha, o que o torna logo irresistível. Na boca tem uma entrada suave com um tanino fino e elegante. É um vinho jovem com tendência para muita frescura. A sua harmonia frutada faz dele um vinho apetecível no nariz e guloso na boca. Acompanha com galhardia pratos mais tradicionais, sem exagero nas especiarias.
IN THE FLESH tinto 2012 . DOC Douro
Atenção! Este vinho é um pedaço de mau caminho.
Uma freira, Severa, com vários pecados e (menos) castidade são os ingredientes para a história que acompanha este vinho. ‘In The Flesh’ é um caso sério, mais adulto que o comparsa ‘Hot Lips’. No nariz apresenta fruta madura e alguma complexidade. Fez um estágio em barrica o que deixou marcas no corpo e um aroma final a especiarias. Na boca apresenta um tanino intenso, mas que resulta equilibrado na concentração e na graciosidade. ‘In The Flesh’ foi escrito para evoluir bem em garrafa e nunca perder o faro perante pratos de caça.
THE GRAPE ESCAPE tinto 2012 . DOC Douro
Este vinho é um assalto em frente. Copos ao alto!
A história segue os ditames habituais de um policial noir: um larápio, uma femme fatale e uma fuga (não para a frente). No que toca ao nariz, os aromas andam, a monte, próximos do mato, um sintoma da evolução em barrica. Na boca apresenta um bom tanino e alguma acidez. ‘The Grape Escape’ é um vinho com estrutura, mas também fresco, onde a fruta aparece meio de surpresa, fruto do aquecimento pela boca. Um tinto que tem a arte de roubar os sentidos, própria do antigo Douro. Cúmplices insuspeitos: enchidos, fumados, queijos de cabra e ovelha.
Sem dúvida, um projeto irreverente, com um toque de romantismo, numa ligação estreita com os mundos da arte e do design.
E porque não existe arte com amarras, os Pôpa Art Projects são para partilhar sem qualquer moderação, como uma boa conversa. A identidade gráfica nasce precisamente das marcas circulares de dois copos que se cruzam e passam, assim, a ver o mundo com outro ponto de vista, another point of view, o mote de todo este projeto.
Reportagem de Marta Plácido