Ao final da segunda noite, quando os Jungle pisaram o palco do Coliseu de Lisboa, havia público até às galerias pronto para dançar ao som do funk desta banda. Antes descobriu-se novas sonoridades pelos palcos do festival Super Bock em Stock, distribuídos na Avenida da Liberdade.
Chegar cedo ao recinto do concerto, que se quer mesmo ver, é obrigatório neste festival. Muitas das salas não têm capacidade para acolher todos os que têm bilhete. O Capitólio, palco cuja sonoridade incidiu sobre o hip hop foi um desses casos. Masego, na primeira noite e Rejjie Snow, na segunda, foram claros exemplos disso. Com o espaço lotado, a fila de pessoas à espera, para entrar, chegava ao portão do Parque Mayer.
Houve aqui espaço também para ouvir novos talentos, como Lolo Zouai ou os portugueses Lazy, SP Deville, Pedro Mafama e NGA.
Na primeira noite, foram muitos os saudosistas dos The Smiths que marcaram presença no Coliseu de Lisboa para ouvir Johnny Marr. O antigo guitarrista da banda continua, com carreira a solo, mas integra ainda no alinhamento alguns dos grandes êxitos que compôs e que o colocaram na história da música. Não desiludiu e ao segundo tema brindou o público com uma das mais conhecidas: “Bigmouth Strikes Again”. Sentiu-se a energia dos anos oitenta no ar, que se voltou a agitar quando soaram os acordes de “The Headmaster Ritual”. Johnny Marr trouxe também temas mais recentes, dentro do rock, como “Day in Day Out” e “Easy Money”, mas provou que sua música se desenvolveu no sentido da eletrónica, ao tocar uns temas mais disco. Fechou com chave de ouro, a deixar até vontade de que continuasse mais algum tempo, com o clássico “There is a light that never goes out”.
De seguida, os Capitão Fausto provaram que são uma das bandas mais consensuais do momento, com o Coliseu a vibrar com os temas da banda de Tomás, Salvador, Francisco, Manuel e Domingos.
A outra estrela do festival foi Conan Osíris. O Teatro Tivoli BBVA foi pequeno para acolher a multidão que queria assistir à performance do fenómeno musical nacional do momento. Uma formula que combina, com muito humor, elementos da cultura portuguesa e as preocupações dos jovens, hoje em dia. “Eu queria uma playstation/ já pedi ao meu padrinho/ eu queria uma playstation/ só para não me meter no vinho”. O personagem criado por Tiago Miranda é um sucesso e já bem conhecido do público que, cedo se pôs de pé para cantar e dançar os seus temas. “Eu é que sou borrego” cantou a plateia em coro insano.
A música portuguesa ocupa grande parte do cartaz e uns dão a conhecer o seu trabalho, outros novos trabalhos e parcerias. Manuel Fúria e os Náufragos foi um dos que preparou um espetáculo especial, em que dividiu – a pouca – luz com Samuel Úria, Márcia e Miguel Ângelo.
Encontrámos também uma efusiva Lena D’Água, no Teatro Tivoli BBVA, que se juntou a um grupo de músicos, a banda Xita, liderada por Primeira Dama, nas teclas e voz.
Na Casa do Alentejo, Fogo Fogo incendiaram com o seu funaná e música de baile de festa africana. O mesmo aconteceu, pela mesma hora, mas no dia seguinte, com a atuação de Dino D’Santiago. Pela reduzida lotação do espaço, a música cabo-verdiana só chegou a quem veio marcar presença muito antes do início do concerto.
Tivemos ainda oportunidade de constatar que o talento está a atravessar o país, ao ouvir o Conjunto!Evite, os Birds Are Indie, Éme, April Marmara e Zé Vito, que conquistaram as diferentes plateias onde atuaram.
O festival Super Bock em Stock é o espaço ideal para apresentação de novos estilos, uns já com longa carreira, outros a dar os primeiros passos, mas sempre surpreendentes.
Foi o caso do violino de IAN, a harmonia dos The Saxophones, o som etéreo de Still Corners, o registo cru de Soak, os samples das U.S Girls, as vibrações de Lo-Fang, ou o sintetizador de Beja Flor.
Com a chuva, na segunda noite, foi em menor número, os que arriscaram descer ao palco na Estação do Rossio. Uma viagem que se revelou compensadora, para quem teve oportunidade de ouvir o concerto de Elvis Perkins, o cantor e compositor americano. Com canções simples, dedilhadas com a guitarra, Elvis deu a conhecer o seu ambiente emotivo. Com mais energia, foi o concerto, na noite anterior, de The Harpoonist & The Axe Murderer. Uma folk a pisar o funk.
Esta edição deu a conhecer um novo espaço, o bar do Maxime. Num ambiente de cabaret, ali nos deixámos envolver na poderosa voz de Anabela Aya, um dos nomes emergentes da musica Angolana.
O espírito de descoberta de espaços e sonoridades em Lisboa, manteve-se vivo neste festival Super Bock em Stock. O cartaz aberto a vários estilos e gerações permite que um mesmo bilhete sirva para dançar de forma descontrolada ao som do mais duro hip hop, como absorver, no conforto de uma poltrona, as novas sonoridade indie.




















