O festival Vilar de Mouros continua na pacata freguesia de Caminha e já vai com três dias cumpridos. O dia 23 de agosto teve em palco Capitão Fausto, Crystal Fighters, Ornatos Violeta e Die Antwoord.
O terceiro dia do festival arrancou com Sulfur Giant, uma banda de stoner blues que, apesar da pouca gente que se via a esta hora no recinto – 18h30 – deram um concerto de poucas, ou quase nenhumas, palavras e composto por instrumental. Até agora, a banda com mais potencial na abertura do festival.
Capitão Fausto foram os seguintes a pisar o palco de Vilar de Mouros e enfrentaram um público inicialmente tímido, mas que se soltou ao longo do concerto.
Sendo esta a terceira vez a tocar neste festival – a primeira foi há 10 anos – a banda apresentou o mais recente projeto, Subida Infinita, com canções como “Na Na Nada”, “Muitas Mais Virão” e “Andar à Solta”. No público, os festivaleiros cantarolavam as letras, os sons da guitarra e do piano, sendo que o entusiasmo cresceu, visivelmente, em músicas como “Faço as Vontades”, “Morro na Praia”, “Lentamente” e “Amor a Nossa Vida”, de álbuns anteriores.
“Brindem com os vossos amigos, dancem e aproveitem este momento” diz Tomás, vocalista, de óculos de sol pretos, vestido de branco e com a sua guitarra verde-água e branca. É um cantor com pinta, com uma voz já inconfundível e que sobressai, ainda mais, quando se ouve ao piano.
O concerto aproxima-se do fim e o recinto está mais preenchido, com fãs que cantam cada letra. Tomás pergunta se “está tudo bem”, o público responde e, sorridente, Tomás volta-se para a audiência e afirma “parecem-me bem, simpáticos e bonitos. Divirtam-se”. E os festivaleiros assim o fizeram. “Amanhã estou melhor” destaca-se pelo maior coro de todo o concerto, e “Teresa” e “Boa Memória” encerram este espetáculo
Com um percurso de realçar, os Capitão Fausto são já uma referência na música indie, indie rock e indie pop em Portugal, servindo de inspiração para vários artistas que vamos ouvindo hoje.
Perto das 19 horas e 15 minutos, o palco estava equipado para Crystal Fighters, com flores e plantas agarradas aos microfones e aos tripés e um fundo de cores vivas.
A boa energia instalou-se quando os membros do grupo entraram em palco a saltar, de sorriso rasgado e em festa. Têm um ar muito hippie, roupas padronizadas e cheias de cor; a música é eletrónica, com letras de esperança e amor e melodias memoráveis. E o público? O público sabe as letras, está entusiasmado e retribui com a mesma energia.
Crystal Fighters são uma banda anglo-espanhola, com um instrumental muito diferenciado e, em Vilar de Mouros, foram dignos do palco e dos aplausos obtidos. Em resposta, o vocalista Sebastian Pringle, olha para a plateia e descreve “que bonitos estais”, com um sotaque entre o português e o espanhol. Foi um concerto de mensagens necessárias – “We Got Hope” e “Love Is All I Got” – e com um público energético, que se fez ver e sentir.
Já de noite, os Ornatos Violeta regressaram a Vilar de Mouros após um ano, para continuar a celebrar os 25 anos do álbum O Monstro Precisa de Amigos. Trouxeram, com eles, o quarteto de Cordas Solistas da Casa da Música que têm vindo a atuar com a banda nestes concertos de 2024.
“Coisas” deu o mote para iniciar este concerto, com o recinto mais revestido, ainda que tímido. Seguiu-se “Para Nunca Mais Mentir”, “Pára de Olhar Para Mim” e “Tanque” e, talvez por não conhecerem, o público não tem a reação digna destes momentos. É apenas em “Dia Mau” que os festivaleiros se fazem ouvir – e bem.
Manel Cruz, já sem camisola e na personagem monstruosa que é em palco, dirige a banda e deambula no palco, sorridente e simpático, acena e interage com a plateia, que atinge o culminar da loucura quando ouve “Ouvi Dizer”, um clássico da sua discografia e da música portuguesa. Agarram-se os amigos, erguem-se os telemóveis e escorrem as lágrimas nos mais emotivos. É um momento digno de fotografia. Para manter o público neste êxtase, Manel canta “foi como entrar, foi como arder” e é imediata a reação na plateia. “Chaga” foi, possivelmente, o momento de mais delírio.
“Capitão Romance” seria o ponto final deste concerto se a banda não fizesse a brincadeira do costume. Saem do palco, esperam pelos aplausos e regressam para mais três músicas – “Devagar”, que cantou na sua guitarra, “Fim da Canção” e “Para-me Agora”. Ninguém quis parar, nem no palco, nem no recinto. “Até sempre”, diz Manel, com os olhos a brilhar, um sorriso gigante, concretizado. Este palco é deles, e eles mostraram-no.
O último concerto da noite foi um fenómeno estranho. Die Antwoord subiram ao palco à meia noite e meia, mas deixaram a sensação de que eram cinco da manhã. Para explicar este concerto é de referir que Die Antwoord é uma dupla de rap rave de África do Sul, com sons de hip-hop, psicadélico e eletrónica, composta por Ninja e Yo-Landi Vi$$er. Apresentaram-se, na noite de ontem, em Vilar de Mouros, e em Portugal, pela primeira vez.
No palco, uma plataforma alta e comprida, servia de mesa para o Dj que os acompanhava. Atrás, o público estava confuso e evidentemente disperso, sendo que o da frente, junto ao palco, vibrava com cada momento do concerto. Houve, ainda, quem soubesse as letras das músicas. Foi a antítese perfeita que pode acontecer, e acontece, nos festivais, onde uns conhecem e adoram, enquanto outros agarram as mochilas e vão embora.
Ainda assim, presenciou-se, em Vilar de Mouros, um momento de devoção a esta dupla, que fez do público o que quis, e este, sem refutar, aceitou e viveu, intensamente, cada segundo do espetáculo. Não foi preciso esperar para ver, bastou a primeira música entrar para se observar o suor, a poeira e a alegria – não muito contagiante aos mais acanhados – dos festivaleiros.
“I Fink U Freeky” foi um dos momentos de maior demonstração de apreço à dupla, que referiu, num longo discurso, que se quer mudar para Portugal. É o que dizem todos e nunca ninguém o cumpre. Assim também é melhor, fica sempre o fator surpresa – bom ou mau – a pairar no ar.
