César Mourão estreou-se nos concertos, com o seu disco de estreia Talvez Não Seja Nada. A Super Bock Arena, no Porto, recebeu, no dia 28 de abril, o concerto do multifacetado artista, que contou com as presenças de Miguel Araújo e Juliana Anjo.
As primeiras imagens do cenário exibem o César Mourão, na pele de condutor de autocarros e ao som dos primeiros acordes, as legendas no topo da imagem são uma jogada de mestre.
O alinhamento começa no “Moço de Recados”, para uma entrada a pés juntos, no mais conhecido tema do disco “Cavalinho de Baloiço”. O tema “Odete” fecha o trio inicial de músicas.
Entretanto, César Mourão já confessou que é nos intervalos das músicas que se sente «como peixe dentro de água». Agradeceu a presença do público e pediu desculpas àquelas que tinham comprado bilhete sem saber ao que vinham, é que, «às vezes, as coisas correm mesmo mal. Paciência!»
Os dez temas do disco não são todos pérolas – mas raramente um cantor consegue lançar um álbum em que todos os temas sejam verdadeiros sucessos. Ocorrem-me nomes como “Mingos & os Samurais”, “Pássaros do Sul”, “Crónicas da Cidade Grande” e “Viagens”. Haverão outros, certamente. Mas lançar um disco com dez sucessos no top de preferências não é fácil. Porque haveria o César Mourão de conseguir tal feito? Ou melhor, porque haveriam pessoas a exigir que o fizesse?
O espetáculo Talvez Não Seja Nada é singular e belo, não pela exímia qualidade de todos os temas, mas por tudo aquilo que os temas representam, por momentos musicais que justificam a presença do público, pela genuinidade e talento do César Mourão e da banda que o acompanha, por uma mão cheia de grandes momentos, com um “arrepio na pele” e uma “lágrima no canto do olho”.
Um dos momentos épicos vai, exatamente, para a “Balada dos Meus Avós”, numa magistral interpretação de César Mourão e de Juliana Anjo, com imagens de foto familiares antigas a passar no ecrã e um dueto fantástico. Não sou crítica musical, nunca pretendi sê-lo, com análises aos graves, aos dós ou aos semitons, que os especialistas teimam em dissecar, quando, na verdade, a música é emoção, polvilhada com gosto pessoal e lembranças.
César Mourão, e que certamente, aconteceu a muitos de nós (nascidos no século passado e adolescentes nos espetaculares anos 80 e 90), admitiu ter gostado toda a vida de música popular brasileira, mas ter vestido, na adolescência, as tshirts dos Metallica ou dos Iron Maiden e ostentado um falso favoritismo rock, numa idade em que ser diferente ou gostar de músicas diferentes valia «levar com uma pedra da calçada nos dentes».
Esta é a melhor imagem ou comparação que consigo fazer em relação ao espetáculo Talvez não seja Nada: os críticos vão dizer que o César deveria ficar pelo stand up ou pela apresentação/representação, mas no cantinho de casa, onde se despem as aparências e se veste a humanidade, vão procurar a “Balada dos Meus Avós” e emocionar-se como eu.
O rol de músicas continua, com a presença de Miguel Araújo em palco, a acompanhar no baixo César Mourão, no tema “Talvez Não Seja Nada” e cantar em dueto o tema “Alice”, única música do álbum que não foi escrita e composta por César Mourão, mas precisamente por Miguel Araújo.
Violinos, violoncelos e trompete soberbamente tocados pelos músicos, dão-nos uns minutos de felicidade, entre as músicas do álbum Talvez Não Seja Nada e dois temas brasileiros, entre eles o “Cajuína”, de Caetano Veloso.
O fim do espetáculo conta com a canção “Só a Rita Tem Medo de Mim” e o tema “Savoir-Faire”, que na verdade deveria simplesmente chamar-se “Já Não Tenho Cú Para Vos Aturar”.
A despedida do cantor e as palmas do público são indicadores de como a noite correu bem. Eu achei que sim! E, no encore, por «uma parte do espetáculo que ninguém do público pagou», “Dolores, Dólares” de Anita Tijoux. E no fim, outro grande momento, que soma o incrível discurso de César Mourão ao enorme tema “Não Queiras Saber de Mim”, de Rui Veloso.
Mesmo que “Talvez Não Seja Nada”, o espetáculo na Super Bock Arena está longe de não ter sido nada. Ficamos à espera do livro!
